A chuva que atingiu Pelotas na tarde da última quinta-feira (27) causou novos alagamentos em diversas regiões da cidade. Em alguns pontos, a água acumulada em pontos sem vazão deixou vias intransitáveis e chegou a impedir a passagem a pé. A cada chuva, a repetição desse cenário levanta questões: por que soluções definitivas não são implementadas?
Segundo o Sanep, ao todo, foram 52 milímetros de chuva registrados pelo pluviômetro instalado na Casa de Bombas Anglo. Adilson Dias, de 46 anos, é borracheiro e trabalha em uma garagem na rua Doutor Amarante há 30 anos. O trecho da rua enfrenta sérios problemas sempre que chove, ficando completamente alagada, o que impossibilita que as pessoas acessem e saiam do local sem afundar o pé na água até a canela. “Isso é uma vergonha. Tu não consegue trabalhar direito”, desabafa.
Ele lembra que, antigamente, a água escoava com mais rapidez porque havia apenas uma faixa de asfalto no meio da rua. No entanto, nos últimos anos, obras de drenagem modificaram essa dinâmica. Uma galeria existente em frente à borracharia foi tapada durante o recapeamento asfáltico, e embora Dias tenha alertado os responsáveis na época, não houve providências.
O borracheiro também menciona que certa vez, uma intervenção do Sanep na esquina com a rua Félix da Cunha substituiu antigas manilhas de concreto de grande diâmetro por canos menores, reduzindo a capacidade de escoamento. Com isso, o alagamento, que antes se resolvia rapidamente após o fim da chuva, agora demora horas para escoar. Na pancada da última quinta-feira, embora tenha parado por volta das 17h, a água só drenou completamente após as 22h.
Na oficina vizinha, a situação é ainda pior. Como o terreno é mais baixo, a água entra pela frente e sai pelos fundos, obrigando os trabalhadores a utilizar botas de borracha dentro do estabelecimento. Além disso, a passagem de veículos pesados, como caminhões e ônibus, agrava o problema, espalhando a água empoçada.
Outro ponto crítico fica na rua General Osório, em frente à Cohabpel. Marco Antônio Nobre, de 57 anos, é proprietário de uma loja no local. Segundo ele, os problemas de alagamento na região começaram depois da construção do corredor de ônibus. Antes dessa obra, a água escoava normalmente pela extremidade da rua. Agora, qualquer chuva transforma a área em uma verdadeira piscina. “É impraticável caminhar aqui quando chove. As pessoas chegam a caminhar pela rua”, relata.
O que diz o Sanep?
O Sanep explica que, quanto à macrodrenagem, o principal motivo para os alagamentos é o grande volume em um curto espaço de tempo. Segundo a autarquia, após cessar a chuva, com as casas de bombas operando a pleno, foi registrado um escoamento eficiente, com os principais canais reduzindo rapidamente os seus níveis de água. Destaca-se, ainda, a alta incidência de descarte irregular de resíduos, que obstruem bueiros, bocas de lobo e canais de drenagem — estruturas essenciais para dar vazão às águas da chuva.
Cronograma e ações
Ainda, o Sanep mantém um cronograma contínuo de manutenção em canais de macrodrenagem, bueiros e casas de bombas, incluindo o desassoreamento para melhorar a eficiência do sistema. Diante dos desafios climáticos, a autarquia busca recursos para ações estratégicas, como batimetria dos canais, projetos de “cidade esponja”, reforço de diques e qualificação das casas de bombas. Também aposta na integração com outras secretarias para otimizar o sistema de drenagem.
Orientação
Quanto a bueiros entupidos, a população deve comunicar o Sanep para que equipes especializadas realizem a desobstrução de forma adequada.