UFPel tem primeiro aluno com Síndrome de Down a se formar artista visual

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UFPel tem primeiro aluno com Síndrome de Down a se formar artista visual

Com o apoio da família e dos professores, Eduardo Moraes transformou sua paixão de infância pela arte em profissão; Dudu também é responsável pela criação da Xavadown

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UFPel tem primeiro aluno com Síndrome de Down a se formar artista visual
Agora formado, Dudu e família consideram que o suporte para inclusão foi fundamental para seu processo de formação e criação artística. (Foto: Jô Folha)

Na galeria do Centro de Artes da UFPel repleta de mais de 20 telas de pinturas a tinta guache de autoria própria, o aluno Eduardo Camargo Moraes completou a última etapa necessária para se tornar o primeiro estudante com Síndrome de Down a se formar artista visual pela Universidade. Foram quase oito anos de empenho e superação de desafios com apoio da família e de professores até que o estudante concluísse a graduação.

O mais novo de três irmãos, o Dudu, como é carinhosamente conhecido por todos, cresceu em meio ao cuidado dos irmãos adolescentes para que a mãe pudesse trabalhar. Em vez de tratar Eduardo de forma diferenciada devido à síndrome, a família optou por incluí-lo em todas as atividades possíveis e a se dedicar com ele a todas as etapas da sua educação. Foram muitas horas de empenho em cada tema escolar até o ingresso na Universidade.

“Ele sempre foi instigado a fazer as coisas como os outros. Foi muita dedicação de toda família, não existia a palavra desistir para nós. Um tema às vezes levava cinco horas para fazer, então tinha que ter muita paciência”, diz a mãe Tânia Moraes. Foi no Ensino Fundamental que o Dudu descobriu o mundo das artes, desde então ele nunca mais perdeu o interesse pelo desenho e a pintura.

“Foi muito tempo que eu estudei [na Universidade], mas foi muito bom e a hora é agora [diz sobre a conclusão do curso].” Para o Dudu, o maior desafio foi o aprendizado das disciplinas teóricas. Além disso, ele teve outro grande desafio, conciliar o trabalho com os estudos. Há cerca de três anos ele trabalha em um laboratório de análises clínicas. “Mas eu estou muito feliz. Foram muitas histórias e também tive muita influência”, diz o formando.

A influência que o Dudu se refere é a do irmão Gabriel Veiz. Artista urbano, com trabalhos espalhados por mais de 30 país, ele fundou o projeto Graffiti Down para ensinar técnicas de arte e incentivar o desenvolvimento cognitivo de jovens com síndrome de Down.

“Na época que o Dudu nasceu foi quando eu comecei a fazer grafitti, então ele sempre me acompanhou pintando. Sempre que eu saia para pintar ou para algum evento eu levava ele junto. Não tem como não ficar feliz vendo uma conquista dessas do meu irmãozinho”, conta Veiz.

Sobre ser o primeiro aluno com Síndrome de Down a se tornar artista visual pela Universidade Federal de Pelotas, o estudante afirma: “Eu não me sinto o tal, eu estou na luta para me formar”. Atualmente, a UFPel tem quatro estudantes com Síndrome de Down.

Educação adequada para a chegada no ensino superior

Atual diretora financeira da Associação de Pais de Pessoas com Síndrome de Down de Pelotas (Apadpel), Cátia Vieira, é uma das pessoas que acompanhou de perto toda a trajetória de Eduardo. Inclusive, auxiliou o assistido a criar a Xavadown, torcida organizada do Grêmio Esportivo Brasil.

Para Cátia a formação do Dudu exemplifica que com o suporte necessário e o apoio dos familiares as pessoas com síndrome de Down podem realizar qualquer objetivo. “Isso aí é para provar que sim, eles podem chegar aonde eles querem, eles podem ser aquilo que eles quiserem ser”.

Conforme Cátia, a Apadpel são vários assistidos que não conseguiram se alfabetizar devido à falta de condições educacionais adequadas. “Se muito mais professores e profissionais acreditassem nisso, muito mais pessoas com síndrome de Down a gente veria circulando nos corredores da faculdade”, afirma.

A Apadpel oferece suporte na alfabetização, na saúde, na inclusão em esportes e lazer para os assistidos. De acordo com Cátia, atualmente a entidade tem oito pessoas com Síndrome de Down entre formados e cursando o Ensino Superior.

“Eu tenho muito orgulho da Apadpel e dos meus amigos. Eu quero mandar um abraço para a Apadpel”, diz Eduardo Camargo.

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