“Na engenharia agrícola, 20% são mulheres e no topo da carreira são uma ou duas”
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quarta-Feira12 de Fevereiro de 2025

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“Na engenharia agrícola, 20% são mulheres e no topo da carreira são uma ou duas”

Gizele Ingrid Gadotti é responsável por associações que têm o propósito de aumentar a inserção de mulheres em cursos de engenharia e na carreira científica

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“Na engenharia agrícola, 20% são mulheres e no topo da carreira são uma ou duas”
Gizele atualmente leciona na UFPel. (Foto: Arquivo pessoal)

Engenheira agrícola há 21 anos, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Gizele Ingrid Gadotti é responsável por associações que têm o propósito de aumentar a inserção de mulheres em cursos de engenharia e na carreira científica. Gizele também lidera pesquisas sobre a utilização de inteligência artificial na agricultura e o desenvolvimento de máquinas agrícolas.

Como você escolheu a engenharia agrícola?

Na Feira de Ciência da escola, há 30 anos, fizemos um projeto de estufa automatizada e ganhamos na área de agricultura no Liberato Salzano, Colégio de Novo Hamburgo. Um dos prêmios era ir para os Estados Unidos e isso me abriu um leque. Eu sempre gostei da agricultura porque todos os meus familiares tinham vindo do interior.

Mas eu gostava da área de máquinas, do processamento da fábrica de ração do colégio agrícola, eu nunca fui ligada a animais ou plantas, mas ao que está naquela estrutura.  Então eu sempre tive esse lado da ciência, mas da inovação. Eu sempre enxerguei a engenharia como uma forma de ajudar a melhorar o mundo e o mundo que eu gostava que era o mundo da agricultura.

Na universidade você percebeu alguma restrição para a atuação de mulher na engenharia?

Eu nunca tive dentro da universidade essa diferença, graças a Deus. Eu fui entender a diferença do que era uma mulher na área de engenharia quando eu saí da Universidade. Foi quando eu senti mais.

Só para se ter uma ideia, dentro da Engenharia agrícola, 20% no máximo são mulheres e no topo da carreira a gente tem uma ou duas. Por óbvio que a base também tem poucas meninas. Então, eu notei que eu queria mais mulheres nessa área comigo, eu tinha que chamar mais meninas.

O que você viu que podia ser feito para melhorar a inserção de mulheres em uma carreira predominantemente masculina?

Eu comecei a participar do Programa Mulher do Conselho Federal de Engenharia. Nós fundamos uma associação feminina no Estado do Rio Grande do Sul de mulheres engenheiras, que chama Ceag. Agora temos dentro da universidade a Society of Women Engineers, a SUI, que é a maior sociedade de mulheres engenheiras do mundo, com mais de 40 mil engenheiras, que veio através de uma aluna nossa que foi fazer estágio final na John Deere.

Temos ido nas escolas, apresentando as mulheres formadas em engenharia porque as meninas não se enxergam na área da engenharia. E o nosso público é de classe baixa, eles têm dificuldade em física e matemática porque na escola pública esse ensino às vezes é precário.

Mesmo que as meninas tenham boas notas em física e matemática, há um estudo realizado em que se pergunta para essas crianças quem é um engenheiro e elas sempre dizem que são homens, nunca enxergam as mulheres. E outra coisa, a gente quer mais engenheiros no Brasil. Um país que quer se desenvolver precisa de mais engenheiros, não importa a área de atuação.

Quais são as dificuldades no Mercado de Trabalho?

Primeiro a seleção começa com você tendo que mandar uma foto, então não olham o teu currículo, olham a tua estética, às vezes começa por isso. Para enfrentar as dificuldades, a minha geração tem que se podar um pouco, então a roupa é mais masculina, a gente tem uma voz incisiva.

Quando tem que enfrentar e às vezes os caras acham que somos briguentas. Então um homem que chega numa reunião e apresenta uma proposta, ele é líder. Uma mulher que chega numa reunião e apresenta uma proposta, ela é briguenta. A ideia é que você sempre está ali para servir, e não que você está ali para atuar.

Quais são as áreas em que você lidera pesquisas?

A gente trabalha com inteligência artificial para agricultura, com agricultura digital, principalmente a minha área é ligada a sementes. Já tem patentes, equipamentos, a gente trabalha muito com desenvolvimento de equipamentos. Temos mais de cem artigos publicados.

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