Josué Volz é formado em Relações Internacionais pela UFPel, além de ser graduado em Desenvolvimento Rural pela UFRGS. Essas formações foram fundamentais para direcioná-lo ao Mestrado em Geografia na UFPel, que imaginou ser um ponto essencial entre as pesquisas que vinha desenvolvendo.
Atualmente, seu trabalho se debruça sobre as disputas geopolíticas entre Empresas Transnacionais dos Estados Unidos e da China no setor da soja, e como esse contexto impacta o espaço geográfico brasileiro. Com a colaboração de sua noiva, Olívia Soares, licenciada em artes visuais, elaborou um “livro de artista”, que propõe o diálogo entre os conhecimentos de espaço e os registros de ambientes escolares. A obra está disponível no site.
Como surgiu o interesse pelo conceito de espaço?
Durante o mestrado, me encantei muito com a noção de “espaço”, que pode ser um conceito extremamente abstrato, mas é também, simplesmente, tudo que temos de palpável e real.
Estava fazendo pesquisas sobre como o espaço se materializa na atualidade. Para a dissertação, estou trabalhando com Milton Santos, um dos maiores geógrafos de todos os tempos, entre os principais intelectuais brasileiros. Ele fala sobre como a globalização estabelece forças que visam homogeneizar o espaço em todo mundo, imputando características racionais nos objetos, e padronizando as ações das pessoas, rumo a uma racionalidade que somente contabiliza lucro. Ao mesmo tempo, estava buscando como outros autores entendiam o espaço e como ele é produzido. Um deles é o chinês Yi-Fu Tuan, que foca na construção de “lugares”, de como, através das nossas experiências, vamos transformando um espaço com pouco significado em algo familiarizado e pessoal.
Em que momento a Olívia ingressou nesse processo?
Enquanto eu estava pesquisando esses assuntos, Olívia, minha namorada, estava fazendo o TCC dela em Licenciatura de Artes Visuais, que é sobre a experiência dos alunos em relação ao ambiente escolar. Ela estava estagiando em uma escola na época e apresentando várias referências de obras para os alunos que tinham ligação com a temática ambiente. Então, começamos a discutir muito sobre a questão do espaço e como a forma que experienciamos ele influencia no processo de aprendizado. Fruto disso, escrevemos juntos o capítulo “Através de Henri Lefebvre e Yi-Fu Tuan: Espaço e Corporeidade no Ensino” para um livro sobre metodologias inovadoras na educação.
Como surgiu a chance de produzir o livro e como ele é estruturado?
Posteriormente, no Fórum Gaúcho de Pós-graduação em Geografia, surgiu a oportunidade de fazer uma apresentação cultural, e tivemos a ideia de unir os nossos escritos com os registros e as imagens do estágio dela. Daí surgiria um livro de artista, uma obra que busca ultrapassar as barreiras da escrita, pensando em como o livro se materializa no espaço. Algo que tinha muito a ver com nossas discussões. Nesse sentido, as páginas estão organizadas de forma que, obras de artes utilizadas como referências nas aulas e fotografias do ambiente escolar estão de frente no interior do livro, propondo um diálogo entre si. Entre essas imagens, estão as partes escritas em papel semitransparente, novamente, propondo conversar com os outros aspectos. No formato virtual, as páginas são brancas. Mas na realidade são transparentes.
O livro físico existe ou pode ser adquirido?
A equipe do evento em que iríamos apresentar o livro do artista gostou muito da ideia, e nos propôs participar da cerimônia de lançamento de livros. Topamos, mas tivemos que correr atrás dos aspectos técnicos como o registro ISBN — “International Standard Book Number”, que significa Padrão Internacional de Numeração de Livro. Por fim, confeccionamos o livro manualmente e lançamos no evento. Como tivemos certa procura, estamos nos preparando para fazer um formulário das pessoas interessadas, para que possamos imprimir mais folhas e confeccionar as cópias.