Associada ao uso para práticas esportivas, a creatina vem sendo considerada uma substância multifacetada dentro do universo dos suplementos nutricionais por demonstrar resultados positivos também em outras áreas. Especialistas apontam cautela no uso, pois ainda estão sendo feitos estudos, principalmente dos benefícios para idosos com melhorias cognitivas, memória e energia mental.
O professor da Faculdade de Educação Física da UFPel (Esef) e epidemiologista, Marlos Rodrigues Domingues, atual coordenador do Programa de Pós-graduação em Educação Física, explica que a creatina é naturalmente produzida pelo corpo humano por meio de três aminoácidos (glicina, metionina, arginina) no fígado, rim e pâncreas. A substância também chega no organismo por meio de alimentos de origem animal, como carnes e leite, portanto, o uso como suplemento alimentar deve ser acompanhado por um profissional. “Diferentemente de outros suplementos e vitaminas, as pessoas não têm carência de creatina. O que se busca é uma quantidade maior do que a normal, o que poderia melhorar performance física, ganho de massa muscular e talvez cognição.”
Ela pode ser prescrita na dieta de pessoas que queiram melhorar sua composição corporal, aliado ao ganho de massa muscular ou que queiram melhorar seu desempenho esportivo, de esportes específicos. “Pode também ser utilizada para melhorar a qualidade de vida, principalmente em idosos”, comenta o nutricionista Matheus Wicth. Segundo o profissional, há estudos que comprovam que o uso associado à prática de exercícios resistido (musculação), previnem a sarcopenia, que é a perda de massa muscular e força, mais comum a partir dos 60 anos e que afeta a funcionalidade e qualidade de vida dos idosos.
O professor Domingues esclarece ainda que a substância leva a ganho de massa muscular pela hidratação do músculo e pode aumentar ligeiramente a capacidade em se exercitar, aumentar a disposição, principalmente para atividades que exijam explosão muscular ou força direta (como a musculação). “Apesar disso, não temos evidência de benefício para atividades mais longas, aeróbicas. Existe desconfiança também de que ela possa modificar (positivamente) a forma com que os músculos envelhecem, o que ainda não foi comprovado”, alerta.
Dica importante
O professor costuma falar que as pessoas procuram pílulas mágicas para facilitar a vida e trazer resultado. “A creatina é mais uma ‘cereja do bolo’, mas se a pessoa não tem o bolo, de nada adianta ficar se preocupando com os enfeites”, dispara. Ele aponta que o “bolo” é feito com quatro ingredientes: exercício regular, dieta saudável, sono de qualidade e controle de estresse. “Se a pessoa já preparou o bolo, aí sim ela pode se preocupar em colocar a cereja do enfeite. Do contrário nenhum efeito seria esperado”.
Em termos de saúde, acrescenta o professor, não se tem evidência para aumento de longevidade, mas ela pode melhorar o rendimento no treinamento de força e consequentes ganhos de força e massa muscular, o que sim auxilia para uma vida mais longa, qualidade de vida e no envelhecimento sadio, com menos perdas funcionais. É um suplemento seguro, barato, com raros efeitos colaterais e com provável benefício. “Porém ainda não temos dados suficientes para recomendar o uso em crianças e gestantes”.
O nutricionista aponta para alguns estudos que demonstram resultados benéficos associando a utilização de creatina em pacientes com insuficiência cardíaca, porém, são necessárias mais pesquisas. “Por isso, a suplementação deve ser feita com acompanhamento médico e de nutricionista para que se tenha segurança na sua utilização.” São esses estudos que têm levado pessoas de todas as idades a adquirem o suplemento nas farmácias, segundo comentou um atendente, que prefere não se identificar. Ele diz que a procura aumentou entre os frequentadores de academias.
A aposentada Iara Bernardes Fontoura, 62, participa do projeto Núcleo de Atividades para a Terceira Idade (NATI), da Esef há um ano e já sente os efeitos. Além de recuperar a massa muscular, as dores na coluna não são tão frequentes. Já experimentou a creatina, por recomendação da filha que está se formando em Nutrição, porém em doses pequenas. “Ela (filha) diz pra eu comprar que é bom e vai fazer bem para minha saúde. Ainda estou pensando”, diz a aposentada enquanto treinava na bicicleta ergométrica.
Alerta do médico
A indicação de creatina para idosos pode até ser bem-vinda, desde que o motivo não seja a tendência do momento, na opinião do geriatra Waldemar Barbosa. Ele explica que o aminoácido (creatina) é importante. O problema está no uso de doses elevadas. “Paciente com alteração de função renal, e não só aqueles que fazem hemodiálise, mas todos como nós, que ao fazer check-up, apresentam alteração leve na taxa de filtração glomerular (TFG), mesmo sem sintomas clínicos, deve restringir.” Para o especialista, como tudo na vida, cada área específica deve ser respeitada e a terceira idade não deve fazer uso do suplemento porque alguém falou que é bom e que ajuda a fazer massa muscular. “Vale para todo mundo: ouvir o médico ou assistente”, pontua.
Saiba mais sobre a creatina
Qual o uso correto da creatina como suplemento alimentar?
O uso da creatina deve se dar de maneira crônica, ou seja, ser consumida diariamente, para que se consiga usufruir dos seus benefícios à médio/longo prazo, sendo recomendada o seu consumo de 3-5g por dia
Ela está deixando de ser usada somente por quem pratica musculação?
Sim. A creatina pode ser utilizada por outros praticantes de esportes que necessitem de um ganho maior de força e potência, pois ela auxilia no fornecimento de energia rápida, melhorando o desempenho.
Quais os benefícios da creatina?
A creatina auxilia no ganho de força e consequentemente no ganho de massa muscular quando aliada à exercícios de força.
O que acontece – mesmo para quem faz academia – o uso de dosagens em excesso?
O uso de dosagens excessivas de creatina pode afetar a função dos rins a longo prazo, por isso deve ser respeitada a dosagem indicada (3-5g diárias).
Quem tem problemas renais, ou cardíacos pode tomar creatina?
É recomendado que pessoas com problemas renais evitem a utilização de creatina ou o façam sob acompanhamento médico.