O último boletim da Secretaria de Segurança Pública do Estado aponta que o mês de janeiro foi mais violento em crimes de gênero. Em Pelotas, por exemplo, os registros de lesão corporal de gênero passaram dos 58 rem janeiro do ano passado para 74 em 2025, um acréscimo de 27,58%. Para a Secretaria Municipal da Mulher, o enfraquecimento da rede de atendimento especializado às vítimas é um dos motivos.
Os registros de ameaças também foram altos em janeiro, com 77 ocorrências, porém abaixo do mesmo período do ano anterior (84). A titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), Márcia Chiviacowsky, diz que, no verão, calor e as férias podem ser fatores que contribuem para o aumento dos índices de violência.
Ela alerta para o período do Carnaval, quando se soma ainda a ingestão de bebidas alcoólica e bailes, o que pode gerar uma maior animosidade entre as partes. Márcia lembra que todo boletim de ocorrência de lesão corporal se abre um inquérito policial sendo que o autor, de alguma forma, irá responder pelo crime. “Mesmo que a vítima diga que não quer processar o companheiro”, enfatiza a delegada.
Enfrentamento
Para a titular da Secretaria da Mulher, Marielda Medeiros, é preciso retomar o trabalho das redes de enfrentamento com comunicação sinérgica entre os setores, efetividade nos atendimentos e transparência. A titular diz que os altos índices não dependem de fatores como manifestações populares, mas sim pelo desmantelamento das redes de atendimento, atribuindo à falta de qualificação das pessoas que prestam esse atendimento como uma das formas. “São bem-intencionadas, mas não são técnicos especializados e prestam atendimento às vítimas e na avaliação das situações de violência”, explica a secretária.
Para Marielda, a persistência dos altos índices de violência contra a mulher mostra que somente as punições não são necessárias para coibir as violências, pois existem diversos fatores que contribuem, como a cultura patriarcal e machista da sociedade que normaliza as violências contra as mulheres. “É importante não apenas punição, mas também educar a sociedade com a mudança de paradigmas em relação às mulheres, bem como o fortalecimento às mulheres em situação de violência para buscarem seus direitos”, afirma.
Apoio
Uma das integrantes da rede, a Brigada Militar intensificou essa semana as ações de prevenção e repressão à violência doméstica e familiar contra a mulher por meio da Operação Arthemis. A iniciativa foi nos municípios abrangentes do 4°BPM e teve como foco principal a fiscalização do cumprimento de Medidas Protetivas de Urgência (MPU) e o atendimento especializado às vítimas.
Com o apoio das patrulhas Maria da Penha, as guarnições realizaram visitas a mulheres em situação de risco e monitoraram os casos mais graves. Durante a operação foram 18 atendimentos, alguns deles com situação de vulnerabilidade (atendimentos com registro de descumprimento de medida que ganham um acompanhamento mais frequente a partir da exposição ao risco). Foi realizada também ação de conscientização no calçadão de Pelotas com a entrega de panfletos que informam sobre os tipos de violência e como buscar ajuda.