“Sigo o legado da Luisa, não quero abandonar”
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Sexta-Feira27 de Dezembro de 2024

Abre aspas

“Sigo o legado da Luisa, não quero abandonar”

Eduardo Schmit era casado com a atleta Luisa Giampaoli, que faleceu em julho

Por

“Sigo o legado da Luisa, não quero abandonar”
Os dois compartilhavam rotina diária de treinos. (Foto: Arquivo pessoal)

Eduardo Schmit começou a correr em 1997. Anos depois, conheceu Luisa Giampaoli, com quem casou e passou a dividir a rotina de treinos. Luisa chegou à seleção brasileira de atletismo. Terminou a última São Silvestre em 17º lugar na elite feminina e, entre outros feitos, conquistou o recorde da Meia Maratona de Florianópolis. Aos 29 anos, no auge da carreira, a pelotense faleceu em julho após semanas internada, diagnosticada com pneumonia e leptospirose. A última suspeita dos médicos era de edema cerebral. Eduardo mantém o legado de Luisa, compartilhando a rotina no Instagram @eusouluisagiampaoli. Além de correr, administra a Edward Escola de Cabeleireiros e cria o filho Isaac.

Como foi acompanhar a evolução da Luisa no atletismo?

Conheci a Luisa e comecei a treinar ela. Preparei ela para um teste na Sogipa, e conseguimos fazer três quilômetros em 12 minutos. O Leonardo Ribas, treinador dela até o falecimento, foi. E aí ela começou a treinar com o Léo, teve uma evolução significativa. E nisso eu dei uma parada. Foquei no serviço, mas sempre acompanhava ela de bicicleta, ia no Exército com ela todos os dias. Sempre presenciei a corrida da Luisa. Em 2018 ela decidiu engravidar. Falou assim, “ó, eu vou ter um filho, mas tu vai correr comigo toda a gravidez e depois também”. Eu concordei. Então a gente teve o Isaac, aí eu comecei a correr. A Luisa correu cinco quilômetros no dia em que ganhou o Isaac. Depois eu comecei a correr com ela, na volta. Demorou seis ou sete meses e começamos a caminhar e trotar. A minha evolução foi com a evolução da Luisa. O treinador passava o treinamento para ela e para mim junto, então tudo que ela fazia eu fazia também. Todo esse processo de evolução teve os dois na mesma caminhada, no mesmo propósito, de chegar em alto rendimento. Ela chegou no alto rendimento e eu não consegui chegar na elite. Hoje me considero de alto rendimento, mas não elite. Ela conseguiu chegar em um patamar fora da curva e sempre me agradecia por eu estar com ela.

Como ficou a rotina de trabalho e treinos com a ausência dela?

Sigo o legado da Luisa, não quero abandonar. Isso é uma coisa que eu vou levar para minha vida toda. Quero levar o nome dela sempre. Hoje trabalho como cabeleireiro e barbeiro. Tenho uma escola de cabeleireiros, que é a Escola Edward, e eu abro à tarde. A gente, quando entrou no campo da beleza, sempre prezou a manhã e o sábado e o domingo, em que a gente não trabalha. Consigo conciliar bem. Como dizia a Luisa sempre, ela era uma “profissional atleta”, trabalhava e era atleta. Não era atleta profissional, ela não vivia do atletismo, né? Ela tinha que trabalhar.

Que legado a Luisa deixou?

O de ser uma pessoa muito especial para todos, carismática, que queria sempre ajudar, que queria sempre ter alguém do lado pra correr junto. Nunca gostou de correr sozinha. Mostrou que tu sendo “profissional atleta” tu consegue chegar em nível bem alto. Ela conseguiu chegar em uma seleção brasileira, chegou na elite A da São Silvestre, e eu chego a me arrepiar em falar isso. Me emociono, porque é bem difícil. Ela sonhou e conquistou. Conseguiu o topo, a elite A, saiu junto com as quenianas. Hoje ela tem uma marca de dez quilômetros em 34 minutos e alguma coisa, que é bem forte. Ela deixou nos 21 quilômetros uma marca de 1h18min42s, se eu não me engano. Marcas bem agressivas mesmo, que eu não sei se no Estado teve mais forte. Foi um exemplo pra todos. Todos os dias me dói muito em saber que ela não está do meu lado e não tem aquela rotina. É forte, é bem difícil de falar, porque faz muita falta. A gente vivia de manhã até de noite junto. Esse foi o legado que ela deixou. Todo mundo pode chegar. Ela começou em 2009, 2010, e era uma amadora. E ela chegar no topo, ser convocada pela seleção brasileira… Isso não tem preço.

Acompanhe
nossas
redes sociais