Em um mundo em que a tecnologia e as redes sociais transformaram a desinformação em rotina, as tradicionais pegadinhas de 1º de abril perderam a graça. A mentira, que antes era uma brincadeira, se tornou parte do cotidiano, e a revolução da inteligência artificial (IA) torna cada vez mais difícil diferenciar uma informação falsa da realidade.
A cientista social e política Elis Radmann, do IPO – Instituto Pesquisas de Opinião, avalia que as fake news entraram no cotidiano e aumentaram a desconfiança das pessoas. “Hoje, todo mundo se prepara todo dia, é como se tivéssemos com um sistema de proteção constante, as pessoas estão ficando desconfiadas”, explica.
Elis pontua que a falta de escolaridade aumenta o temor sobre a IA. “A IA está chegando na população não é a de ferramenta, é a que faz a mudança de imagens e vídeos. Isso faz com que a população de menor escolaridade tenha medo da inteligência artificial”, diz.
IA para enganar
A doutora em Informática na Educação e professora de Jornalismo da UFPel, Silvia Porto Meirelles Leite, chama a atenção para a capacidade da inteligência artificial utilizar características como a voz e a aparência de pessoas públicas, como políticos, jornalistas e artistas, para criar áudios e vídeos falsos e induzir o público ao erro. “Toda desinformação busca tirar vantagem sobre as pessoas. Seja financeira, política ou em questões de saúde”, resume.
Silvia cita como exemplo o áudio falso que circulou durante as enchentes de maio de 2024, em que um suposto bombeiro relata ter encontrado um bebê morto na água. “Tem todas as características de um áudio falso, porque pega a gente pela emoção. Esse áudio não tem uma identificação clara e o nome da pessoa que está falando”, afirma.
O que fazer?
A professora Silvia propõe que o momento é de educar as pessoas para duvidarem desses conteúdos e buscarem referências do que as ferramentas de inteligência artificial produzem. “Quando uma inteligência artificial nos entrega uma informação, tem que dizer de onde tirou aqueles dados”, afirma.
Sobre as crianças, Silvia diz que é importante incentivar a prática da escrita e artística. “Antes de apresentar essas ferramentas para as crianças, temos que ensinar a produzir seus próprios textos, suas próprias imagens, e deixar trabalhar o potencial criativo que só o ser humano tem”, conclui.
Na mesma linha, Elis Radmann afirma que o momento é de aprendermos a nos defender dos malefícios da inteligência artificial. “Depois, vamos ter que aprender a trabalhar com a IA porque em pouco tempo, vai estar inserida nos novos eletrodomésticos e equipamentos”, afirma.