Debate sobre drogas domina a Câmara

Opinião

Douglas Dutra

Douglas Dutra

Jornalista

Repórter e colunista de política do A Hora do Sul | douglas.dutra@ahoradosul.com.br

Debate sobre drogas domina a Câmara

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Atualizado quinta-feira,
06 de Março de 2025 às 17:26

A sessão desta quinta-feira (6) na Câmara de Vereadores de Pelotas foi tomada pelo debate sobre o uso de drogas após a vereadora Fernanda Miranda (PSOL) ter sido flagrada pela polícia em um evento de carnaval com dois cigarros de maconha, no final de semana. Desde o começo da manhã, o plenário estava lotado de apoiadores e opositores da parlamentar, que em diversos momentos se manifestaram com aplausos, vaias, críticas e provocações.

Em seu discurso, Fernanda sustentou que não cometeu nenhum crime e que continuará discutindo temas tabus. “O que se montou nos últimos dias, essa inquisição, foi unicamente pelo viés oportunista e moralista, e não o debate profundo, científico, de saúde pública e economia. Ficou evidente que o único objetivo foi de desgastar e perseguir uma parlamentar mulher”, afirmou.

“Nós, mulheres que estamos nesses espaços, sabemos muito bem quantas mulheres foram queimadas na fogueira pela santa inquisição da igreja, e hoje é o que está acontecendo aqui, estou sendo queimada nessa fogueira”, disse.

O vereador Jurandir Silva (PSOL) defendeu a colega de partido. “Quero afirmar para quem, desinformado, possa querer reduzir o mandato da vereadora Fernanda a um episódio específico no final de semana, que ela tem um trabalho histórico nesta cidade, absolutamente respeitado em diversas pautas essenciais para a vida do povo da nossa cidade, e que tem o direito de na sua vida privada fazer o que quiser”, falou.

Plenário da Câmara ficou lotado de apoiadores e críticos de Fernanda Miranda (foto: Fernanda Tarnac)

Rafael Amaral (PP) começou aplaudido pelo público de direita ao afirmar que é radicalmente contra as drogas, e acabou aplaudido pelos apoiadores de Fernanda ao defender que o uso da maconha é uma escolha individual. “Eu tenho direito de não concordar, mas a vida pessoal é dela e não posso usar isso como campanha pré-eleitoral, como vi gente fazendo, e vi gente que usa outras drogas comentando em postagens”, comentou.

Adversários criticam

O vereador Daniel Fonseca (PSD) fez um discurso acalorado e afirmou que o uso de drogas financia o crime. “Passa na frente do presídio e vê quantas mulheres ficam horas na frente, se submetem a uma revista íntima, porque 98% dos seus filhos se envolveram com drogas, começaram com a maconha”, afirmou.

Na mesma linha, o vereador Michel Promove (PP) compartilhou a sua experiência com usuários de drogas, incluindo um irmão que foi assassinado em uma disputa de facções. “Isso é a Pelotas real, não é quem discute políticas públicas nos corredores de uma instituição”, criticou.

O vereador Marcos Ferreira, o Marcola (UB), afirmou que a conduta da vereadora deve ser avaliada diante do Código de Ética da Câmara. “Nós somos vereadores por 24 horas para trabalhar e defender o interesse da população”, disse.

“A questão aqui não é sobre a liberação ou não da maconha e do canabidiol, o que estamos discutindo é que uma parlamentar, presidente da Comissão de Educação, foi pega com droga”, apontou Cauê Fuhro Souto (PV).

Caso irá à Comissão de Ética

Vereadora comparou ataques com inquisição (foto: Fernanda Tarnac)

A polêmica envolvendo a vereadora Fernanda Miranda deve ir parar na Comissão de Ética da Câmara. O primeiro pedido foi protocolado já na manhã desta quinta por Adriane Rodrigues, que foi candidata a vice-prefeita pelo PL. 

O documento aponta que o ato de Fernanda ‘afeta a dignidade de seu mandato’ e pede que ela tenha o mandato cassado. “Embora a quantidade transportada possa ser considerada ‘pequena’, vemos que se trata de uma vereadora que se apresenta como representante da área da educação”, diz o texto.

Antes de o processo avançar à Comissão de Ética, o documento será avaliado pela assessoria jurídica da Câmara. Além disso, há a tendência de novos pedidos serem apresentados nos próximos dias.

Durante a sessão, o presidente da Câmara, Carlos Júnior (PSD), defendeu que não deve se fazer julgamento e que a Comissão de Ética é o espaço para esse debate. “Cada parlamentar aqui, independente de lado, tem sua vida particular”, disse. “Se algum parlamentar acha que outro fez alguma coisa errada, tem uma comissão onde outro parlamentar pode se defender”, afirmou o presidente.

Nos bastidores, a avaliação de vereadores é de que é inevitável que a situação vá à Comissão de Ética. No entanto, pelo menos por enquanto, é improvável que a situação avance para uma cassação.

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