No enfrentamento de graves crises financeiras, as Santas Casas de São Lourenço do Sul e de Rio Grande estão com atrasos nos pagamentos desde agosto. Em São Lourenço, a decisão pela paralisação dos atendimentos eletivos foi deliberada em assembleia na última sexta-feira. Enquanto isso, em Rio Grande, os médicos avaliam suspender as atividades eletivas a partir do dia 28. Nesse contexto, a Santa Casa de Pelotas apresenta estabilidade financeira, com os pagamentos em dia, segundo o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers).
A decisão pela paralisação foi tomada por conta da falta de avanços concretos nas negociações com a administração da Santa Casa. De acordo com o diretor do Simers na Região Sul, Marcelo Sclowitz, a direção do hospital de São Lourenço do Sul está aguardando o aporte de novos recursos para sanar a situação até o dia 31 deste mês, mas não há confirmação. “É uma previsão, mas não dão certeza. Há um diálogo entre Simers e direção”, afirma o Sclowitz.
Na Santa Casa de Rio Grande o cenário é menos promissor, conforme avalia o diretor do Simers, com “um diálogo mais restrito e sem nenhuma previsão”. Em resposta ao A Hora do Sul, a assessoria de comunicação da Santa Casa de Rio Grande explica que a instituição tem atravessado uma crise econômica e financeira e está em recuperação judicial. A Santa Casa realizou uma reunião com os sindicatos regional e municipal na última segunda-feira, para buscar soluções.
Nota oficial em RG
Em nota, o hospital manifestou seu compromisso de pagar os honorários médicos do mês de agosto até o final de dezembro deste ano. O cumprimento, segundo o texto, depende da chegada de novos recursos, como repasses de uma emenda parlamentar, e da segunda parcela do auxílio enchente nas próximas semanas.
“O nosocômio tem envidado esforços constantes para aumentar sua receita e regularizar os pagamentos pendentes. Recentemente, foi protocolado um pedido formal junto ao Ministério Público Federal, além de ser solicitada a renovação do Termo de Compromisso firmado em 2022 com o Município do Rio Grande e a Portos RS”, completa a nota. Se aprovado, o recurso deve ser direcionado para a quitação dos valores devidos à folha médica.
Plano de contingência
Ainda de acordo com a assessoria, na noite de ontem foi organizado um encontro com o corpo clínico do hospital, na intenção de criar estratégias que minimizem os impactos da situação, como a elaboração de um plano de contingência. A instituição reconhece a legitimidade das reivindicações e reafirma seu compromisso com o diálogo aberto e permanente, reconhecendo a importância do trabalho dos profissionais médicos para a qualidade dos serviços prestados à comunidade.
O diretor do Simers aponta as dificuldades financeiras enfrentadas pelos hospitais filantrópicos como um produto de diversos fatores financeiros e estruturais. “A falta de recursos por parte dos gestores públicos em todas as esferas, falta de reajustes da tabela SUS, a população da região com menor poder aquisitivo, a fatia de pacientes privados e com convênios que são cerca de 10% apenas, o que também dificulta captar receitas que poderiam alavancar finanças”, diz Sclowitz.
Gestão da Santa Casa de Pelotas
Embora tenha passado por muitas crises financeiras no passado, atualmente a Santa Casa de Pelotas mantém sua economia estável. Sclowitz explica que o panorama que se diferencia dos outros hospitais da região provavelmente passa por melhorias na gestão e nos aportes financeiros, principalmente do Estado.
Sebastião Kaé, diretor financeiro da Santa Casa de Pelotas há um ano e sete meses, destaca os esforços da sua equipe na gestão das dívidas do hospital, além de parcerias importantes com deputados federais, estaduais, vereadores, a prefeita e a Secretaria Estadual da Saúde para reestruturar financeiramente a instituição.
Reestruturação
Kaé ressalta as boas perspectivas com a implementação de um processo de reestruturação do passivo junto ao Banrisul e comemora a manutenção da folha de pagamento em dia. “Por sinal, pelo primeiro ano, estamos pagando o décimo terceiro sem empréstimo e antes do prazo”, acrescenta. Com o processo de reestruturação, para o próximo ano o gestor financeiro garante que as expectativas são positivas, sobretudo devido ao crescimento das receitas recorrentes, ou seja, os ganhos mensais que se dão mês a mês.
“Não adianta a gente viver só de emenda. É muito bom que as emendas venham, isso precisa ficar claro. Mas o ideal para uma estrutura de hospital é fechar zero a zero a margem de resultado, e que as emendas fossem só para investimentos. Enquanto a gente não deixar a operação se sustentar, necessitamos das emendas para composição de caixa. E isso nós estamos diminuindo a cada mês”, esclarece.
O A Hora do Sul tentou contato com a direção da Santa Casa de São Lourenço do Sul, que não retornou até o momento.