Diminuição na produção por questões climáticas, aumento do consumo nacional e alto custo de produção são responsáveis por um novo aumento do café registrado entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025: 7,07%. Somados aos 46% de suba em 2024, torna o grão um dos itens que mais contribuíram para a elevada inflação registrada nos alimentos.
A alta demanda global pelo produto, especialmente por cafés de boa qualidade como o brasileiro, também contribuiu para a manutenção do preço. “A taxa de câmbio favorece muito a exportação do nosso café. A especulação do mercado futuro gera uma volatilidade nas commodities, assim como a possível escassez do grão contribui para essa alta”, explica o professor de economia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Gabrielito Menezes.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), em 2024 o consumo de café no país registrou aumento de 1,11%. No varejo, o preço médio dos cafés especiais sofreu aumento de 9,80%; a categoria de cafés gourmets registrou suba de 16,17%; já a categoria de cafés superiores 34,38% e os tradicionais e extra fortes acréscimo de 39,36%.
O professor ainda destaca que a cafeicultura é um ciclo de longo prazo. Um pé de café plantado hoje só começa a produzir daqui a alguns anos. Ainda, outro fator complicante é a logística, em que é comum ocorrer atrasos e problemas no transporte e armazenamento. “A produção deve continuar reduzida, o que deve seguir impactando o preço para os próximos meses. As perspectivas climáticas para 2025 e 2026 indicam chuvas abaixo da média e temperaturas elevadas, o que pode comprometer a produção de grãos e contribuir para a manutenção do preço elevado”, diz.
Aumento local
A última alta nos preços já é sentida por comerciantes de café em Pelotas. De acordo com o gerente do Café Armazém, Carlos Folle, até poucos meses atrás, o mercado de cafés apresentava certo equilíbrio de preços, com poucas diferenças entre diversos fornecedores. “Em decorrência da alta dos preços do café, ocorreu um fenômeno nítido de antecipação da inflação. Muitos fornecedores e produtores começaram a elevar seus preços a patamares muito superiores ao esperado, já imaginando ou prevendo possíveis altas futuras”, conta.
Devido a isso, a alternativa encontrada pela empresa vem sendo a de deixar de comprar muitas sacas de cooperativas de grande porte e passar a adquirir lotes menores, comprados diretamente das famílias que produzem o café. “Essa abordagem nos possibilita preços melhores – por não haver a cooperativa como atravessadora -, e ao mesmo tempo remunera diretamente o agricultor”, explica Folle. A empresa opta por repassar ao consumidor o menor valor possível de aumento, reduzindo a margem de lucro, e comercializa tanto para empresas quanto para o consumidor final.
Em duas cafeterias de Pelotas, Leve Café e Díade, o novo aumento ainda não foi repassado ao consumidor final, mas, possivelmente, o repasse deverá ocorrer no mês de março. “Há três anos nós pegávamos quase metade do valor do café que está agora. Então é uma suba muito grande, principalmente nos últimos meses. Está insustentável”, comenta a proprietária do Díade, Etienne de Oliveira.
Na avaliação do proprietário do Leve Café, Ricardo Hernande, devido aos preços tabelados praticados pelo mercado, vem sendo difícil encontrar alternativas de compra de café com preços menores. “Começamos a trabalhar com uma empresa de Pelotas que fornece o café para nós e hoje é o que tem o melhor preço”, conta.