A cobrança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos ministros para reduzir preços dos alimentos ainda não teve impacto no setor primário na Zona Sul do Estado, porém antecipa um certo temor com as medidas a serem adotadas. Já os supermercadistas dizem dialogar diretamente com o poder público, embora fatores macroeconômicos, como alta do dólar, dificultem ações eficazes para redução de custo. O consumidor final sente no bolso, principalmente quem precisa comer fora de casa.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi taxativo ao dizer que não haverá congelamento de preços, tabelamento, fiscalização e nem rede de supermercado estatal. A medida será para garantir um preço justo do alimento. Para o titular, não faz sentido um preço interno maior que o externo, pelo fato de o Brasil ser um dos maiores produtores de alimentos de grãos, com impacto na economia do país. O PIB do agronegócio brasileiro teve alta de 1,26% no terceiro trimestres de 2024, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), depois de duas quedas consecutivas.
Cenário de cautela
Em um cenário motivador do setor primário, em relação aos números apresentados, o presidente da Associação Rural de Pelotas (ARP), Augusto Rassier, é cauteloso. Para ele, o governo federal deveria aumentar o poder de compra da população, pois os preços dos alimentos enfrentam fatores sazonais ligados a questões climáticas. “Estamos trabalhando numa sazonalidade de baixa produção devido ao clima. Mas sempre apostamos e defendemos a soberania do mercado. Se há baixa oferta, o preço se eleva. Da mesma forma que o preço cai quando tem bastante produção. Há anos o produtor rural trabalha nessa situação”, comenta Rassier.
Para o presidente da ARP, o temor está na desmotivação deste produtor rural em produzir alimento frente a um preço baixo, articulado por artifícios políticos. “Esse fator (desmotivação) é o que custa caro para a população, pois reduz a oferta no mercado”. No caso da importação, são várias questões a serem levadas em conta, como a compatibilidade com o que é exigido pelos órgãos brasileiros do setor alimentício, que podem encarecer o produto estrangeiro. O poder de compra do brasileiro, em situações de alta e baixa produtividade no campo, seria uma alternativa, no ponto de vista de Rassier.
Arroz, feijão e carne
Um olhar atento à cesta básica será um dos focos dentro desse trabalho de baixar custos, segundo o governo. Para isso, a ideia é dialogar com supermercadistas e tentar alinhar as medidas que possam ser adotadas. Grandes frigoríficos também serão escalados para tratar o tema.
O presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, diz que a entidade está aberta ao diálogo com o governo federal sobre as medidas que garantam maior poder de compra aos consumidores. “Estamos, através da Associação Brasileira de Supermercados, a Abras, com esse diálogo frequente a fim de contribuirmos nesta pauta. Entretanto, é necessário lembrarmos que há questões macroeconômicas que estão sobrepesando no preço dos alimentos, e a alta do dólar é certamente a principal delas”, considera. O controle cambial é imprescindível, na opinião do presidente, para alcançar o equilíbrio e a reação em cadeia que o dólar resulta. “A partir de então poderemos ter maior capacidade de diversificação de fornecedores e alternativas para trazer alimentos mais baratos para os consumidores nos supermercados”.
No bolso do consumidor
Em um restaurante da cidade, para comer bem, um buffet livre sai em torno de R$ 45. A comida pesada custa R$ 55 o quilo e a marmitex, conforme a carne, fica entre R$ 25 (bovina) e R$ 22 (frango ou salsichão). Já o buffet com um pedaço de carne bovina custa R$27. A operadora de caixa Vitória Régia Rodrigues Machado, 25, diz que sai mais em conta comer em casa e o restaurante foi a opção da família durante a permanência no Centro. Para ela, alimentos básicos como arroz, feijão e a carne poderiam ser mais baratos, pois fazem parte do cardápio brasileiro, além de ser um prato completo em termos de nutrientes. “O óleo de cozinha também poderia ser mais barato, e as verduras também”, comenta.
A merendeira escolar Rosilene Conceição, 56, acha que o custo da cesta básica já esteve mais caro. “Eu não vejo tanta diferença. Há algumas coisas que estão subindo e outras que estão diminuindo o valor”, observa. Em férias, ela diz que tem mais tempo para pesquisar preços.
Em dezembro de 2024, segundo o Procon, a cesta básica com 51 produtos custava R$ 1.324,23 e a ração essencial, com 13 produtos, R$ 628,57. Ambas apresentaram alta de mais de 6% em relação a novembro.