A prefeitura de Pelotas anunciou que busca reduzir a dependência do óleo diesel na frota de ônibus de transporte coletivo, como uma das medidas para frear o aumento contínuo do valor da tarifa.
Uma das alternativas é o programa Renovação de Frota, que integra o Novo PAC, do governo federal. A partir de avaliações e estudos de viabilidade, Pelotas planeja propor a substituição dos ônibus por modelos elétricos como parte da atualização da frota.
Segundo o diretor-executivo da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), José Júnior, a proposta faz parte de uma lista de projetos que estão sendo elaborados. No momento, o município trabalha em diferentes frentes, com reuniões para análise e deliberações relativas aos ônibus elétricos.
Desse modo, alguns modelos estão sendo estudados, além de avaliações financeiras e projeções de impacto na tarifa.
Para o diretor-executivo, alguns fatores favorecem que a pauta avance. São eles:
• a queda no número de passageiros;
• o aumento dos custos dos insumos;
• o esgotamento do modelo de financiamento baseado nas tarifas;
• a concorrência dos serviços por aplicativos;
• a crescente demanda por descarbonização.
O modelo de transição energética seria definido após a conclusão de estudos preliminares. Questionado sobre os custos dos veículos e das infraestruturas necessárias, Júnior não entra em números e diz que o processo deve ser gradual. A ideia é que seja priorizada a substituição dos ônibus a diesel mais antigos ou danificados.
Dificuldades
No primeiro momento, o principal desafio que se estabelece é a relativa novidade dos novos modelos de mobilidade urbana, explica o diretor-executivo da Seplag. Isso inclui o alto valor dos veículos exclusivamente elétricos e a necessidade da criação de estruturas de suporte para a operacionalização e abastecimento desse novo modelo.
O município estuda alternativas relativas a financiamentos para a compra dos veículos e materiais necessários para a transição. Ainda não há prazos para o começo da operação.
“Todas as possibilidades estão sendo ponderadas […] Os estudos de viabilidade em andamento indicarão a melhor opção para a realidade de Pelotas”, destaca.
Desafios estruturais
O diretor-executivo do Consórcio do Transporte Coletivo de Pelotas (CTCP), Enoc Guimarães, posiciona-se favorável à adoção de veículo do modelo elétrico e acredita na evolução sustentável da cidade. No entanto, aponta que existem desafios estruturais importantes a serem considerados antes da implementação.
Para Enoc, não basta apenas decidir pela adoção dos ônibus elétricos; é preciso ter vias e redes elétricas preparadas para isso. Se já são identificadas dificuldades para operar com ônibus convencionais nas ruas de Pelotas, ele pondera, os veículos elétricos de piso baixo não passariam sequer pelos quebra-molas da avenida Fernando Osório, por exemplo.
Além disso, há o dilema da recarga de energia, que exige um suporte estrutural robusto.
Insucesso em SP
Como complemento ao argumento, Guimarães cita a situação no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo, onde 37 ônibus elétricos novos estão parados devido à falta de infraestrutura elétrica adequada para carregamento.

Em São Paulo, ônibus elétricos ficaram parados por falta de estrutura. (Foto: Clube do ônibus)
A fornecedora de energia elétrica foi responsabilizada pela empresa de transporte coletivo por atrasos nas instalações necessárias para carregar os veículos. São Paulo tem 95% da frota ainda movida a diesel e enfrenta dificuldades de recarga.
Frota atual em Pelotas
Atualmente, 22 ônibus são equipados com motores Euro 6, conforme informa o diretor do consórcio. Isso representa cerca de 15% da frota que já segue a norma, e as renovações têm sido feitas por veículos com esse tipo de motor.
Todos os veículos adquiridos desde a mudança na pintura dos ônibus (verde com cinza) são da versão mais recente. No momento, a frota em Pelotas conta com 145 ônibus, com idade média de aproximadamente sete anos e meio.
Modelos Euro 6
Os motores Euro 6 ainda são movidos a diesel, mas 85% menos poluentes do que os da antiga geração. A tecnologia converte os poluentes em compostos menos nocivos, ou os captura antes mesmo de eles serem liberados para a atmosfera. Segundo Guimarães, o consumo deste motor, em relação ao Euro 5, não apresenta uma mudança significativa. O consumo médio continua sendo de cerca de 2,5 quilômetros por litro de diesel, com variações pontuais.