A memória dos cinemas de calçada de Pelotas na palma da mão

Cultura

A memória dos cinemas de calçada de Pelotas na palma da mão

Acadêmica do bacharelado em Museologia cria aplicativo com a história das antigas salas de exibição, a partir do final do século 19

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A memória dos cinemas de calçada de Pelotas na palma da mão
Flora Jerozolimski identificou no app 22 salas de exibições em Pelotas. (Foto: Jô Folha)

Nascida em São Paulo, Flora Coelho Jerozolimski, 23, entrou pela primeira vez no prédio do antigo cinema no ano passado. “Foi um choque ver um patrimônio abandonado”, conta. O susto a motivou a revirar a história dos cinemas de calçada pelotenses e levar esse tema para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), que defendeu na quinta-feira no bacharelado em Museologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), sob orientação do professor Pedro Sanches. Mais do que uma dissertação, Flora apresentou um aplicativo para smartphone, à disposição de todos via sistema operacional Android, no qual ela compartilha dados importantes sobre as suas descobertas.

O aplicativo Cinemas de Pelotas desenvolvido por Flora propõe um resgate de memórias relacionadas às antigas salas de calçada. Por meio de informações, fotos e mapa o usuário conhece um pouco sobre essa história, que remonta ao final do século 19. “Pelotas foi um pólo gigantesco de cinemas. Um ano após a primeira exibição do cinematógrafo dos irmãos Lumière, em Paris, (o modelo) já estava aqui na Bibliotheca (Pública Pelotense). Tinha uma rota (cultural e tecnológica) que Pelotas fazia parte. É incrível pensar nisso. Tem muita história e eu sinto que ela está apagada”, comenta Flora.

Nos livros de história

No TCC intitulado Uma proposta de musealização: Os cinemas de calçada de Pelotas/RS (Séculos 19 e 20) em um aplicativo móvel, Flora apresenta, no primeiro capítulo, as conexões entre a Museologia e o Cinema. No segundo, aborda a história dessas casas de exibições, de 1895 até os dias atuais. A bacharelanda ainda criou um mapa, disponível também no My Maps do Google, mostrando a localização desses cinemas.

Encontrar essas informações não foi fácil. Ela só conseguiu avançar mesmo quando um professor da Faculdade de Educação emprestou à pesquisadora livros sobre a história de Pelotas. “Foram portas que se abriram, realmente eu consegui achar alguma coisa. Se não fosse isso… a informação é muito escassa, principalmente nessa parte de localização desses cinemas”, revela.

Flora conta que a primeira ideia era procurar esses vestígios nos museus da cidade, mas para sua decepção, não encontrou nada a esse respeito. Durante a pesquisa, ela encontrou fontes que apontavam a existência de mais de 30 cinemas de calçada em Pelotas. “O que é um número astronômico, para uma cidade que não é capital.” Consegui ainda informações apontando para a existência de aproximadamente 15 desses cinemas funcionando ao mesmo tempo, por exemplo.

Porém, a estudante não conseguiu confirmar o número de 30 salas. No aplicativo estão elencadas 22, a maioria com datas de abertura, fechamento e endereço.

O crescimento do número de salas ocorreu entre 1909 e 1920, quando surgiram muitas. Mas a partir da década de 20 as salas começaram a fechar.

Uma das coisas que chamou a atenção da acadêmica foi o mapa marcando onde cada sala ficava. “Cria uma linha quase que vertical no centro histórico desses cinemas. Um do lado do outro praticamente”, diz.

Flora ainda encontrou uma linha semelhante da praça 20 de Setembro percorrendo a avenida Duque de Caxias, como o extinto Cine Teatro São Rafael, que ficava próximo ao supermercado Peruzzo. “Dá para ver uma linha desses cinemas, porque são ruas de mais trânsito”, argumenta. O aplicativo ainda mostra que havia um cinema no Laranjal, o Praiano. “Esse foi um desses que eu descobri a localização por sorte”, fala.

Atualizações

O aplicativo tem bastante do segundo capítulo do TCC. O aplicativo ainda tem ilustrações da própria Flora. Mapas, Informações mais precisas sobre alguns desses cinemas, como lotação máxima, ano de abertura e fechamento e fotos. Há ainda uma aba de comentários, que será mediada pela criadora e até uma bibliografia.

A intenção de Flora é seguir alimentando o aplicativo. “Acho que essa é a graça de fazer uma coisa mais tecnológica, que é meio raro no meu curso, porque o aplicativo tem esse poder de atualização, a hora que eu quiser. É um trabalho que começa agora e vai adiante”, explica. Outra ideia de Flora é oferecer, futuramente, o App para PCs, tablets e notebooks.

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