A entrevista exclusiva do jornal A Hora do Sul com Juliana Medeiros, empresária e gerente do Circulu’s Lanches, dá voz ao lado humano nas relações comerciais daquele que se tornou um dos episódios de maior repercussão em Pelotas nos últimos anos, principalmente pelo tribunal de julgamento chamado rede social. Até então, o tripé empresa-serviço-cliente prevaleceu nos debates. Compreensível por se tratar de um negócio. Mas como em qualquer CNPJ, pessoas estão por trás de tudo, sempre. Trabalhadores, pais, mães, gente que sustenta o lar, ajuda a família, acorda cedo e volta para casa tarde da noite.
A conversa com Juliana não é uma defesa do Circulu’s. Ao contrário. Quem trabalha com a manipulação de alimentos tem compromisso com a saúde pública.
A lanchonete se aproxima dos 34 anos de uma bela história construída a partir da iniciativa de seu João e dona Maria, os pioneiros do projeto, e não chegou aonde está por acaso. Virou referência na área gastronômica da cidade, com um padrão reconhecido. Até precisar enfrentar, no Natal de 2024, uma das piores crises de sua linha do tempo, envolvendo justamente sua grande marca: a qualidade no preparo dos alimentos.
Juliana fala de lições. Do dia para a noite os elogios deram lugar às críticas, ameaças pessoais inclusive. Um púlpito para o tribunal do júri tentou ser montado na internet, sem direito à defesa e veredito praticamente pronto. O legado fortalecido desde 1991 quase jogado na mesa dos réus. Para cada ataque, entretanto, defesas voluntárias surgiram. Gente fiel ao Circulu’s, clientes de longa data e conhecedores do trabalho lá realizado. Conscientes da falha, mas dispostos a interpretações sem radicalismo.
Vítimas serão sempre vítimas, e cabe a elas a solidariedade. Merecem respostas sobre o ocorrido, algo que deve ser conhecido em breve. Foram privadas dos momentos de confraternização junto à família, e precisaram de atendimento médico. Inegável o prejuízo na data mais afetiva do calendário.
O caso Circulu’s é um alerta. Assim como nenhum investimento está imune a problemas, por mais rigoroso que seja seu controle de qualidade, não se pode relaxar – desafio diário, quase nos 365 dias por ano. Ao mesmo tempo, é inaceitável sentenciar projetos sólidos usando o oportunismo de ocasião. A lanchonete ainda enfrenta o impacto dos registros de intoxicação alimentar, teve perda de clientes, reforçou ainda mais a segurança no preparo dos alimentos e também aguarda o laudo definitivo para entender o que aconteceu.
Parte da sociedade não se interessa por razoabilidade. Prefere a insensatez. Mais fácil é tentar destruir a história do casal que atravessava a cidade de bicicleta para trabalhar e, na data de inauguração do empreendimento (em 8 de março de 1991), vendeu apenas 15 lanches. Pensou em desistir, acreditou e venceu. Escreveu uma história de superação, como tantas empresas de Pelotas que carregam o sucesso no currículo e também lutam contra as adversidades.