Atracou em Rio Grande, no início da manhã de domingo, o primeiro cruzeiro da temporada 2024/25. Apesar de carregar mais de mil turistas, em sua maioria alemães, poucos passageiros do MS Artania optaram por conhecer o município mais antigo do Estado.
Os visitantes permaneceram na cidade das 6h às 12h30min e foram recepcionados por bancas de produtores e artesãos locais e pela invernada do CCN Sentinela do Rio Grande, que realizou apresentações de danças tradicionalistas.
“Ficamos sabendo da visita do navio em uma reunião com a Portos RS, na última semana. Com o tempo disponível, conseguimos colocar quatro empreendimentos locais, dois de artesanato e dois da agricultura familiar, para receber esses turistas”, explica o secretário de Relações Institucionais, Cláudio Costa.
Potencial a ser explorado
Anualmente, dezenas de cruzeiros passam pela costa gaúcha, porém, poucos deles atracam no terminal rio-grandino, o mais procurado do Estado. Na temporada 2022/23, cerca de 2,6 mil turistas vieram a bordo de seis navios, enquanto no último ano apenas um transatlântico optou por atracar na Zona Sul.
A parada para abastecimento no porto rio-grandino poderia ter representado um importante acréscimo na economia local. Apesar disso, quem optou por descer do navio para conhecer o município encontrou um Centro Histórico sem muito movimento e com quase todos os atrativos fechados.
Durante o verão, o fluxo de pessoas aumenta no Balneário Cassino e diminui no Centro, o que faz com que diversos comerciantes não abram seus estabelecimentos aos finais de semana. Dono de um restaurante no Centro Histórico, Rafael Lisboa, 36 anos, comenta que não sabia da chegada do cruzeiro e, por isso, não abriu.
“Os turistas sempre passam por aqui, sempre observamos melhora no movimento. Dessa vez não sabia que teria um cruzeiro aqui, por isso não abri o restaurante. Se soubéssemos, teríamos nos preparado”, afirma.
Como se preparar?
Com a expectativa da chegada de um novo cruzeiro em 16 de fevereiro, Rio Grande pensa em melhorar a recepção para os turistas, apresentando não só o porto, mas toda a cidade.
“Nossa meta é fazer uma grande recepção no Centro Histórico, com a abertura do Mercado Público, exposição de artistas locais, indígenas e outras apresentações culturais”, afirma o secretário-adjunto da Secretaria de Desenvolvimento, Inovação e Turismo, Edward Moraes.
Para ele, o papel da prefeitura é de “preparar a cidade” para receber os turistas. Nesse sentido, ele destaca que será realizada uma ação conjunta entre os setores.
“Vamos fazer uma força-tarefa com todos os órgãos públicos e secretarias para que esses turistas tenham segurança e tranquilidade para aproveitar o que Rio Grande tem de melhor para oferecer”, avalia.
Incentivo ao comércio
Além da rede gastronômica, o comércio local pode ser um dos setores mais impulsionados pela chegada de turistas ao município. Apesar disso, o potencial ainda é pouco explorado, conforme a presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Rio Grande e São José do Norte, Letícia Vanzelote.
“A temporada de transatlânticos é extremamente benéfica para Rio Grande, mas admitimos que ainda muito pouco explorada de forma que possamos absorver resultados significativos. Precisamos deixar o comércio e os gestores mais atentos e preparados para essas oportunidades, para que possam estar preparados para essa demanda”, avalia.
Gerente de uma loja de presentes no Centro, Thais Cannes, 34 anos, afirma que ainda falta comunicação entre os órgãos para o desenvolvimento turístico do comércio. “Geralmente nós não somos avisados sobre a chegada de cruzeiros. Tem que dar sorte de os turistas chegarem em um dia em que o comércio está aberto”, comenta.
Com pouco menos de um mês de preparação até a chegada do próximo navio, Vanzelote afirma que a CDL pretende informar os comerciantes com antecedência para que possam se preparar e seguir as recomendações de atendimento da entidade.
“A nossa fala para o comércio é que atenda bem esse turista, mantenha uma forma de trabalho capaz de agradá-los, tendo ao menos uma pessoa na equipe com capacidade de falar em inglês, recebendo cartões internacionais, ou buscando receber em dólar de maneira justa. Ações simples que garantem uma boa marca para a cidade”, destaca.
Como os cruzeiros chegam a Rio Grande?
Conforme a Portos RS, os cruzeiros entram em contato com a entidade portuária para solicitar atracação pelos mais diversos motivos, sejam eles logísticos, turísticos ou de serviços, que foi o caso do navio MS Artania.
A embarcação ficou por pouco mais de seis horas em Rio Grande para descarte de lixo e abastecimento.
Rio Grande na rota dos cruzeiros
No caminho de diversos cruzeiros internacionais, o porto do Rio Grande pretende ampliar a sua capacidade de atrair transatlânticos. Desde o último ano, a Portos RS mantém conversas com a Secretaria Estadual de Turismo (Setur) para desenvolver esse potencial turístico do município.
“Estamos retomando a discussão com a Secretaria de Turismo do Estado para poder atrair os armadores e incentivar os cruzeiros a fazerem roteiros turísticos em Rio Grande”, afirmou a entidade em nota divulgada no último ano.
Em novembro de 2024, o turismo náutico foi pauta da reunião-almoço Tá na Mesa, realizada pela Federasul. Na ocasião, o titular da pasta, Ronaldo Santini, afirmou que já iniciou negociações para que cruzeiros saiam do Estado, atraindo turistas não apenas do Rio Grande do Sul, mas também de regiões vizinhas, como Argentina e Uruguai. No entanto, ele destacou a necessidade de dragagem e revisões estruturais para melhorar o escoamento.