2024 supera meta de inflação e carne tem maior alta em cinco anos

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2024 supera meta de inflação e carne tem maior alta em cinco anos

Impactos do clima e desvalorização do real são os principais responsáveis pelo aperto nos valores

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2024 supera meta de inflação e carne tem maior alta em cinco anos
Cortes como contrafilé, porco e alcatra lideram o aumento dos preços, de acordo com o índice de preços divulgado na sexta-feira pelo IBGE. (Foto: João Pedro Goulart)

O Brasil terminou o ano de 2024 com a maior taxa de inflação desde 2019.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o ano em 4,83%, e superou o teto da meta de inflação, de 4,5%.

O encarecimento dos alimentos, sobretudo das carnes, impactos do clima e a desvalorização do real estão entre os principais fatores que explicam a inflação estar acima do limite estipulado pelo governo.

Segundo o professor de economia da UFPel, Daniel Uhr, no mercado interno, o clima pode influenciar na oferta de produtos agrícolas ao comprometer a produtividade das lavouras e a qualidade dos alimentos.

“No caso de Pelotas, estiagens severas podem afetar a produção de arroz e frutas como o pêssego, elevando os custos de irrigação e diminuindo a quantidade disponível para consumo. Isso resulta em um aumento direto nos preços”.

Além disso, culturas dependentes de pastagens, como a pecuária, também são afetadas.

Já no mercado internacional, as mudanças climáticas podem reduzir a oferta global de grãos primários e elevar os preços.

“Produtos como soja, milho, café e açúcar, dos quais o Brasil é um dos maiores exportadores, têm seus preços determinados em bolsas internacionais. Quando estiagens ou ondas de calor afetam grandes regiões produtoras, como o Brasil ou os Estados Unidos, os preços sobem devido à escassez global”, explica.

Moeda menos valorizada

A desvalorização do real também gera efeitos na economia brasileira.

O professor observa que, por um lado, isso estimula as exportações e fortalece a balança comercial, enquanto por outro, encarece insumos e reduz o poder de compra da população.

“A magnitude desses efeitos depende do contexto econômico geral e de políticas governamentais para mitigar os impactos negativos e aproveitar as oportunidades positivas”, pontua.

Alta da carne

No geral, os cortes de carne foram os que mais subiram, com aumento de 20,84% no ano, o maior desde 2019 (32,4%).

Os cortes que tiveram aumento mais significativo foram o contrafilé (20,06%), carne de porco (20,06%), alcatra (21,13%) e costela (21,33%). Esses aumentos foram mais acentuados no final do ano, com um repique de setembro a dezembro de 23,88%, suficiente para fechar o ano com alta.

Para Uhr, o aumento no valor das carnes resultou de uma interação entre fatores climáticos, econômicos (fertilizantes e insumos caros, câmbio desfavorável) e de mercado (alta demanda de mercados como a China e o Oriente Médio).

“A combinação de custos mais elevados, oferta limitada e demanda interna e externa aquecida criou o cenário perfeito para a elevação dos preços”, deduz.

Sentindo no bolso

A pelotense Nara da Cruz, 51 anos, destaca que, no último ano, o impacto do preço da carne tem sido evidente, especialmente a de frango, que costumava ser uma alternativa mais econômica.

Nara comenta que, mesmo com o aumento, a ave ainda é uma das opções mais recorrentes, já que o preço da proteína suína e de rês ficou inacessível.

“Acabo tendo que pagar caro de qualquer jeito”, pontua.

Ela já reparou que as pessoas ao seu redor enfrentam o mesmo dilema, muitas vezes sem saber o que levar para casa devido à falta de opções viáveis.

Até mesmo quando tenta aproveitar promoções, muitas vezes não consegue devido à alta demanda e à limitação de tempo para aproveitar as ofertas.

Para ela, o último semestre foi o pior. “Senti esse aumento de um ano para cá e depois de dezembro piorou”, atesta.

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