O leitor deve reparar que alguns assuntos nunca mudam, ou pelo menos retornam com uma frequência maior do que a lógica deveria permitir. Um deles é as crises em hospitais por conta das finanças. É impressionante a quantidade de vezes que se noticia paralisação de serviços, atrasos de salários e ameaças de interrupções por conta de dificuldades financeiras. Isso vai contra uma das principais lógicas constitucionais do país em priorizar investimentos em saúde.
A origem é bem óbvia: o minúsculo valor pago pela tabela SUS. Os hospitais são sugados pela prestação de serviços paga com migalhas pelos governos. É um dos temas mais urgentes e caros do país, e ainda assim a tabela não é atualizada amplamente há mais de uma década. Já estamos no quarto presidente desde então e nada.
É quase impossível manter um hospital com saúde financeira hoje em cidades do interior. São poucos os casos. Em Pelotas, a Santa Casa comemora uma melhoria após os anos de crise. A evolução dos processos de gestão tem que ser comemorada. Só que uma das falas do diretor financeiro Sebastião Kaé dá a tônica de outro grande problema: não dá para viver de emenda.
Precisar da boa vontade política para ajustar as contas da saúde é outro dos problemas inacreditáveis nesse processo. Embora a legislação obrigue o repasse do maior montante de emendas ao setor, ter que passar o chapéu implorando por valores é contraproducente. Por qual motivo não são enviados diretos aos hospitais, em uma divisão justa e que siga uma lógica? Se têm que ir para a saúde, manter a decisão na mão de parlamentares tem qual razão além da publicidade política?
É preciso repensar como se faz saúde no Brasil, sob pena de sufocarmos cada vez mais nossos hospitais e, em algum momento, chegarmos a um ponto em que fica inviável fazer gestão de saúde em cidades de pequeno e médio porte. Precisa coragem dos governos. Quando teremos isso?