A fila de atendimentos eletivos na região Sul aumenta a cada dia. Em crise financeira, as Santas Casas de Rio Grande e de São Lourenço do Sul, referências para diversos municípios, atuam apenas em casos de urgência e emergência desde janeiro.
O caso mais grave está em São Lourenço do Sul, onde cerca de 20 médicos estão com os honorários atrasados desde outubro de 2024 e deve rescindir seus contratos hoje. Conforme a diretora do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) na região Sul, Renata Jaccottet, “hoje a partir da meia-noite, eles [os médicos] já são demissionários”.
Na última semana, a Santa Casa de Misericórdia de São Lourenço do Sul propôs o pagamento do salário de outubro para ontem e o restante de forma parcelada até janeiro de 2026, o que não foi aprovado pela categoria. “Só três médicos aceitaram, os outros todos não aceitaram essa proposta […] nenhum plano viável foi apresentado”, argumenta Renata.
Plano de contingência
Diante do impasse, a Secretaria Estadual da Saúde propôs um plano de contingenciamento, prevendo que o Hospital São João da Reserva, localizado no interior do município, absorva o atendimento hospitalar e o pronto atendimento de urgência. Além disso, pacientes que necessitem de procedimentos especializados serão encaminhados para hospitais em cidades vizinhas, como Jaguarão, Canguçu e Piratini.
Intervenção não é descartada
O prefeito de São Lourenço do Sul, Zelmute Marten (PT), acredita que há “um grave problema de gestão” na instituição, mas garante que não haverá uma intervenção do Executivo no momento. “Uma intervenção não está descartada, mas ela será adotada somente em último caso”, afirma o gestor, que indica a perspectiva de fechamento como situação limite para uma intervenção.
Pequena melhora em Rio Grande
A Santa Casa de Rio Grande iniciou, em 13 de março, o pagamento dos honorários de outubro de cerca de 90 médicos da instituição. Agora, os débitos com a categoria, que ultrapassam R$ 7 milhões, são relativos a novembro e dezembro de 2024 e de janeiro e fevereiro deste ano.
Apesar da dívida, a diretora do Simers garante que “a direção da Santa Casa [do Rio Grande] está fazendo um esforço muito grande para resolver esse problema”. A série de ações para arrecadação de recursos e pagamento dos débitos fez com que os profissionais não prosseguissem com a demissão coletiva, o que aumentaria ainda mais a crise da instituição.
Fundo da Portos RS
O principal recurso buscado pela instituição está em um Termo de Compromisso, oriundo do Fundo de Recuperação de Bens Lesados. O valor total é de R$ 14,4 milhões e está sendo liberado através de algumas metas estipuladas pelo Ministério Público. Até o momento, foram repassados R$ 2 milhões, utilizados para o pagamento dos honorários atrasados de outubro.
Repasse aprovado na Câmara
Na segunda-feira, a Câmara de Vereadores aprovou, por unanimidade, o PLE 12/2025, que trata do aumento dos repasses do Município à Santa Casa do Rio Grande. Sem correção inflacionária desde 2020, o valor foi incrementado em 25%, passando de R$ 600 mil para R$ 747 mil.
Região em alerta
Em contato com a Santa Casa de Pelotas, a instituição afirmou que “entende a preocupação”, mas que “devido à alta demanda que já atendemos, não temos condições de absorver esse volume adicional”.
De acordo com Ronaldo Madruga (PP), presidente da Azonasul e prefeito de Pinheiro Machado, a entidade solicitou à 3ª Coordenadoria Regional de Saúde um detalhamento da situação das demandas por especialidades na região. Conforme ele, o prazo para entrega do documento encerra na próxima semana.
Madruga explica que o diagnóstico é importante para “buscar novas referências na região” para desafogar as filas de espera. Ele ainda afirma que “na segunda quinzena de abril, vai ser chamada uma reunião [da Azonasul] para tratar do IP Saúde e também para tratar sobre os gargalos da região na área da saúde”.