Assim como a pele, os olhos também precisam de cuidados especiais durante o verão. Especialmente porque é a maior época de incidência de raios ultravioleta, o que pode contribuir para o desenvolvimento de doenças graves nos olhos como catarata e degeneração macular, assim como o período pode ser propício a diversas alergias e irritações.
O aumento da exposição dos olhos à radiação pode causar grandes danos à visão, pois queimam tanto a parte externa dos olhos quanto a interna. Por isso, é de grande importância proteger os olhos do sol usando chapéus e óculos escuros.
Além dos danos à exposição prolongada dos olhos à luz solar, a temporada ainda conta com outros vilões que podem ser prejudiciais caso alguns cuidados não sejam observados: cloro em piscinas, o contato com cremes pós sol e filtros solares com os olhos e a entrada de algum corpo estranho.
De acordo com o oftalmologista do Hospital de Olhos Pelotas, William Zibetti, banhos em piscinas, sem alguns cuidados, podem provocar o aparecimento de irritações. “O cloro é irritativo para os olhos e pode causar complicações como conjuntivite, olhos vermelhos, irritação e ceratite por acanthamoeba”, enumera.
O filtro solar em caso de contato com os olhos também pode ser irritativo, visto que muitas vezes o calor pode fazer com que o produto escorra em direção aos olhos. “Quem usa lentes deve ter ainda mais cuidados. O ideal é não tomar tanto banho de mar nem de piscina quando estiver com lentes”, orienta.
Conforme o oftalmologista, a água de mar pode conter a Acanthamoeba, um protozoário que causa infecções oculares graves caso depositado em lentes de contato. “Como ficamos com a lente de contato muito tempo nos olhos, o protozoário pode se proliferar e isso pode gerar úlceras de córnea que são muito difíceis de tratar. Às vezes precisa de transplante de córnea para uma coisa evitável”, explica.
Como os raios ultravioletas prejudicam a visão
Os raios UV (ultravioleta) chegam até a terra pelos buracos causados na camada de ozônio. Esses raios são emitidos através da luz solar e, ao nos atingir, podem causar sérias consequências. A exposição aos raios UV pode contribuir não só para doenças de pele como queimaduras ou câncer, mas também com doenças graves nos olhos, como a catarata e degeneração macular.
Com a exposição solar sem cuidados, os raios solares passam pela córnea, agridem a retina e, na sequência, o cristalino. Os efeitos são cumulativos e sentidos a longo prazo, com a tendência de desenvolver alguns sintomas com o passar do tempo.
Os raios ultravioleta UVA são capazes de penetrar nas camadas mais profundas, podendo provocar alterações na visão central, como a degeneração macular. Já os UVB podem danificar a córnea e o cristalino, responsáveis pela absorção das luzes nos olhos.
Uso de óculos escuros
Conforme Zibetti, é essencial o uso de óculos escuros. Entretanto, tão importante quanto, é a procedência do óculos, que deve ser comprado em ótica e conter a proteção contra os raios UVA e UVB. “Os óculos de sol que são vendidos na praia, por exemplo, não têm proteção contra os raios ultravioleta, danosos no longo prazo para a nossa retina”, diz.
Zibetti explica que quando entramos em um ambiente escuro a nossa pupila dilata. O mesmo ocorre quando colocamos um óculos escuro e isso torna-se um caminho mais fácil para a entrada do raio ultravioleta na retina. “Se for para usar um óculos sem proteção UVA/UVB, é melhor não usar nada, pois assim o raio ultravioleta entra com mais facilidade do que se a pessoa não estiver usando nada”, recomenda.
Cuidados com o cloro
O cloro de piscina no olho pode afetar a visão temporariamente, mas sem causar grandes problemas. Isso acontece porque os olhos possuem uma película lacrimal na córnea que atua como uma barreira que serve para impedir germes e bactérias. Contudo, o cloro é capaz de remover essa película lacrimal, o que faz com que os olhos fiquem mais vulneráveis a possíveis infecções.
O maior risco ocorre ao coçar os olhos, o que pode levar algum corpo estranho à córnea, explica o médico do Hospital de Olhos. “Para quem tem predisposição, pode se desenvolver ceratocone na córnea, que é uma doença ocular que provoca uma alteração na córnea. Outros problemas que o cloro pode causar são a conjuntivite, olhos vermelhos e irritação”.
Boas práticas na piscina ou no mar
Na hora do banho de piscina ou mar, evite abrir os olhos dentro da água sem os óculos adequados. Ao fazer esse movimento, o olho ficará exposto mais facilmente a possíveis irritações e o contágio de doenças infecciosas, tais como as conjuntivites químicas (causadas pelo cloro), virais e bacterianas.
Corpo estranho
Na praia, é comum a entrada de algum corpo estranho nos olhos. Dor, desconforto, vermelhidão, sensação arranhada no olho afetado e a dificuldade em manter o olho aberto, lacrimejar, são alguns dos sintomas mais comuns. De acordo com o oftalmologista, a primeira coisa a se fazer é lavar o olho com soro fisiológico em abundância e, de forma alguma, tentar coçar o olho.
“Se a pessoa tem de fato um corpo estranho, não tentar coçar o olho para evitar de piorar a situação. Se não tiver melhora nas primeiras horas, o indicado é procurar um oftamologista”, orienta.
Uso de lubrificantes
Conforme o oftalmologista, os colírios lubrificantes são os de dois tipos: o de carmelose sódica, indicada para aliviar a secura ocular, irritação, sensação de areia ou corpo estranho; e o Hialuronato de sódio, usado para melhorar a lubrificação da superfície do olho.
“Normalmente, eu indico colírios sem conservante, visto que a longo prazo o conservante também pode se tornar irritativo. Sem conservantes, o colírio pode ser usado de hora em hora caso necessário”, diz.
Quando visitar um oftalmologista
A recomendação é realizar uma consulta oftalmológica anual. Conforme Zibetti, isso não quer dizer que você vai precisar trocar de grau todo o ano. “Na verdade, a consulta da troca de grau é uma pequena parte, visto que existem outras doenças oftalmológicas que não se manifestam”, explica.
Dentre elas, a principal causa de cegueira irreversível no mundo: o glaucoma. “O glaucoma primário de ângulo aberto é uma doença ocular que afeta o nervo óptico e pode levar à cegueira. Representa cerca de 90% dos casos e não apresenta sintomas no começo da doença”, diz.