Nem bem chegou o outono, que marca a gradual mudança de temperatura, para constatar nas ruas, em ônibus, no comércio ou em casa alguém se queixando de gripe. Mas não seria um resfriado?
Das principais doenças de outono as duas são as mais comuns e o que especialistas dizem é para ficar atento a diferença entre uma e outra e, principalmente, não deixar os casos evoluírem para patologias mais graves, como pneumonia.
Se a mudança no tempo já começou a fazer efeito no corpo, medidas de prevenção são a alternativa. Entre elas, conferir a caderneta de vacinação, pois este ano, a imunização contra a Influenza está inserida no calendário.
O médico de família e comunidade da Secretaria Municipal da Saúde, Alexandre Moch, confirma que as doenças mais frequentes no outono e inverno são as respiratórias.
Além da gripe e do resfriado, no combo esta a rinite alérgica, pneumonias, asma, sinusites, e em menor grau, amigdalite. A boa higiene pessoal é fundamental para evitar contrair vírus e infecções.
“Lavar as mãos frequentemente com água e sabão e usando álcool em gel quando necessário. Ao tossir ou espirrar, cubra sempre o nariz e a boca, preferencialmente com lenço descartável ou o antebraço, e considere o uso de máscaras em ambientes fechados”.
O médico diz que manter os ambientes bem ventilados, abrindo as janelas regularmente, mesmo durante o frio, ajuda na prevenção. Por isso, a dica é evitar locais com aglomeração ou com muita poeira e fumaça. “Hidratar-se também é essencial, então beba bastante água e mantenha a alimentação”, garante.
Para o especialista que lida com a saúde da comunidade, o contato com pessoas doentes ou apresentar alguns sintomas o ideal é não frequentar locais públicos e procurar atendimento médico quando necessário.
“Grupos de risco, como idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas, devem redobrar esses cuidados e manter-se adequadamente aquecidos durante a estação”, sugere.
A prática regular de atividades físicas e a manutenção de um estilo de vida saudável também são fundamentais para fortalecer o sistema imunológico e prevenir doenças respiratórias durante o inverno.
“Não se esqueça de manter a vacinação em dia, especialmente contra a gripe, e procure se vacinar antes do início do inverno”, alerta.
Vacina da gripe todo o ano
A baixa procura pela imunização contra a gripe em 2024 vem preocupando a Saúde Pública em Pelotas. Das 154.595 pessoas que deveriam ser imunizadas, apenas 53,7 mil (34,7%) receberam a vacina, sendo idosos 44,70% (30.161 doses), crianças 40,29% (7.360 doses), gestantes 18,32% (469 doses).
Mais de 14.7% foram aplicadas em outros grupos. Apesar disso, o Rio Grande do Sul lidera a vacinação no país, com mais de 1 milhão de doses aplicadas e cobertura de 24%.
O município prepara campanhas de vacinação para abranger a grande maioria da população contemplada pelo Ministério da Saúde. Em 2025, o Calendário Nacional de Vacinação contra a gripe estabelece como grupos prioritários permanentes são as crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes e idosos.
A garantia de aumento no percentual de imunização está na disponibilidade da vacina nos 12 meses do ano, por agora fazer parte do calendário.
Além desses, também devem receber a vacina gratuitamente pelo SUS as puérperas (até 45 dias após o parto), profissionais de saúde, povos indígenas e pessoas com doenças crônicas ou condições clínicas especiais, como doenças respiratórias, cardiopatias, diabetes e condições que afetam o sistema imunológico.
Proteção
A secretária municipal de Saúde, Ângela Vitória Moreira, garante que a vacinação é a tecnologia que mais tem resultado e é facilmente perceptível.
“Os mais velhos recordam a situação do sarampo e das meningites nas décadas de 70 e 80 e como estão controladas hoje. Os mais jovens lembram que a H1N1 foi controlada em poucos meses pela vacina, e todos se lembram da importância da vacina na pandemia de Covid-19”, comenta.
Para Ângela, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do SUS é fundamental. “Em Pelotas, vamos trabalhar para retomar o orgulho de altas coberturas vacinais e redução dos adoecimentos por causas preveníveis”.
Covid
De acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde para 2025, a vacinação contra Covid-19 mantém foco nos grupos prioritários, que incluem pessoas com 60 anos ou mais, gestantes, puérperas, trabalhadores da saúde, imunocomprometidos e pessoas com comorbidades.
A inclusão da vacina Covovax (indiana) no programa nacional, complementa o uso da vacina bivalente para reforços.
O esquema vacinal prevê uma dose de reforço anual para idosos e imunocomprometidos, com intervalo mínimo de seis meses entre as doses, mantendo duas doses para o esquema primário.
A vacina está disponível em todas as UBS e postos específicos, garantindo amplo acesso à população.
Demanda nas UBS
Para atender a demanda de outono e inverno, a Atenção Primária à Saúde da SMS fará uma abordagem integrada que inclui a organização estrutural das unidades com salas específicas para atendimento respiratório e estoques adequados de medicamentos.
Mas é gripe ou resfriado?
Tanto as gripes quanto os resfriados são quadros causados por vírus: gripe pelo vírus da Influenza. Resfriados, por outros vírus, como rinovírus, coronavírus, vírus sincicial respiratório entre outros. Os quadros virais, como resfriados, são os mais comuns e os mais leves.
Naquelas pessoas que têm doenças crônicas de base, como asma, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), estes quadros virais, geralmente leves, podem levar a crises destas doenças.
A pneumologista Silvia Macedo explica que as principais doenças respiratórias que ocorrem com a mudança de clima são as exacerbações de quadros respiratórios crônicos como asma, rinite alérgica, e os quadros virais agudos com gripes e resfriados.
Também pode ocorrer exacerbações de doenças crônicas como a DPOC. “Esta doença é representada pelo enfisema e pela bronquite crônica, sendo que a mudança de clima pode piorá-la diretamente por questões físicas relacionadas ao clima, ou indiretamente, pela ocorrência de quadros virais, os quais também podem levar à exacerbação desta doença”.
Sintomas
Resfriados: vias aéreas superiores, com coriza, obstrução nasal, espirros, dor de garganta, dor de cabeça e um pouco de tosse, associado a poucos sintomas sistêmicos, como febre mais baixa, discreto mal-estar.
Gripes: existem estes mesmos sintomas de vias aéreas superiores, associados a um quadro sistêmico mais pronunciado, com febre alta, calafrios, muita dor no corpo e prostração
“Tanto as gripes quantos os resfriados podem exacerbar condições crônicas respiratórias de bases como asma, DPOC, como outras condições crônicas não respiratórias, como doença cardiovasculares e metabólicas como insuficiência cardíaca e diabete”, explica a especialista.
A chance de descompensar doenças crônicas não respiratórias como as citadas pela médica, é mais comum com os quadros virais que se acompanham de mais manifestações sistêmicas, como as gripes, em comparação aos resfriados.
“Após os quadros virais, os mecanismos de defesa natural das vias aéreas ficam danificados e tem a sua função prejudicada, podendo, com isto, ocorrer na evolução do processo, complicações bacterianas como rinossinusites e pneumonias”.
As consequências são quadros sintomáticos mais longos, ou uma piora seguindo uma melhora inicial, com retomada de febre, persistência ou piora dos sintomas respiratórios.
“Na ocorrência desta persistência ou piora dos sintomas, a pessoa deve procurar os serviços de saúde para ser avaliada”.
Para Silvia, prevenir o acometimento de casos mais graves para quem tem comorbidade basta o manter as doenças crônicas respiratórias controladas.
“Daí a importância de acompanhamento regular nos serviços de saúde, visando este controle adequado, com o tratamento otimizado destas doenças”.
Tratamento
Na vigência de quadros virais, o tratamento principal sintomático, segundo a pneumologista, é com analgésicos, descongestionantes nasais, associado à hidratação vigorosa, para propiciar que as secreções se tornem mais fluidas e com menor chance de se acumular nas vias aéreas, sendo eliminadas com mais facilidade.
Na ocorrência de quadro que sugira gripe, pela presença de febre alta, calafrios, associada a sintomas de vias aéreas superiores, a pessoa deve procurar o serviço de saúde, pois dentro das primeiras 72 horas, poderá ter benefício com o uso da medicação citada acima.
Nos casos de influenza/gripe, além do tratamento sintomático, poderá ser administrado medicação específica, dentro das primeiras 72 horas do início dos sintomas -, a qual pode “encurtar” o tempo de duração dos sintomas.