A professora Geneci Ávila foi a única pelotense premiada na cerimônia dos Destaques do Ano 2024, que celebra as conquistas da rede estadual de educação. O trio composto por ela e mais duas professoras, Josiane Dias e Regina Rodrigues, promove atividades mensais nas escolas de Pelotas para abordar questões raciais e valorizar a cultura afro-brasileira.
Geneci atua na Escola Ondina Cunha, no centro da cidade, onde criou o projeto De 20 em 20: Contando a Nossa História, promovendo cultura afro-brasileira no dia 20 de cada mês. Sua iniciativa cumpriu a Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de história e cultura de matriz africana, tem transformado a mentalidade dos alunos, tornando-os mais conscientes e críticos sobre racismo e diversidade cultural.
Como funciona o projeto De 20 em 20?
O nosso projeto visa trabalhar durante o ano inteiro as questões raciais, não só sobre África, mas também preconceito, racismo e trabalhar como os alunos devem lidar com estes temas. A gente se propõe a fazer isso o ano inteiro e não só pontualmente no 20 de novembro.
O que representa receber a premiação em nome do projeto?
Quando recebemos a notícia foi uma surpresa. Primeiro, porque só foi uma escola de Pelotas a ser representada por esse prêmio. O prêmio não é só meu, é do nosso trio. As outras professoras trabalham em escolas municipais. Mas isso serviu para dar visibilidade do projeto no Estado, para as pessoas poderem ver que é possível ter uma educação antirracista e fazer um trabalho que envolva os alunos durante o ano inteiro, não somente no 20 de novembro.
Como você define o processo de desenvolvimento da educação antirracista?
Faz anos que a gente vem batalhando nas escolas onde trabalhamos. Conscientizando os colegas que é necessário ter um olhar para o aluno negro dentro da sala de aula, trazer a cultura afro, trabalhar sobre as religiões afro, muitas vezes relegadas, usar livros com personagens negros para os alunos se enxergarem – porque, às vezes, eles não se veem como protagonistas da história. Mostrar, também, o que a África trouxe de bom para o Brasil, como os autores. Fugir de um ensino tão eurocêntrico, mostrar que na África também existiram protagonistas. Isso é educação antirracista.
Como você enxerga este novo momento para o projeto, a partir da premiação?
Agora, estamos começando a formação de professores, tanto no curso de pedagogia da UFPel, quanto na Secretaria Municipal de Educação. Com o prêmio, a gente se organiza mais, com um novo olhar para o projeto. A gente vai ver que mais pessoas vão conhecer e ver que é possível. A gente também vê o retorno das formações, com as professoras nos mostrando o que estão fazendo nas escolas. Isso nos motiva mais ainda. Ter ganho o prêmio deu uma visibilidade para todo o Rio Grande do Sul.