“Lá em casa, o dia sempre começava ao som do vinil”
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quinta-Feira16 de Janeiro de 2025

Abre aspas

“Lá em casa, o dia sempre começava ao som do vinil”

Cristian Camargo foi premiado na 46ª Califórnia da Canção Nativa

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“Lá em casa, o dia sempre começava ao som do vinil”
Cristian Camargo é natural de Candiota e residente de Pelotas. (Foto: Arquivo pessoal)

Cristian Camargo, natural de Candiota e residente de Pelotas, foi premiado, neste mês, na 46ª Califórnia da Canção Nativa com a melhor melodia pela música Recolho versos do campo. A música também ganhou a Calhandra de Ouro, com letra de Gujo Teixeira e interpretação de Matheus Pimentel.

A canção contou com a participação de vários músicos, incluindo Aluísio Rockembach no acordeon, Hígor Extremera no violão, Leonardo Schneider no piano, Pedro Kaltbach no violino, Gustavo Brodinho no contrabaixo e Cristian Sperandir nos arranjos. Para o compositor vencedor do prêmio, não há dúvida: a música é uma parte essencial de sua vida.

Quando você percebeu o talento que tinha na composição das melodias?

Eu comecei a acompanhar os intérpretes amadores nos festivais até que, em um determinado dia, o Joca Martins veio fazer um show em Candiota. Por coincidência, ele se hospedou na minha casa. Durante a estadia, eu comprei um violão dele, que uso até hoje e que se tornou o instrumento com o qual componho. Foi ele quem me perguntou: ‘Você faz melodias?’ Até então, nunca havia composto. Essa pergunta despertou em mim, como se ele tivesse acionado um botão. Ele me incentivou. A partir desse momento, comecei a explorar a composição, por volta de 1994 ou 1995. Desde então, passei a exercitar a composição e, conforme ia criando, buscava a opinião de compositores mais experientes para entender se estava no caminho certo. Eles me orientavam e confirmavam que eu estava indo na direção certa.

O que significa para você ter esse reconhecimento na Califórnia da Canção Nativa?

A Califórnia foi um festival que enfrentou muitos percalços ao longo dos anos. Houve edições em que não foi realizada, enfrentou diversos problemas e, em certos momentos, chegou a perder parte de sua credibilidade. Ainda assim, é incrível a mística que existe em torno dela. Eu já conquistei prêmios em festivais que, atualmente, talvez sejam maiores, mais organizados e até mais relevantes que a Califórnia. Contudo, quando o assunto é a Califórnia, há algo especial, quase indescritível. Esse peso histórico vem da importância de todos os artistas que já subiram ao palco do festival, sejam eles da América Latina ou do Brasil. Para um compositor, ser reconhecido na Califórnia é algo muito especial e, de certa forma, inexplicável. Mesmo com os altos e baixos, o festival continua sendo uma referência importantíssima.

Na sua opinião, quais os aspectos melódicos que tornaram a canção vencedora?

Eu acredito que o sucesso da música não se deve apenas aos aspectos melódicos, mas a uma soma de vários elementos. Quando componho uma música, normalmente já penso no cantor que se encaixaria bem naquela composição, nos instrumentos que combinam com ela e em todos os detalhes que, juntos, contribuem para o resultado final. No caso dessa música em particular, desde a escolha do arranjador, o Cristian Sperandir – um músico talentosíssimo que hoje toca pelo mundo –, até os músicos e instrumentistas selecionados, cada elemento foi fundamental para alcançar o êxito. A soma de tudo isso foi o que garantiu o resultado positivo.

Como você define a sua relação com a música nativista?

Desde os meus quatro anos, os vinis da Califórnia começaram a chegar lá em casa. Meu pai passou a se aprofundar na música nativista do Rio Grande do Sul. Com isso, recebi muitas informações sobre esse universo musical desde cedo. Eu me lembro claramente das músicas que tocavam. Lá em casa, o dia sempre começava ao som do vinil, e a música estava sempre presente. São 42 anos de relação com a música, mesmo um tempo só sendo ouvinte. E hoje em dia, para fazer um estudo de qualquer compositor, não se pode só estudar a obra dele. Tem que estudar desde a infância, para saber o que ele absorveu durante o tempo. Quando eu vou compor, tem muita coisa guardada na memória. É como se fossem abrindo gavetas e as ideias baseadas nas memórias auditivas vão saindo.

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