A física e pesquisadora Thissiana Fernandes, 26 anos, é natural de Santa Vitória do Palmar, mas morou em Canguçu e Pelotas antes de seguir sua trajetória acadêmica. Formada em licenciatura em Física pela UFPel em 2020, atualmente é doutoranda em Engenharia e Ciência de Materiais pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Com experiência nas áreas de Física da Matéria Condensada e Ciência e Engenharia de Materiais, sua pesquisa foca no crescimento e caracterização de monocristais ferroelétricos volumétricos pelo método Bridgman-Stockbarger vertical. Atualmente, Thissiana está em Yekaterinburg, na Rússia, onde faz um estágio de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O que te fez escolher a carreira de física?
Não vejo como uma escolha aleatória, e sim a consequência de vivências. Desde criança eu era muito observadora. Me chamava a atenção como a natureza se comporta. Eu consumia muito conteúdo científico e sempre fui incentivada pelos meus nesse quesito. Um dos meus desenhos favoritos era “De Onde Vem?”, da TV Cultura, que explicava a origem do arco-íris, ou do azul do céu.
Um ano antes de ter a separação de ciências em física, química e biologia na escola, estudei muito os três tópicos. Quando cheguei no vestibular, já sabia que ia ser física. A física explica os fenômenos de uma forma diferente. E ser professora na área, apesar de não estar na docência no momento, é algo que me traz muita satisfação.
Como está sendo a experiência de viver em um país tão diferente do Brasil?
Eu vim para a Rússia em um momento não tão propício, a maioria das pessoas pensa isso, principalmente por conta do atual cenário. Mas na cidade onde estou, em Yekaterinburg, a vida está normal. Os principais desafios de estar aqui, com certeza, são linguísticos e culturais.
Assim como no Brasil, a maioria das pessoas não fala inglês aqui. E russo é uma língua bem difícil, porque usa o alfabeto cirílico, diferente do nosso.
Fora que o período que estou aqui é um inverno rigoroso. A temperatura mais alta desde que eu cheguei foi -6ºC. Em janeiro, ela pode chegar a -30ºC. Ainda tem a diferença de fuso horário.
Enquanto no Brasil o dia está começando, o meu está praticamente no fim. São oito horas de diferença. E nesse período de final de ano é um pouco solitário, passei o Natal sozinha. Aqui na Rússia, eles não comemoram o Natal no dia 25, e sim no dia 7 de janeiro. É uma data que eu passo com os meus pais em Pelotas, mas esse ano não fui para estar aqui.
Quais os grandes objetivos que tu pretende alcançar na carreira ainda?
Depois do estágio, pretendo voltar para o Brasil, finalizar o doutorado e já emendar um pós-doutorado para depois, no futuro, prestar um concurso, que é uma das maneiras de seguir como pesquisador no Brasil. Para continuar pesquisando, eu quero me tornar professora universitária.
Tenho um grande carinho pela parte da docência, então eu acredito que é o melhor para mim. Como pesquisador, a gente acaba tendo a vontade de ser reconhecido pela nossa pesquisa, trabalho e esforço. A comunidade científica é baseada em citações.
A partir dessas citações a gente consegue financiamento, então é uma troca de resultado por financiamento. No futuro, quero poder ter o meu grupo de pesquisa para continuar na área de crescimento de cristais. É uma coisa que me traz felicidade.
Os maiores desafios ainda estão por vir. Existe muito financiamento para jovem pesquisador e para sênior. Quem não é nem um nem outro acaba nesse limbo, e fica difícil conseguir. Pretendo fazer o meu pós-doutorado, quem sabe fazer parceria com outros países e viajar novamente.
Mas é muito importante voltar para o meu país e tentar fazer o país crescer. É muito bom morar fora, conhecer outras culturas, mas eu quero que o meu país se desenvolva.