Dinheiro do PAC é teste de companheirismo
Edição 18 de fevereiro de 2025 Edição impressa

Quarta-Feira9 de Abril de 2025

Opinião

Jarbas Tomaschewski

Jarbas Tomaschewski

Coordenador Editorial e de Projetos do A Hora do Sul

Dinheiro do PAC é teste de companheirismo

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Na véspera de completar 100 dias de governo, o prefeito Fernando Marroni (PT) baixou na mesa do Paço Municipal sua principal carta. Ao apresentar à União 19 projetos que se aproximam dos R$ 600 milhões de investimentos, irá testar o trânsito junto à equipe do presidente Lula (PT), que apareceu e foi citado na campanha eleitoral de 2024 como alguém que poderia ajudar Pelotas.

Não se deve esperar privilégios porque lá e aqui tremulam a mesma bandeira do partido. Não haverá o atendimento de 100% dos pedidos. Pode-se, sim, sonhar com algo a mais. Brasília recebeu 35.119 propostas de 5.537 municípios (99,4%) brasileiros para obras financiadas pela nova edição do Programa de Aceleramento do Crescimento (PAC), muitos também governados por siglas alinhadas à esquerda, com a mesma expectativa de serem selecionadas. E tantos outros que, dentro do espírito federativo, esperam ser atendidos.

Amizades e influências sempre andam de mãos dadas na política. Abrem portas e encurtam caminhos. No caso do prefeito Marroni, ele nunca escondeu que, se eleito, a identificação ideológica com o governo federal seria um facilitador na hora de conversar e discutir ajuda. E essa similaridade chega agora com um pedido expressivo: R$ 589,9 milhões. É o recurso mais “fácil” hoje para o município acessar sem comprometer as combalidas contas públicas.

Os R$ 49,2 bilhões previstos pelo Novo PAC em saúde; educação; ciência e tecnologia; infraestrutura social e inclusiva, e cidades sustentáveis e resilientes têm o selo das eleições de 2026. A análise das urnas e a queda recorde da popularidade de Lula terão impacto no direcionamento dos projetos contemplados. Ingenuidade é pensar o contrário. Nesse quesito, o Nordeste – que passou a torcer o nariz para o presidente nos últimos meses – leva enorme vantagem. Pelotas pode até colher alguns frutos por ser a casa de mais de 200 mil eleitores e referência regional.

O PAC também ilude. É demorado para sair do papel. Na metade do ano passado, a prefeitura anunciou projetos importantes contemplados: a construção das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) Engenho e Simões Lopes, no valor de R$ 138,2 milhões, com contrapartida de R$ 12,6 milhões pelo Sanep. Por enquanto, o compasso é de espera. O Executivo encaminhou na última quinta-feira à Câmara de Vereadores pedido de financiamento para as ETEs. Também vale lembrar: ao ser relançado em 2023, o Programa de Aceleração do Crescimento tinha na sua gaveta mais de 14 mil contratos paralisados, apontou uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). Ou seja, é bom para a propaganda política, mas entre o anúncio e a obra existe um hiato gigantesco.

Marroni fez o movimento de xeque no tabuleiro. Se avançar para o xeque-mate terá os méritos. Se “perder”, precisará absorver e pensar num plano B, C ou D. O mais provável é que conquiste dinheiro para parcela dos pedidos, que não poderá ser menos que sua antecessora, a ex-prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), garantiu com Lula. Essa é a régua para testar o peso do companheirismo.

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