Após terminar o ano de 2024 com alta de 30% em relação ao ano anterior, os indicadores de homicídios em Pelotas apontam uma redução de 90% nesses primeiros 65 dias do ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. O resultado, segundo órgãos de segurança, é atribuído às ações repressivas do ano passado e ao trabalho de inteligência das polícias.
Especialistas dizem que é cedo para analisar o cenário, mas a realidade é que foram mais de dois meses sem um crime contra a vida. O primeiro registrado até o momento é do encontro de um corpo carbonizado em um terreno baldio na rua Senador Mendonça, no dia 3 de março. Há outro caso, que seria uma lesão corporal seguida de morte, ainda em investigação e que poderá ser descartada Crime Violento Letal Intencional (CVLI). O desafio das polícias agora é manter esse indicador.
O delegado Márcio Steffens, responsável pela 18ª Delegacia Regional de Pelotas, considera que as ações integradas e a de cada instituição de segurança pública isolada têm impacto no resultado. “No nosso caso com uma repressão muito forte do tráfico de drogas, a Delegacia de Homicídios dando resposta pontual em cima de cada crime”, destaca. Na visão do delegado, são ações cujo resultado aparecem a médio e longo prazo, como o do momento atual.
Marina Nogueira Madruga, coordenadora do Curso de Tecnologia em Segurança Pública e Professora na Universidade Católica de Pelotas (UCPel) considera dois meses um intervalo pequeno para se fazer uma análise aprofundada das causas e consequências das variações nos indicadores criminais em Pelotas. “Oscilações em curtos períodos são comuns se compararmos janeiro e fevereiro de 2024 para 2025”, a especialista diz que para compreender melhor os fatores que influenciam esses números, é essencial adotar uma abordagem de longo prazo. O também professor da Católica, Aknaton Toczek Souza, que é especialista em direito penal e criminologia e pós-doutorando em segurança e sistema de justiça (UFF) sugere que a queda está na migração da criminalidade para o mundo digital.
“Na realidade, a diminuição do homicídio e de outras práticas violentas em geral pode ter ocorrido porque, aparentemente, tem acontecido uma mudança do comportamento criminoso de rua, aquele mais violento, mais ostensivo, por uma criminalidade digital”, diz o professor com base em alguns números de indicadores que acompanha.
A professora Marina difere da opinião. “O que ocorre é uma diversificação das práticas criminosas. Crimes digitais cresceram devido ao avanço tecnológico, afinal, muitas questões econômicas e bancárias, por exemplo, se resolvem com um clique no celular. No entanto, não se pode, neste momento, afirmar que crimes violentos tradicionais, como homicídios e roubos, muitas vezes influenciados por dinâmicas locais e sociais, estão sendo substituídos pelos virtuais”.
Policiamento estratégico
Enquanto os motivos da redução são debatidos, a Brigada Militar, através do 4º BPM, ressalta que os indicadores de homicídios estão na pauta das reuniões do RS Seguro e há uma troca de informações que auxiliam a cada uma das instituições nas demandas e ajustes de ações integradas. “Tivemos uma enorme redução neste início de ano, fruto de trabalho de inteligência, de análise criminal e de lançamento de viaturas e operações em áreas apontadas nos estudos de inteligência. Cumprimento de mandados de prisão, recaptura de foragidos e ações contra o tráfico de drogas”, cita o comandante do Batalhão, tenente-coronel Paulo Renato Scherdien.
Sensação de segurança
As estatísticas de segurança, na avaliação do secretário de Segurança Público Márcio Medeiros, impactam ainda na economia do município, pois o empreendedor vai investir em uma cidade que ele possa se sentir seguro. Para o titular, as ações da BM e a presença dos órgãos de segurança pública na rua, as prisões efetuadas pela Polícia Civil e pelos demais órgãos corroboram na identificação das lideranças de organizações criminosas, o que contribui na queda desse tipo de crime. “O homicídio é o que causa o maior clamor social. Ele é o que repercute mais negativamente na sociedade”, observa.
Criminalidade em Rio Grande
Diferentemente de Pelotas, Rio Grande mantém os números de CVLIs do período de 2024 com oito mortes, porém encerrou 2024 com queda nos homicídios. De acordo com a titular da 7ª Delegacia de Polícia, Ligia Furlaneto, as estratégias trabalhadas a partir do mapa da criminalidade permitiu ações específicas que garantiram um Carnaval sem nenhuma ocorrência grave. “Antes do início da folia, a Polícia Civil realizou uma operação integrada com a Brigada Militar para reprimir os crimes de homicídios e a captação de provas para as investigações, bem como repressão ao tráfico de drogas”, destaca. A partir de então, foram cinco dias com equipes atuando nos desfiles dos blocos, reforçando o efetivo dos demais órgãos de segurança. “Tivemos algumas brigas isoladas que resultaram em lesões. Podemos observar centenas de milhares de pessoas circulando pela avenida e por ruas internas do Balneário com muita segurança”.