Insurreição necessária
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quarta-Feira5 de Fevereiro de 2025

Opinião

Jarbas Tomaschewski

Jarbas Tomaschewski

Coordenador Editorial e de Projetos do A Hora do Sul

Insurreição necessária

Por

Há 25 anos a Metade Sul era manchete nacional. A miséria do pampa ganhava capas de jornais, chamadas em rádios e tevês. Com Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) semelhantes aos piores indicadores das regiões mais empobrecidas do Brasil – o Nordeste era a referência -, estava nos municípios da parte de baixo do mapa gaúcho o resultado da falta de uma política de Estado e seu impacto no desenvolvimento e na vida da população. Época em que a palavra “pedágio” ainda era rara no dicionário das estradas.

Duas décadas e meia depois a pauta revive, agora sob outra agenda. Os investimentos e avanços que a Metade Sul recebe e trabalha para acontecerem estão novamente em risco. Para o governo federal, a concessão da BR-116 à iniciativa privada, entre Camaquã e Porto Alegre, representa a “Maior pipeline de concessões da história”. Para os mais de 30 municípios que dependem direta e indiretamente da rodovia por onde a economia circula, trata-se do aumento da asfixia imposta ao setor produtivo e do processo de desindustrialização.

A miséria do pampa dá sinais de vida, como foi escrito pelo jornalista Lúcio Vaz em 1999, enviado especial naquele ano para mostrar e alertar os brasileiros da nossa “nordestização”. Um cenário de caos descrito. Se transformada em unidade federativa, a Metade Sul seria apenas o 13º estado do país em desenvolvimento humano. Dos dez municípios com o maior PIB, somente dois eram daqui: Rio Grande (6º) e Pelotas (7º). A crise na pecuária varria os campos, a média salarial era pífia e as prefeituras atrasavam os pagamentos em meses.

A previsão de mais dois pedágios até a capital do Estado pelo principal acesso à Metade Sul assusta e dialoga com o atraso. É inaceitável do ponto de vista estratégico. Desconsidera totalmente o papel da nossa região no Rio Grande do Sul. O governo federal repassa a estrada na forma de concessão, livra-se do problema, administra dos gabinetes em Brasília e vira as costas para uma região onde vivem cerca de um milhão de habitantes.

A insurreição empresarial e política contra dois novos pedágios previstos no trecho de 130 quilômetros é legítima. Após o anúncio na última terça-feira, autoridades e representantes setoriais foram taxativos: se efetivado, o resultado será catastrófico e levará a uma nova estagnação econômica. Por isso a mobilização é fundamental. São vozes que viveram a realidade de 25 anos atrás e também lutaram para retirar a Metade Sul daquele momento de grande dificuldade.

O jornal A Hora do Sul soma-se aos que se levantam em defesa da pauta regional: NÃO A NOVOS PEDÁGIOS. Temos um papel junto à sociedade e não vamos nos omitir. Nosso posicionamento como veículo de comunicação que trabalha por um ambiente de negócios favorável é transparente. NÃO SOMOS CONTRA a cobrança como recurso de gestão das rodovias. Somos críticos a modelos que desvinculam dos projetos os impactos sócio-econômicos causados por cancelas meramente arrecadatórias. E a proposta de dois postos de cobranças programados para a BR-116 nos próximos anos, entre Camaquã e Porto Alegre, ignora o fato de que, da capital até o Rio Grande, já temos três praças instaladas.

Como referência e posicionamento, você – leitor – irá identificar um selo criado exclusivamente para pontuar essa pauta. A marca estará presente nas reportagens sobre o assunto a partir de hoje, para reforçar o compromisso que assumimos. Acreditamos no diálogo e na articulação para resolver o problema. E estaremos juntos em defesa dos interesses coletivos. Não iremos aceitar o risco de a região do pampa ressurgir com bolsões de miséria e atraso institucionalizado. E convidamos todos aqueles que pensam como o A Hora do Sul a se juntar numa sólida campanha de mobilização.

DIGA NÃO A NOVOS PEDÁGIOS.

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