Em outubro deste ano havia 25,5 mil famílias em Pelotas atendidas pelo programa Bolsa Família, número que representa um salto de 147% na quantidade de beneficiários nos últimos três anos. Em comparação, no mesmo mês de 2021 o número era de 10,3 mil beneficiados. Conforme especialistas, entre os principais fatores para o crescimento de assistidos estão as consequências da pandemia de Covid-19 e os demais benefícios sociais vinculados ao Cadastro Único (CadÚnico).
Nos 25 mil núcleos familiares atendidos em dezembro de 2024, o número de pessoas beneficiadas no município chega a 60,3 mil. Quantidade que totaliza um investimento de R$ 17,2 milhões e um benefício médio de R$ 676,93. As mulheres representam 61,4% cadastros (37,1 mil pessoas) e neste recorte 79,6% delas têm idades entre 25 e 34 anos.
Desde a série histórica (2004), o ápice do número de beneficiários em Pelotas havia sido em 2009, com 19,4 mil famílias. O menor número foi registrado em 2017, ano em que havia em média 6,2 mil cadastros. O aumento expressivo entre 2023 e este ano é visto como resultado do isolamento social, momento que agravou o quadro de vulnerabilidade.
“Aconteceu em todos os setores da Secretaria de Assistência Social, mas especificamente no Cadastro Único, que é um local onde tu garante um direito bem elementar, que é o sustento”, relata o diretor do Cadastro Único de Pelotas, Maicon Machado.
Além disso, segundo o diretor, a integração de outros programas sociais ao CadÚnico, como o Pé-de-Meia e o Auxílio Gás, também estimula a busca pelo Bolsa Família, pois com um cadastro é possível ser beneficiário de mais de um auxílio. “Então são programas que acabaram fazendo com que a procura pelo Bolsa Família fosse mais acentuada”.
Beneficiários há 21 anos
De acordo com Machado, há casos de famílias que são beneficiárias há mais de 20 anos. Para evitar esses casos e promover a autonomia dos usuários, são realizados pelo município programas de capacitação profissional. “A gente quer romper com esse ciclo. Buscamos criar mecanismos para qualificar e melhorar a condição dessas pessoas para que elas possam estar acessando o mercado de trabalho com melhor chance de interesse”.
A maior dificuldade seria imposta a boa parte das mulheres. Conforme Machado, a maioria dos beneficiários atendidos são mães solo com filhos pequenos que ainda não estão em idade escolar obrigatória. Com isso, haveria mais uma dificuldade para o acesso dessas mulheres ao emprego. “É muito difícil. A gente lida com isso diariamente”.
A dificuldade imposta pela informalidade
O professor de Economia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Felipe Garcia, considera que apesar de o acesso a várias assistências sociais entrelaçadas ao CadÚnico poder ter influência na procura pelo emprego formal, o maior motivo para o desemprego é a baixa escolaridade e a falta de formação técnica. “É um grupo com mais dificuldade de interação no mercado de trabalho e quando se insere já se insere na informalidade”.
Diante da informalidade, o economista cita que é comum ocorrer o cenário em que os membros da família possuem renda de postos de trabalho precários ou temporários e, após um período, perdem a ocupação. O quadro de instabilidade originaria a permanência na vulnerabilidade social. “E em questão de dois, três meses, vem um choque negativo, o pessoal perde o emprego e essa família volta a uma situação complicada”, diz.