O anúncio do Ministério dos Transportes sobre a inclusão de novas praças de pedágio na BR-116, repercute negativamente entre entidades e políticos da Zona Sul. Em nota oficial divulgada nesta quarta-feira (29), o Centro das Indústrias de Pelotas (Cipel) manifestou repúdio em relação à proposta, e apontou que os novos pedágios agravam a desindustrialização e prejudicam o desenvolvimento da região. A proposta prevê a instalação de até duas praças entre Camaquã e Porto Alegre, como parte da concessão da Rota Integração do Sul.
O texto publicado pela entidade destaca que, desde que as concessões foram impostas às rodovias, houve um processo alarmante de desindustrialização. A avaliação é de que o setor produtivo vem sendo asfixiado pelos altos custos logísticos, o que afasta investimentos, inviabiliza a competitividade e força empresas a migrarem para regiões onde há condições mais justas de crescimento.
Para o Cipel, os custos da infraestrutura do pedágio são jogados para frente e recaem exclusivamente sobre o setor privado e a população. A entidade também critica o Estado, apontando a falha em oferecer contrapartidas reais para impulsionar o crescimento econômico e garantir o equilíbrio na matriz produtiva. “O resultado é a estagnação econômica da Zona Sul, com menos investimentos, menos empregos e menos oportunidades para a indústria.”
A organização também se posicionou contra a ideia de uma Rota de Integração, interpretando-a como um modelo que ignora as reais necessidades da economia regional e que apenas impõe mais barreiras ao desenvolvimento. Além disso, reafirmou tolerância zero para novos impostos, taxas ou qualquer outro mecanismo que onere ainda mais a produção industrial e a geração de empregos.
Plano de mitigação
O presidente do Cipel, Augusto Vaniel, frisa que o governo federal deveria tratar com um olhar mais cuidadoso, oferecendo condições de desenvolvimento sem aumentar a carga de impostos. “A região está abandonada”, ele define. Ele ressalta que o governo deveria encontrar um modelo de mitigação de riscos para uma rodovia tranquila e segura, que ofereça condições de trabalho e atraia novas indústrias para a região.
Retrocesso
Além de se posicionar contra a instalação de novas praças, a prefeita de Rio Grande, Darlene Pereira (PT), ressalta que luta para que as tarifas sejam reduzidas, principalmente no pedágio da BR-116. “Sou radicalmente contra ao aumento de qualquer centavo de pedágio”, pontua.
Ela afirma que se surpreendeu negativamente ao ver a notícia de uma possível criação de uma nova praça de pedágio. “Isso é algo que considero um retrocesso, ainda mais no momento em que estamos lutando pela redução”. Darlene já convocou outros prefeitos da região, além de vereadores, lideranças empresariais e entidades de trabalhadores, para evitar que a medida seja tomada.
Segregação econômica
O deputado federal Daniel Trzeciak (PSDB), entende que o aumento de pedágios nas rodovias da região significa mais obstáculos para quem deseja empreender e gerar empregos, além de representar a estagnação para a região. “Isso ocasiona uma segregação econômica”, ele afirma, “uma região que tem potencial, mas que está completamente sem estímulo e incentivo por parte do governo federal.”
Necessidade de análise geral
Em vídeo publicado nas redes sociais, a presidente da Azonasul, Paula Mascarenhas (PSDB), declara que não é contra a concessão de rodovias, mas é preciso que se mantenha o respeito aos princípios da justiça e proporcionalidade. O pedido da representante dos prefeitos regionais é que o governo federal não conceda o trecho Camaquã – Porto Alegre antes do resultado da nova licitação, em 2026. Em nota, a entidade também colocou-se contra a potencial concessão.
“Temos sofrido com o pedágio mais caro do Brasil no Polo Rodoviário de Pelotas […] Não podemos tratar da ligação entre a capital do RS à Zona Sul e ao porto mais importante do Estado de uma forma compartimentada. Esperamos tarifas justas e obras necessárias, como do lote quatro e da nova ponte sobre o canal São Gonçalo”, diz Paula.
Movimento para reversão
Conforme o deputado federal Alexandre Lindenmeyer (PT), a alternativa será buscar diálogo junto ao Ministério dos Transportes para pelo menos tentar adiar qualquer hipótese de uma nova concessão. “Fiz um contato com a secretária Nacional de Transporte Rodoviário, Viviane Esse, mas ainda sem retorno. No dia 31 de janeiro vou estar em Brasília para começar a mobilização na tentativa de reversão com agenda junto ao Ministério dos Transportes”, diz.
Importância dos valores
Para o vice-presidente de Infraestrutura da Federasul, Antônio Carlos Bacchieri, há uma preocupação com relação aos valores dos pedágios. Segundo ele, a vantagem é o tempo que resta até o leilão ser realizado, que pode servir para mobilizar ainda mais as entidades e a comunidade em geral.
Próximos movimentos
O edital para a concessão da Rota Integração do Sul está previsto para ser lançado em setembro de 2025, após análise do Tribunal de Contas da União (TCU), marcada para abril. O leilão, que incluirá a concessão de 674 quilômetros de rodovias no Rio Grande do Sul e a implantação de 12 novas praças de pedágio, está programado para dezembro de 2025, segundo cronograma apresentado pelo Ministério dos Transportes.
No bolso
O valor do trecho entre Rio Grande e Porto Alegre atualmente é de R$ 58,80. Novas praças devem fazer a tarifa passar dos R$ 60.