O custo da cesta básica na região Sul aumentou 2% em fevereiro em relação ao mês anterior. A elevação foi superior à média de aumento de 0,74% registrada no Estado. Enquanto no RS o grupo de alimentos básicos custa R$ 288,27, na Zona Sul o valor é de R$ 290,37. O levantamento realizado pela Receita Estadual demonstra que a carne bovina e de frango, assim como o café e o ovo, lideram a alta de preços.
A carne moída de segunda foi um dos alimentos com a maior elevação na região (55%), seguida pelo ovo de galinha (38%), a paleta bovina (20%) e o café moído (12%). O peito de frango teve um aumento mais tímido (3%). Entre os itens com recuo de preço estão o arroz (5%), o feijão (6%), a alcatra (4%) e a banana (2%).
Além disso, na região Sul, no acumulado de 12 meses, a elevação da cesta básica foi de 12%, duas vezes superior ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), que ficou em 4,96% no mesmo período. A alta também é maior do que a de 9,65% registrada no RS.
A realidade nos supermercados
O reflexo da inflação dos alimentos pode ser observado no comportamento dos consumidores nos supermercados. Nos corredores, as compras ocorrem após uma cuidadosa análise das marcas e preços dos produtos. Em Pelotas, ao verificar os preços da carne bovina nos freezers de um mercado do Centro, Jerusa Oliveira decidiu que a proteína do jantar seria comprada em um estabelecimento perto de sua casa, no bairro, por ser mais em conta.
“Está muito caro, acaba não rendendo na mesa, o salário já não é alto, então acabamos prejudicados”, diz. De acordo com a consumidora, cortes bovinos, como a alcatra, não estão mais sendo servidos na sua casa há meses. “Está sem condições, a gente vai para comprar alguma coisa e tem que sair com outra porque é mais barato. Os itens de primeira necessidade estão muito caros”.
Pressão inflacionária na região
De acordo com o economista e professor da UFPel, André Carraro, a inflação dos alimentos acima do IPCA-15 na região Sul indica que fatores regionais, como custos logísticos, condições climáticas e variações sazonais de oferta podem estar contribuindo para esse aumento acima da média.
O aumento da cesta básica nos últimos 12 meses (12%) quase duas vezes maior do que o reajuste médio do salário-mínimo (7,5%) compromete cada vez mais o orçamento familiar com os custos da alimentação, reduzindo o poder de consumo em outras áreas essenciais como moradia, transporte e educação. “Esse cenário agrava a desigualdade social, pois impacta mais fortemente as famílias de baixa renda, que destinam uma proporção maior de seus ganhos à alimentação”, diz o economista.
Segundo Carraro, a elevação do custo dos alimentos traz várias consequências sociais e econômicas. O economista destaca a insegurança alimentar, pois o aumento de preços considerado trata de alimentos básicos. “Ao mesmo tempo, pequenos produtores e comerciantes podem sofrer com a redução do poder de compra da população, afetando a economia local”, acrescenta.