Projeto de preservação de golfinhos na Lagoa dos Patos é premiado na Inglaterra

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Projeto de preservação de golfinhos na Lagoa dos Patos é premiado na Inglaterra

Ong Kaosa tem a meta de reduzir em 40% a mortalidade não natural da espécie Boto de Lahille, que enfrenta risco de extinção

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Projeto de preservação de golfinhos na Lagoa dos Patos é premiado na Inglaterra
Espécie é restrita às águas rasas da América do Sul. (Foto: Rodrigo Verones)

Atuando na preservação de Botos de Lahille na Lagoa dos Patos há pelo menos 20 anos, o biólogo Pedro Fruet foi contemplado pela segunda vez com o financiamento da Whitley Fund for Nature (WFN). A fundação inglesa premia pesquisas que se destacam pelo trabalho de conservação da biodiversidade global. Com o recurso de 100 mil libras (R$ 719 mil), a meta é reduzir a mortalidade não natural dos golfinhos em 40% nos próximos anos.

O Boto de Lahille é uma espécie restrita às águas rasas na costa atlântica da América do Sul (entre Brasil, Uruguai e Argentina). A estimativa é que atualmente a população seja de apenas 600 animais, com maior concentração na Lagoa dos Patos, principalmente em Rio Grande. Com uma reprodução lenta, os cetáceos estão ameaçados pela pesca incidental e a degradação do meio ambiente marinho. “O primeiro filhote é só a partir dos oito anos de idade. Por isso que temos um olhar mais intenso sobre esses animais”, diz Fruet.

O trabalho de monitoramento é realizado pelo biólogo e outros profissionais da Ong Kaosa em parceria com mais 15 instituições. Com o apoio da WFN, a Kaosa ampliará as ações para reverter o estado crítico de conservação dos botos e a atuação em rede com colaborações no Uruguai e Argentina. “Se conseguirmos manter essa população saudável [na Lagoa dos Patos], ela pode crescer e auxiliar as populações adjacentes a se recuperarem”, explica.

Projeto com olhar científico, social e artístico

Atualmente são dez áreas de monitoramento ao longo da costa, em que os pesquisadores observam a movimentação, a abundância e a estimativa de sobrevivência dos animais. Além da parte científica, o projeto integra ações sociais para mobilizar a comunidade rio-grandina e os pescadores sobre a importância de boas práticas para a preservação dos botos. “Queremos fazer uma construção com o consentimento social”.

Além disso, o objetivo é disseminar a beleza dos golfinhos, que é difícil ser observada pela maioria das pessoas devido a localização deles na costa. Para isso, será realizada uma exposição fotográfica e estão sendo criadas réplicas dos botos para serem colocadas em pontos estratégicos das ruas de Rio Grande. “A gente quer ter uma parte lúdica com artistas locais”.

Preservação em Rio Grande

Desde 2014, uma área do estuário da Lagoa dos Patos em Rio Grande é destinada à preservação dos Botos de Lahille. No local, a pesca com rede de malha é proibida para evitar a mortalidade incidental, que ocorreu em grande quantidade há cerca de 15 anos.

Diante disso, a Kaosa irá avaliar a efetividade da preservação na área e o impacto que a restrição da pesca poderia estar causando aos pescadores artesanais da região. De acordo com o biólogo, as boas práticas dos pescadores podem ser um dos principais meios de conservação da espécie.

Oscar verde

Em 2021, o trabalho de Pedro Fruet e da Kaosa já havia sido reconhecido pela Whitley Fund for Nature com o Whitley Award, conhecido como o “Oscar Verde” da conservação. Neste ano, o financiamento foi concedido para a continuidade das ações de preservação, após a fundação avaliar que o projeto tem resultados efetivos.

“Estamos num caminho sólido e esse financiamento vai ajudar a consolidar ainda mais. Tu passa por um crivo muito duro entre pessoas que trabalham com conservação no mundo inteiro”, diz o biólogo.

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