À espera do vento Sul, safra do camarão deve ser tardia

Na Lagoa dos Patos

À espera do vento Sul, safra do camarão deve ser tardia

O clima na Colônia de Pescadores Z-3 ainda é de incerteza, mas a expectativa é que uma pesca média atenue os prejuízos da enchente de maio de 2024

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À espera do vento Sul, safra do camarão deve ser tardia
Na Z-3, pescadores já se preparam para ir à Lagoa buscar o camarão. (Foto: Jô Folha)

Deste sábado, até o dia 31 de maio, está liberada a captura de camarão na Lagoa dos Patos. O período não só representa o sustento de milhares de famílias de pescadores artesanais, mas também a possibilidade de um ganho financeiro para reconstruir a vida de muitos pescadores que perderam tudo com a enchente de 2024. Mas o mesmo vento Sul que demorou a baixar as águas em maio, não tem colaborado para a salgar a água da laguna, fator essencial para a entrada do crustáceo. Em Pelotas, prefeitura e associações decidiram adiar para o dia 8 a abertura oficial da temporada da safra. Em Rio Grande, o sábado será de eventos no Mercado das Docas para celebrar a data.

O professor do Instituto de Oceanografia da Furg, Luiz Felipe Cestari Dumont, diz que a expectativa é de um camarão pequeno no início da safra. “No entanto, eles crescem bem rápido nesta época e a situação deve melhorar. Ainda temos larvas entrando, o que deve fazer com que a produção vá melhorando em direção ao final da safra”, observa. A exemplo dos anos anteriores, as associações não trabalham com números para não frustrar expectativas, mas pelas características do tempo – direção do vento predominante hoje é de sudoeste a sudeste e no domingo de leste a nordeste – pode ser uma safra tardia e rápida.

Solenidade adiada

Pela baixa salinização da água na região de Pelotas, decidiu-se pela prorrogação da data de abertura da safra para o próximo sábado, dia 8, o que não impede a saída dos pescadores para a lagoa. A extensionista rural da Emater, Marcia Vesolosquzki, explica que o adiamento é apenas da solenidade oficial, por causa do tamanho do crustáceo. “Os pescadores já estão aptos a capturar a partir de amanhã (sábado). Mas o ato solene vai ser no dia 8, porque o camarão está pequeno e em uma quantidade bem menor do que era a expectativa”, justifica. A extensionista acrescenta que embora o cenário atual, há expectativa de aumento da safra.

Um pescador, que não quis se identificar, espera por uma safra que possa recuperar tudo que perdeu em casa. “Eu espero que ajude na compra de utensílios e móveis para dentro de casa, que foram levados pela enchente.” Dentro de um cenário de incertezas, o pescador ainda depende do preço que vão pagar pelo camarão, que por sua vez também depende de atravessadores. “A gente vende para o salgueiro que faz a limpeza do camarão. Esse leva para as feiras e outros lugares como os restaurantes. Então pagam muito pouco”, relata. No início da safra ele chega a ganhar de R$ 10 a R$ 12 pelo quilo do crustáceo, mas se aumenta a oferta, os compradores já oferecem bem menos pelo camarão.

Outro pescador diz que está tudo pronto para a safra. “Só falta o camarão. Precisa mudar o vento”, diz Alexandre Bernardo, 56, e pescador desde os 12 anos. Experiente com a lida na lagoa, ele diz que se não fizer muito frio pode ter safra. “Tem criação espalhada para o lado de Rio Grande, na Torotama. Se der um vento forte do Sul o camarão vem para cá. Mas ele precisa crescer e ainda está no fundo da lagoa, onde a água é mais gelada e escura, o que não favorece”, observa. Esperançoso, o pescador também aposta em uma safra média para recuperar os estragos da enchente.

Mas tudo vai depender da valorização do crustáceo. “Falta indústria aqui. As de Rio Grande também estão fechando, porque eles pegavam todo o nosso pescado.” Sem ter como armazenar, a saída é vender conforme a oferta. “R$ 10 o quilo, quem comprou vende por R$ 12 ou R$ 13 e repassa para mais um a R$ 16”, critica.

No prato

Para o consumidor final, o preço já é bem diferente. Dono de restaurante do Laranjal, Marcelo Costa Ávila compra todo o pescado diretamente de um pescador da Z-3. Para ele, se houvesse uma cooperativa, o custo final seria mais em conta. “Hoje eu pago R$ 72 pelo quilo do camarão”.

Desde 1980, a banca de peixe Colônia Z-3, no Mercado Central, procura manter uma variedade de pescados. Quando estão em período de defeso, a proprietária Janaina de Souza Mattos, que mora na colônia, compra – no caso do camarão de cativeiro – da Lagoa do Peixe, o que deixa o produto mais caro. Com a entrada da safra ela passa a adquirir da Z-3, e admite ser de intermediários. “Acho que falta uma Cooperativa organizada, com refrigeradores e bem administrada, que pudesse industrializar 50%, por exemplo, de todo pescado, até para deixar os pescadores livre para vender para terceiros”, opina. Na banca, o crustáceo está a R$ 78 o quilo limpo, e o cartaz indica a procedência.

Cooperativa já existiu

A Colônia de Pescadores Z-3 já teve uma cooperativa, que levou seis anos para ser inaugurada e, em fevereiro de 2007, funcionou pela primeira vez, sendo que no primeiro dia limpou cinco toneladas de camarão. Atualmente há duas indústrias de pescado registradas no serviço de inspeção Municipal.

Festa em Rio Grande

Neste sábado, Rio Grande promove várias atividades na abertura da safra do camarão. Haverá exposições, atividades culturais e opções de gastronomia, além dos pontos de venda nas docas do Mercado Público. Estão formalizadas 12 estruturas para a comercialização, distribuídas pela região. Além de movimentar a economia rio-grandina, a safra do camarão também é uma oportunidade para desfrutar da gastronomia local. Restaurantes e estabelecimentos tradicionais do Mercado Público vão oferecer pratos típicos que destacam e valorizam o sabor do crustáceo.

O presidente da Colônia de Pescadores Z-1, Nilton Mendes Machado, diz que o camarão ainda está pequeno e em pouca quantidade. “Para a pesca e para o consumo não está no ponto, está muito miúdo. Dos graúdos são poucos”, resume. Mesmo assim, a esperança é de melhorar ao longo dos meses.

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