Desde o início do mês sagrado para o islã, chamado de Ramadã, Hyatt Omar compartilha no Instagram a rotina realizando o jejum do nascer ao pôr do sol e a intensificação de orações. Com o propósito de desmistificar estereótipos e preconceitos, a pelotense usa a plataforma para produzir conteúdos informativos e de curiosidades sobre a cultura árabe e as tradições da religião islâmica, o que já atraiu mais de 189 mil seguidores.
Filha de palestinos, Hyatt, 26 anos, nasceu em Pelotas após os seus pais migrarem para o Brasil para ficarem mais próximos de familiares que já residiam no país. O primeiro idioma aprendido por ela foi o árabe, seguido pelo português, e desde a infância, ela equilibra a cultura árabe com a brasileira. Durante boa parte da vida acadêmica, até o final do Ensino Médio, a psicóloga estudou em escolas cristãs. Apesar das diferenças de costumes, a influenciadora diz nunca ter sofrido preconceito. “Tinha momentos difíceis, mas, em geral, o povo pelotense sempre foi muito receptivo”, diz.
Hyatt decidiu começar a compartilhar informações sobre a vida muçulmana e os costumes árabes palestinos após um vídeo dela sobre Nakba viralizar. Foram inúmeros comentários com perguntas sobre a Palestina. Diante disso, ela diz que se sentiu na responsabilidade de usar a sua voz para combater o preconceito com a sua religião e povo. “E é bem cansativo mentalmente porque muitas vezes eu tinha que estudar mais sobre a minha própria história para poder ensinar os outros e é uma história muito sofrida”, diz.

Jovem atua como psicóloga e influenciadora digital. (Foto: Jô Folha)
Hijab, Ramadã e muçulmano
Apesar de comentários com discordâncias a posição política de Hyatt, a maioria são de seguidores curiosos sobre as tradições muçulmanas, os casamentos, as vestimentas das mulheres, a culinária, entre outros. “Comecei a explicar sobre o hijab, o Ramadã, os pilares, o papel da mulher na religião. Foi tudo desencadeando, não foi muito uma escolha, mas mais um dever”.
Na série de vídeos “diário do Ramadan”, Hyatt mostra a rotina seguindo o jejum do mês sagrado islâmico. São centenas de comentários de seguidores que acompanham todas as postagens e têm curiosidade sobre a prática. A psicóloga também explica termos que costumam gerar confusão, como “muçulmano”. A palavra se refere a quem segue a religião islâmica, independente de sua origem étnica ou nacionalidade. Qualquer pessoa pode ser muçulmana, se desejar, sem necessariamente ser árabe. E nem todo árabe é muçulmano.
Muçulmanas
A mulher no islã é outro tema abordado por Hyatt para desmistificar estereótipos, como a opressão das muçulmanas pelos homens. Para ela, essa concepção formada no ocidente tem origem na mídia, mas também na confusão em relação ao que é determinado pela cultura e pela religião.
“Surge de representações erradas, por exemplo, a Arabia Saudita. O pessoal argumenta muito que lá a mulher não podia dirigir. Só que estamos vendo questões culturais [do país] e não religiosas”. Hyatt faz uma comparação entre opressões de diferentes formas. “A mulher é oprimida no Oriente Médio? Não posso te dizer que não. Mas a mulher é oprimida no Brasil? É, só ver os casos de feminicídios. Então como a gente pode apontar tanto para falar de outro lugar”.

Jovem compartilha a rotina nas redes sociais. (Foto: Jô Folha)
Hyatt destaca também que a restrição a educação não tem origem no islamismo. “Dizem que as mulheres muçulmanas não podem estudar, todas as minhas tias são formadas, a primeira palavra revelada do Alcorão foi “leia”, porque nós temos a obrigação de nos educar, de ler mais”. Conforme a influenciadora, por meio do islã as mulheres tiveram acesso ao direito de divórcio, de herança e de voto. “A gente trata a liberdade da mulher com relação aos padrões que não são padrões de realidade em todo o mundo”.
Comunidade muçulmana em Pelotas
Em Pelotas, não é incomum ver mulheres com Hijab, isso porque o município tem uma forte comunidade muçulmana e árabe. Hyatt calcula que são cerca de 230 árabes e descendentes, como ela, residindo na cidade. Além disso, os árabes exercem influência na economia de Pelotas por meio do comércio. “Tem muito árabe palestino envolvido, a cada cinco lojas no Calçadão eu posso dizer que duas são árabes”.
Diante da receptividade do município, Hyatt afirma que “Pelotas foi uma ótima cidade para os árabes se estabelecerem”.