A construção de uma ponte entre Rio Grande e São José do Norte revela um grande potencial de expansão do porto rio-grandino, que já é o quinto maior complexo público do país. A partir da ligação a seco será possível a utilização do molhe Leste para ampliação de terminais, dobrar a capacidade e alçar o terminal para o segundo maior do Brasil, atrás apenas de Santos (SP).
“Do outro lado, temos também uma estrutura pronta e toda a margem de São José do Norte para ser ocupada por terminais. Mas ninguém vai construir nada lá se não houver uma ligação a seco. No momento que se fizer a ponte, o Porto de Rio Grande tem capacidade para duplicar o seu número de berços e o seu volume de carga”, argumenta o vice-presidente da Federasul, Antônio Carlos Bacchieri.
Cristiano Klinger, presidente da Portos RS, destaca que o potencial de crescimento dos terminais para o molhe Leste, em São José do Norte, é muito grande. Atualmente, apenas o Estaleiro Brasil (EBR) opera na margem nortense. “Rio Grande tem dez terminais entre público e arrendados e mais o estaleiro e o cais público, fora o que ainda temos em desenvolvimento. Já em São José do Norte, hoje, só tem o Estaleiro”, explica.
Apesar do potencial, ainda não é possível quantificar o impacto direto nas movimentações. “Se olhamos por margem, teoricamente a gente teria essa capacidade em São José do Norte, mas não dá para fazer essa conta tão direta porque tem muitas áreas já de propriedade privada e aí tem que olhar essa vocação, mas certamente teria espaço sim para atrair esses investimentos”, argumenta Klinger.
Além das movimentações, a margem de São José do Norte também é vista com bons olhos para o desenvolvimento de energia eólica offshore e hidrogênio verde.
Sobrecarga e oportunidade
De acordo com Bacchieri, os portos de Santos, Santa Catarina e Paranaguá (PR) estão operando no limite da sua capacidade. Desta forma, a expansão da capacidade de movimentação em Rio Grande deverá levar o complexo portuário rio-grandino ao segundo lugar no ranking de portos públicos com as maiores movimentações anuais.
“Se a gente colocasse mais dois ou três terminais em São José do Norte, teríamos uma capacidade enorme de crescimento […] Dependerá dessa vocação, mas a gente poderia brigar sim por uma segunda ou terceira posição”, afirma o presidente da Portos RS.
Nova alternativa logística
Atualmente, a logística terrestre para o Porto de Rio Grande acontece, majoritariamente, pelas BRs 116 e 392. A partir da ligação a seco, a BR-101 surge como uma alternativa de deslocamento que pode não só atrair investimentos para São José do Norte, mas também potencializar o complexo rio-grandino.
Com a maior utilização da rodovia, será necessária uma série de melhorias para atender a grande demanda de veículos de carga. “A partir da ponte, que faria essa ligação a seco, teria que ter investimentos na qualificação da estrada [BR-101] para poder ter essa capacidade na movimentação de cargas, porque iria aumentar o fluxo de utilização da estrada”, argumenta Klinger.
O vice-presidente da Federasul comenta que a prioridade do governo federal é a ponte, mas que depois serão pensados investimentos na rodovia. “Atualmente, a BR-101 é mantida pelo Dnit, com as verbas que tem etc. Com certeza no momento em que houver a ponte, vai se pensar seriamente numa concessão daquela rodovia, com pedágio, para ela ficar realmente boa em condições de ser um fluxo realmente que ligue o litoral Sul ao litoral Norte, resultando no desenvolvimento da região”, afirma.
Necessidade de investimentos
Além dos reparos na rodovia, Klinger argumenta que São José do Norte também deverá “melhorar a infraestrutura da própria cidade para receber grandes investimentos”. Atualmente, a falta de infraestrutura no município no distrito industrial afasta grandes investidores.
“Quando o investidor vai olhar para fazer um investimento na margem de Rio Grande, onde já se tem todo o acesso, ou na margem de São José do Norte que você fica limitado nas condições que a BR-101 tem, você acaba atraindo esse investimento para Rio Grande […] Agora, ao ser proporcionada a ligação a seco e uma melhora na infraestrutura da BR-101, você traz também essa capacidade de atrair esses investimentos”, diz.
Como está o andamento da ponte
Com a fase de estudos concluída, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) agora parte para o lançamento da licitação para o projeto executivo, que deverá ser concluído em 2027.
“A empresa que vencer a licitação terá um prazo de dois anos para entregar os projetos de engenharia prontos”, explica o presidente da Associação Pró Ponte RG-SJN, Jair Rizzo.
O documento apresentará todos os detalhes de arquitetura, estrutura e tipologia da ponte, indicando o custo e o tempo de execução da obra. Com custo estimado em R$ 50 milhões, o projeto conta com um aporte integral do novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal.
Pedido ao presidente
Durante a agenda do presidente Lula (PT), em Rio Grande, na última semana, a prefeita Darlene Pereira (PT) realizou a entrega de uma carta com as principais demandas da região. A ligação a seco entre os municípios foi um dos temas citados no documento e também citado em seu discurso.
“Te peço que a gente possa incluir o projeto da BR-392 no Novo PAC, esse é o nosso grande pedido. Outras tantas coisas, como a ligação a seco entre Rio Grande e São José do Norte, que a gente sabe que já está andando”, argumenta Darlene ao presidente.
Próxima fase
A partir da entrega do projeto executivo, o Dnit realizará uma nova licitação, desta vez para a construção da ponte. Ainda sem a confirmação oficial do órgão, autoridades estimam a duração de um ano dos serviços, com custo estimado em R$ 1 bilhão.
A ponte
Com cerca de 3,8 quilômetros de extensão, a ponte deverá sair da avenida Honório Bicalho, em Rio Grande, e seguir até o arroio do Laracha, em São José do Norte. Entre os potenciais modelos viáveis destacam-se pontes com o estilo canivete e com elevação.