Famílias, educadores, terapeutas e apoiadores de autistas participaram da caminhada que encerrou a 12ª Semana Municipal de Conscientização sobre o Autismo. A ação promovida pela Associação de Amigos, Mães e Pais de Autistas e Relacionados com Enfoque Holístico (Amparho) ocorreu no final da manhã deste sábado (5) e cobriu de cores, com predominância do azul, o calçadão da Andrade Neves até o Mercado Central, trajeto da atividade.
A concentração foi no calçadão, próximo a rua Voluntários da Pátria, de onde centenas de pessoas saíram em direção ao Mercado. “Queremos conscientizar as pessoas sobre o autismo”, fala a diretora da Ong, Eliane Bitencourt.
De acordo com a organização do evento, a realização da Semana Municipal de Conscientização é um momento em que todos os olhares estão voltados para a causa, por isso esse período é muito importante. “Queremos mostrar que nós estamos na rua, que nossos filhos estão na rua e podem estar em todos os lugares que eles quiserem”, fala Eliane.
Feliz com o apoio da comunidade à caminhada, Eliane lembra que antes essa ação reunia bem poucos, agora com o engajamento das escolas, o número de apoiadores se multiplicou. Pelotas tem 575 famílias de autistas integrantes da Amparho, porém a diretora acredita que o número de autistas no município passe de cinco mil. “Só de Cipteas que a gente tem recebido pelo ciptômetro da Faders, temos mais de mil. Mas esse é um número subnotificado”, avalia. A Fundação de Apoio à Pesquisa, Ensino e Desenvolvimento em Saúde (Faders) é quem emite a Carteira de Identificação da Pessoa com TEA (Ciptea), que dá direito a prioridade no atendimento.
Preocupação com os mais velhos
Uma das preocupações da Ong é também criar um ambiente melhor para os autistas adolescentes e adultos. A diretora comenta que quando se pensa em autismo, a maioria das pessoas só imagina os primeiros anos de vida. “Autismo não tem cura e temos poucas políticas públicas para jovens e adultos”, comenta.
O filho de Eliane, Márcio Bitencourt, 20, é autista. “Passamos por diferentes fases desde o diagnóstico. O processo da adolescência é bem complicado. Márcio agora está na fase adulta, mas agora tem essas mudanças, que se pra nós é difícil, imagina pra eles. Mas a gente vai aprendendo uns com os outros”, fala.
Encontro emocionado
Emocionada a universitária Rosimeri Cruz, não conseguiu segurar as lágrimas ao encontrar com Eliane. Rosimeri é mãe do Vitor, que hoje tem 20 anos. Natural do Recife, a família foi acolhida pela Amparho, que ajudou muito nos encaminhamentos do menino que na época tinha sete anos. “A Amparho acolheu a gente de uma forma que eu não tive antes.”
O abraço e as lágrimas das mães celebrou também as boas notícias, já que a família agora mora em Florianópolis, Santa Catarina. Vitor cursa Ciências Sociais, na Universidade Federal de Florianópolis e foi aprovado no concurso dos Correios. “Ontem ele foi na sua primeira balada”, comemora orgulhosa Rosimeri a independência do filho.
Recursos escassos
“São muitos os desafios que a gente encontra. Até tu teres um atendimento adequado, muitas vezes a família não entende e tu tens que lutar por ele”, fala a professora da Viviane Schiavon, mãe do Valentim. O pequeno de sete anos está na escola e esse fato é uma grande vitória.
Viviane lembra que no início ele não conseguia ir para a escola. Forçar causava graves crises. Com muita dedicação da família e terapia, Valentim superou essa fase e agora frequenta a Escola Municipal de Educação Fundamental Garibaldi.
“Lá ele foi muito bem-acolhido”, conta Viviane. A professora diz que a acolhida ao autista, em geral, é muito satisfatória nas escolas, mas ela percebe que faltam recursos para que esse trabalho melhore ainda mais.