Brasil e Pelotas voltam a se enfrentar neste sábado no estádio Boca do Lobo após um longo período sem o maior clássico do interior gaúcho. E pela segunda vez nos 112 anos de história do Bra-Pel, com a presença da torcida mista. Lobos e Xavantes juntos na mesma arquibancada, torcendo por seus times, sem olhares tortos para o lado, onde não haverá inimigos, mas pessoas que, como tudo na vida, não pensam necessariamente igual.
A torcida mista contrasta com a polarização no Brasil, doença que contamina as relações em níveis assustadores e que vem criando um cenário de distanciamento das pautas necessárias para pensarmos as cidades, os estados e o país, como já conseguimos em outros momentos da nossa jovem democracia. A era é de radicalismo em conceitos básicos do viver coletivo. Em casa, na escola, no trabalho e nas ruas há um muro invisível separando hoje os indivíduos. Pura e simplesmente pela não aceitação de quem se encontra em lado oposto. Como se posicionamentos contrários – em qualquer situação – fossem motivos para erradicar alguém.
Costuma-se dizer que o torcedor troca de trabalho, de carro, de casa e de cidade, mas não troca de time. É passional com a camisa do seu clube. Por 90 minutos nos estádios ou na frente da tevê, deixa de lado a civilidade e extrapola. Xinga, chora, grita e vibra nas vitórias, com o mesmo sabor palatável nas derrotas dos adversários. Nos clássicos, as cores se potencializam. Polariza-se no esporte também.
Com a expectativa de um Bra-Pel tranquilo, a torcida mista entrará em campo e fará a sua parte. Em torno de 400 pessoas unidas apenas pela festa proporcionada pelo futebol, despreocupadas com a ideologia, a classe social, a cor, o gênero, a religião ou o time de quem estiver no mesmo metro quadrado da arquibancada. Caminharão juntas até o estádio, passarão por torcedores incrédulos com a cena, e mostrarão como é possível conviver com as diferenças em um cenário tradicionalmente de opostos. A torcida mista será neste sábado a prova de que ainda temos civilidade para oferecer. E o Jornal A Hora do Sul estará em campo para acompanhar desde as primeiras horas da tarde essa grande festa, com a transmissão da partida pelo YouTube às 16h30min.
Está na política a face mais dura da divisão ideológica nacional e sua amplitude, como um vírus que se espalha e infecta as relações. Se não percebermos os danos a que estamos expostos, corremos o risco de passar um longo período tendo que administrar os principais sintomas causados por ela: a falta de diálogo por uma agenda convergente, seguido de retrocessos social e econômico.
Precisamos parar de criar inimigos imaginários e voltar a enxergar as pessoas que pensam diferente de nós, dentro de uma razoabilidade e dos pilares da democracia. Precisamos de mais Bra-péis com torcidas mistas.
