Servidora pública de carreira, com mais de 30 anos de trabalho a nova secretária de Cultura, arquiteta Carmem Vera Roig, começa a sua gestão com muitos desafios e uma boa dose de pressão da comunidade cultural, que poucas horas dela ter aceitado o convite do prefeito Fernando Marroni (PT), demandou pautas de diferentes representações, através de um manifesto.
Recentemente secretária interina da Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana e, nos últimos meses, Assessora Especial da Cidade das Crianças, do governo de Paula Mascarenhas (PSDB), Carmem tem ainda no currículo experiência na equipe da primeira Secretaria de Cultura, ainda no governo anterior de Marroni, em 2001.
Em entrevista, Carmem aponta as influências que essa trajetória terá na sua volta à Secult e sobre as demandas iniciais do trabalho.
Como tu pensas a Cultura a partir dessa experiência com a Secretaria de Urbanismo?
A primeira coisa que penso é no patrimônio cultural, que a gente vai ter que resgatar, recuperar muitos prédios e atualizar o inventário do patrimônio, uma coisa que tem que ser constante. Com o aprendizado que eu tive, vi o quanto uma pequena ação, como fazer uma calçada lúdica, altera a dinâmica daquele lugar do ponto de vista educacional. Do ponto de vista cultural a minha ideia é ampliar isso, descentralizar a cultura no sentido de que a gente possa criar espaços públicos, multiplicando espaços de encontros. É tudo muito recente, estou tomando pé do diagnóstico da Secretaria de Cultura, a minha ideia é trabalhar também de forma intersetorial, com as outras secretarias. Quando tu tens a compreensão de que a cultura passa por tudo fica mais fácil pedir ajuda integrada.
Como foi o primeiro contato com a Secretaria neste retorno à Secult?
Por eu ser servidora pública eu tenho contato com todas as pessoas. Escutar as pessoas e fazer parcerias com elas. O Paulo Pedroso (ex-secretário de Cultura) passou todas as informações, a transição foi algo muito especial, é a primeira vez que se conversa de uma forma super amigável, não teve nenhum ranço. Eu já estive na Secretaria, dei uma conversada, mas vou me apropriar a partir de agora, porque do meu tempo pra cá surgiram novas modalidades de editais, Procultura, Leis Paulo Gustavo, Aldir Blanc e mais as emendas parlamentares. É uma responsabilidade muito grande, a minha grande preocupação é equipar a Secretaria com pessoas, com diversidade, mas priorizando a capacidade técnica. Também gostaria de ter uma equipe para fazer projetos culturais, que a própria Secretaria seja promotora de projetos e que vá em busca dos recursos.
Existem nomes para essas funções?
Não tenho ainda, estou conversando com várias pessoas, porque tem essa possibilidade de reforma administrativa, o que altera alguns organogramas. Minha prioridade número um é ter na equipe trabalhadores da cultura especializados, que entendam de projetos de lei e de como a cultura se comporta na cidade. Sem esses técnicos, é como se fosse uma Secretaria de Saúde sem médicos e enfermeiros, a gente precisa ter esse olhar especializado.
Quais são as prioridades neste início de gestão?
Resolver a questão do Carnaval, a implementação dos editais da Política Nacional Aldir Blanc e do Procultura, que tem que ser imediata em função dos prazos que temos que cumprir. Já estava na Câmara, mas infelizmente foi arquivado, a lei do Cultura Viva, que teria mais um recurso para os pontos de cultura.
Os representantes das entidades carnavalescas te procuraram?
Sim, 48 horas depois que eu aceitei ser secretária, foi a minha primeira reunião. Estou em contato com o novo Secretário da Fazenda para avaliar quando serão feitos os repasses, nós estamos nessa conversa ainda sem dados concretos. Eu entendo a angústia deles, porque isso define todo o trabalho. Não temos tempo hábil para construir nenhum novo modelo e para que aconteça da melhor forma, que a gente consiga resolver essas questões.
Algumas pessoas da classe artística de Pelotas receberam o anúncio com desconfiança. Como lidar com os questionamentos e incertezas?
A questão toda, eu entendo que pessoas que estavam trabalhando na campanha, propondo políticas tinham uma expectativa de como construir a Secretaria e, como eu não sou desse grupo, achavam que eu teria um outro pensamento. Como eu estive secretária na administração que saiu, acho que houve uma confusão aí.
E o Sete de Abril, um local de extrema importância para a comunidade?
Ainda não tenho um diagnóstico final da situação do Sete de Abril, mas ele é prioridade neste governo.