Sorria. Você vive no 36º país mais feliz do mundo. A colocação do Brasil no Ranking da Felicidade, publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU), é cercada de simbolismo para os entusiastas que acreditam ser possível mensurar um estado emocional. Avançamos oito posições em relação a 2024 e somos hoje o segundo país sul-americano mais bem colocado, atrás do Uruguai.
Os critérios adotados para mapear o sorriso no rosto da população têm forte teor político-social. São eles: PIB per capita, expectativa de vida saudável, apoio social, sentimento de liberdade, generosidade e percepção de corrupção. A Finlândia segue intacta na posição número 1. Os finlandeses conseguiram adotar um ciclo que comunga o bom equilíbrio da vida profissional e pessoal, e um governo que investe de forma intensa em políticas de bem-estar.
A ONU também destacou detalhes sutis de hábitos que ajudam a melhorar essa percepção subjetiva. Entre eles, viver em lares com várias pessoas e fazer refeições na companhia de alguém. Em resumo, fugir da solidão. Já nos Estados Unidos, onde a população nunca foi tão infeliz desde o início da pesquisa, há 20 anos cresce o número daqueles que jantam sozinhos.
A felicidade não tem fórmula exata e é complexa até mesmo de relacionar. O que é bom para a Argentina pode não ser bom para o Brasil, e vice-versa, assim como um trabalhador pode ser mais feliz que seu patrão.
Atualmente, o consumismo desenfreado e a espetacularização da vida pelas redes sociais são dois dos ingredientes utilizados para alimentar os quatro hormônios da felicidade: serotonina, dopamina, endorfina e ocitocina. Um desenho da nossa relação superficial com a vida e do eucentrismo estabelecido na sociedade. Não por coincidência, são os jovens aqueles que mais se apresentam ‘tristes’, segundo o ranking.
Difícil é imaginar a ONU ter encontrado rostos sorridentes ao realizar a pesquisa com os brasileiros. Não existe graça ao pagar mais de R$ 6,00 pelo litro da gasolina, deixar quase 10% do salário-mínimo na compra do botijão de gás e desembolsar uma pequena fortuna para tomar café. Também a ONU deve ter fechado os olhos para o fato de o Congresso Nacional querer enfraquecer a Lei da Ficha Limpa; a fila de espera por cirurgias do SUS ser interminável; a taxa básica de juros estar entre as mais altas do planeta e a inflação voltar a corroer o Real.
Ao contrário da Finlândia, no Brasil os governos pouco se preocupam com a construção de modelos de bem-estar geral. Por aqui, nos importamos com o futebol e não em perceber a educação como o principal motor de mudanças. Temos dificuldade em questões básicas, como seguir regras, planejar o dia a dia e administrar as finanças. Mas nos orgulhamos do jeitinho, cantamos “Deixa a vida me levar” e esperamos sempre a ajuda divina nos momentos de aperto.
Mesmo assim, estranhamente felizes, na 36ª posição no mundo.