Obras restauradas por equipe da UFPel voltam ao Palácio do Planalto

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Obras restauradas por equipe da UFPel voltam ao Palácio do Planalto

Serão entregues nesta quarta-feira 21 peças do acervo vandalizadas no 8 de janeiro de 2023, em Brasília

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Obras restauradas por equipe da UFPel voltam ao Palácio do Planalto
O restauro começou em janeiro do ano passado (Foto Nauro Júnior/Satolep Press)

Dois anos após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, 21 obras de arte vandalizadas durante a invasão do Palácio do Planalto serão reincorporadas à coleção da sede da Presidência da República. Vinte peças desse acervo histórico foram restauradas por uma equipe do curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas. O projeto foi realizado a partir de Termo de Execução Descentralizada (TED), assinado entre UFPel e o Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan).

A cerimônia de entrega oficial deste patrimônio, na quarta-feira (8) às 9h30min, será coordenada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em memória ao episódio, no Palácio do Planalto, como forma de repúdio ao golpismo no país. O evento também tem como atos previstos a realização de uma sessão pública com autoridades e uma atividade com participação popular, na Praça dos Três Poderes, que está sendo chamada de Abraço da Democracia. As primeiras obras totalmente restauradas do acervo presidencial começaram a chegar ao Planalto na tarde de segunda-feira (6), escoltadas por agentes da Polícia Federal (PF).

Experiência inédita

O projeto restauro começou a ser executado em janeiro do ano passado e foi finalizado no dia 25 de outubro. Foram recuperadas pela equipe da UFPel 20 obras danificadas (uma em papel, duas esculturas em metal, uma em madeira e pinturas). Entre os destaques deste acervo estão a pintura As mulatas de Emiliano Di Cavalcanti, que sofreu vários golpes à faca, e a escultura de bronze O flautista, de Bruno Giorgi, com 1,6 metro de altura, que havia sido quebrada em quatro partes. 

Nos meses de novembro e dezembro parte da equipe trabalhou na finalização de livro e de documentário, ambos serão entregues na tarde de hoje ao Iphan. O audiovisual intitulado 8 de janeiro: Memória, Restauração e Democracia terá a primeira exibição pública às 15h30min, no auditório do Instituto no Distrito Federal.  

A professora doutora Andréa Bachettini, coordenadora geral do projeto, explica que após a entrega desses projetos ao Iphan será possível marcar uma data para montar no Museu do Doce uma exposição, realizada há alguns meses em Brasília sobre o processo de restauro. O lançamento do livro deverá ocorrer junto com a abertura da exposição.

Experiência inédita no curso da UFPel levou equipe para trabalhar em Brasília (Foto: Nauro Júnior/Satolep Press)

Andréa comenta que essa foi uma experiência riquíssima, não só  pelo significado das obras, mas também pelo fato de professores e alunos do curso terem atuado fora do Rio Grande do Sul. Essa foi a primeira vez que um projeto dessa envergadura ocorre fora da Universidade. “Foi um marco muito importante para nós, além da experiência desses alunos que vieram e passaram uma temporada aqui. Nós nos revezamos muito. Mesmo enfrentando uma enchente, conseguimos cumprir o cronograma, com todas as dificuldades como fechamentos de aeroporto, passagens canceladas, foi muito desafiador, mas tudo certo e foi muito positivo”, fala.

Para a professora, a cerimônia desta quarta-feira não é um momento de celebração, mas demonstração de resiliência e de fortalecimento das instituições. “Acho que com entrega dessas obra restauradas, conseguimos colar os caquinhos sem apagar as marcas. As cicatrizes ficam, mas a gente consegue juntar tudo para que as coisas prossigam”, diz.

Oportunidade

“Participar deste momento histórico e tão significativo foi uma honra muito grande”, diz a aluna do sétimo semestre, Luiza Couto. A universitária diz que ainda está processando toda a experiência, mas que integrar essa equipe foi muito importante, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. “Por ter sido uma oportunidade incrível de pôr em prática tudo que a gente aprende em sala de aula, participar dessa grande operação que foi montar o laboratório lá e toda a logística que envolve um projeto desse porte. Pessoalmente, foi uma grande oportunidade e responsabilidade”, avalia.

Luiza Couto diz que experiência foi importante para seu crescimento pessoal e profissional (Divulgação)

Do século 17

Das 21 obras, apenas o relógio do século 17, não foi restaurado pela equipe da Universidade pelotense. Este patrimônio, que estava exposto no mesmo local, foi derrubado com violência por Antônio Cláudio Alves Ferreira, um dos invasores presos nos atos golpistas. As imagens do vandalismo foram amplamente reproduzidas na imprensa e nas redes sociais.

 

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