O outono começa oficialmente nesta quinta-feira (20), com mudanças no clima e perspectivas distintas das do ano passado. Em 2024, a estação foi marcada por chuvas intensas, especialmente em abril e maio, impulsionadas por um El Niño forte que favoreceu altos volumes de precipitação. Neste ano, no entanto, a previsão indica um cenário diferente, com menor umidade e menos episódios de chuva extrema, o que pode impactar a agricultura em algumas regiões.
O meteorologista Henrique Repinaldo, do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas (CPPMet/UFPel), explica que o outono deste ano será influenciado por um período de neutralidade climática, ou seja, sem a configuração dos fenômenos atmosféricos El Niño ou La Niña. No entanto, pela região estar saindo de uma La Niña fraca, ainda será possível sentir alguns reflexos, especialmente na distribuição das chuvas.
A tendência é que as chuvas sejam irregulares, quer dizer, não ocorram de forma generalizada na região, aponta. Apesar de alguns episódios de chuva forte e temporais localizados, os acumulados devem ficar abaixo da média para a estação. Isso pode agravar a estiagem em algumas localidades, especialmente em áreas que já vêm sofrendo com a falta de precipitação.
As temperaturas no outono devem ficar entre o normal e um pouco acima da média, tanto as mínimas quanto as máximas. Além disso, as ondas de frio devem ocorrer mais para o final do outono, com maior probabilidade de eventos significativos próximo ao inverno.
Culturas podem ser impactadas
Segundo o professor da UFPel especializado em economia agrícola, Gabrielito Menezes, as culturas que dependem de um bom regime de chuvas, que são plantadas ou estão em fase de desenvolvimento no outono, podem ser as mais afetadas pela estiagem e pelas chuvas irregulares. Algumas delas são:
- Soja: é sensível à disponibilidade de água, especialmente durante a fase de enchimento de grãos. A falta de chuvas pode reduzir a produtividade.
- Milho: pode ser bastante impactado pela estiagem, principalmente o de segunda safra (safrinha), pois depende de chuvas regulares.
- Feijão: também é sensível à falta de chuvas, especialmente o de segunda safra, o que pode afetar o rendimento e a qualidade dos grãos.
- Hortifrutigranjeiros: tomate, batata e outras hortaliças podem ser afetadas pela irregularidade das chuvas, impactando a produção e a qualidade.
Benefícios e prejuízos
As temperaturas mais altas no outono podem ter impactos variados dependendo da cultura, conforme explica Menezes, provocando benefícios para algumas e prejuízos para outras.
O café pode se beneficiar de temperaturas mais altas, desde que não haja extremos, pois isso pode acelerar o desenvolvimento dos frutos. Já o trigo, por ser uma cultura de inverno, pode ser prejudicado por temperaturas mais altas, especialmente se ocorrerem durante a fase de enchimento de grãos, o que pode reduzir a qualidade e o rendimento. Culturas como maçãs, pêssegos e uvas podem ser prejudicadas por temperaturas mais altas, que podem interferir no ciclo de dormência e no desenvolvimento das frutas.
Riscos de ondas de frio tardias
De acordo com o professor, as ondas de frio mais tardias podem representar um risco para o plantio de culturas de inverno, especialmente se ocorrerem durante fases críticas do desenvolvimento das plantas. Alguns riscos incluem geadas tardias, que podem danificar plantas jovens de culturas como trigo, aveia e cevada, afetando o estabelecimento das lavouras e reduzindo o rendimento.
Se as ondas de frio ocorrerem no início da estação, podem atrasar o plantio, reduzindo a janela ideal para o desenvolvimento das culturas e aumentando o risco de perdas. Para culturas que florescem no final do inverno ou início da primavera, como o trigo, geadas tardias podem danificar as flores e reduzir a formação de grãos.
Medidas de mitigação
Menezes destaca que os produtores devem estar atentos às previsões climáticas e adotem práticas de manejo que possam mitigar os riscos. Algumas das práticas incluem o uso de variedades mais resistentes à seca, o ajuste do calendário de plantio e a implementação de sistemas de irrigação onde possível. Além disso, monitorar constantemente as condições climáticas e a adotar práticas conservacionistas pode ajudar a reduzir os impactos negativos no agro.