Pelotas perdeu 15,9% de vegetação natural em 38 anos

Meio ambiente

Pelotas perdeu 15,9% de vegetação natural em 38 anos

Levantamento do MapBiomas mostra avanço da agropecuária e declínio de florestas, com desmatamento de 34 mil hectares desde 2008

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Pelotas perdeu 15,9% de vegetação natural em 38 anos
Dados apontam que áreas alteradas pelo homem saltaram de 33,5% para 49,6%. (Foto: Jô Folha)

O município de Pelotas teve uma redução de 15,9% em sua cobertura de vegetação natural entre 1985 e 2023, segundo relatório da plataforma MapBiomas, iniciativa que mapeia as transformações no uso da terra no Brasil. Os dados revelam uma intensa transformação na paisagem de Pelotas nas últimas décadas: enquanto áreas naturais encolheram, as atividades agropecuárias avançaram, ocupando hoje 45,3% do território municipal.

Em 1985, segundo o documento, 66,5% do município (106.389 hectares) eram cobertos por formações naturais, incluindo florestas e vegetação arbustiva. Quase quatro décadas depois, esse número caiu para 50,2%. Em contrapartida, as áreas alteradas pelo homem (chamadas de “antrópicas”) saltaram de 33,5% para 49,6% no mesmo período.

O professor de ecologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Marcelo Dutra, explica que a redução das áreas naturais detectadas no período são esperadas, mas devem se estabilizar. “Com a necessidade de atender as obrigações do Código Florestal, e na medida que os produtores avançam em práticas modernas e mais sustentáveis, a tendência é de maior manutenção do espaço natural na produtividade”, avalia o professor.

Agropecuária forte

Conforme o relatório, Pelotas possui 44,5% de vegetação natural, sendo 23,1% de formações florestais e 21,4% de áreas naturais não florestais. O uso agropecuário das terras representa 45,4% da área total. A agricultura é a principal atividade, ocupando 22,7% do espaço, seguida por mosaicos de uso (17,4%) e silvicultura (5,3%). Diferentemente de outras regiões do país, o município não registra pastagens ou mineração, segundo o levantamento.

A agropecuária pelotense está distribuída em pequenas e grandes propriedades rurais. Segundo Dutra, as culturas e as práticas também variam, bem como o comportamento dos produtores e pecuaristas. Porém, o apego a métodos tradicionais e a pouca receptividade a inovações na região ainda dificultam a adaptação a mercados que priorizam sustentabilidade. “Infelizmente, somos pouco abertos às oportunidades que valorizam o bem-estar rural, a segurança no campo e as boas práticas ambientais de baixo carbono”, analisa.

Desmatamento

Os mapas também apontam que, entre 1986 e 2023, o município perdeu em média 2.748 hectares por ano de vegetação nativa. Nos últimos 15 anos (2008–2023), o desmatamento atingiu:

  • 10.137 hectares de vegetação primária (florestas originais).
  • 24.009 hectares de vegetação secundária (áreas em regeneração).

A supressão de vegetação secundária indica que mesmo áreas em recuperação estão sendo convertidas para outros usos. Ao todo, 29.794 hectares de vegetação secundária foram desmatados desde 1986.

“Podemos recuperar”, diz professor

O professor Dutra não acredita que a situação ambiental de Pelotas tenha chegado a um nível irreversível, mas confirma o impacto das perdas. Nesse sentido, é preciso recuperar o solo nas áreas de produção para fortalecer estratégias de conservação, seja em áreas de reserva legal ocupadas ou de margem hídrica fortemente comprometida. Isso parte do entendimento de quem produz no campo sobre estratégias de descarbonização de grandes empresas, como na Refinaria Riograndense, que será em breve a primeira biorrefinaria do país. “Perdemos muito até aqui, cerca de 50%, mas podemos recuperar”, destaca.

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