Neste mês o Grupo Tatá celebra 15 anos de trajetória, consolidando-se na cena da dança-teatro de Pelotas e região. Para marcar a data, até terça-feira, realiza-se a temporada de apresentações de três espetáculos que integram o repertório do grupo e compõem o projeto Tatá 15 Anos em Cena: Axêro, quinta-feira (12), às 18h30min, na Quadra dos Boloduchos, Quando você me toca, nos sábado (14) e segunda-feira (16), às 16h, na Sala Carmen Biasoli, com a presença de tradutor e intérprete de libras, e Inservíveis, na terça-feira (17), no Largo do Bola, às 19h.
Está prevista, ainda, a exibição de dois trabalhos audiovisuais, Endless, videodança do grupo, e Acaso você me toque, documentário sobre o grupo Tatá, dentro da programação do Seminário de Pesquisa do Mestrado em Artes Visuais (SPMAV). A realização é da Fundação Delfim Mendes da Silveira com financiamento do Programa Retomada Cultural RS – Bolsa Funarte de Apoio a Ações Continuadas 2024. Cada espetáculo conta com acessibilidade comunicacional para PCDs auditivas em uma das apresentações.
Experimentalismo
Criado em 2009, o grupo nasceu como um projeto de extensão do Curso de Dança – Licenciatura da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), fundado um ano antes. A liderança da proposta era da professora Maria Falkembach, que, recém-chegada à universidade, buscava um espaço para explorar e expandir as possibilidades da dança-teatro.
A primeira obra do grupo, Tatá dança Simões, surgiu da vontade de conectar a produção artística com a identidade cultural local, inspirando-se na lenda M’Boitatá, transcrita por Simões Lopes Neto. O nome Tatá, que significa “fogo” em Tupi-Guarani, simboliza a energia e a força que impulsionaram os primeiros passos da companhia.
Durante sua trajetória, o Grupo Tatá enfrentou desafios significativos, como a falta de infraestrutura teatral em Pelotas e a escassez de recursos financeiros, principalmente entre 2016 e 2023, período marcado por cortes orçamentários na cultura e educação. Mesmo assim, manteve-se ativo e encontrou soluções criativas, apresentando-se em escolas e espaços alternativos, como CTGs, salões paroquiais e centros comunitários. A estratégia garantiu a continuidade da produção artística e levou a companhia a importantes palcos do Rio Grande do Sul, incluindo o Theatro São Pedro e o Teatro Renascença.
O reconhecimento do Grupo Tatá pode ser medido a partir dos números: de 150 apresentações e uma audiência de cerca de 20 mil espectadores. A parceria com a UFPel foi essencial para fortalecer a formação artística e acadêmica de seus integrantes. Mais de 65 estudantes já passaram pelo grupo.
Identidade plural
Obras como Terra de muitos chegares e Quando você me toca destacam-se por representar a identidade plural do grupo ao abordar questões sociais de forma provocativa. A primeira explora a diversidade das identidades do coletivo e é marcada por uma fusão de música e dança. A segunda, criada em 2018, aborda temas como corpo, gênero, afeto, violência e censura, utilizando uma linguagem que mescla dança-teatro e performance.
Em 2020, frente à pandemia, o grupo inovou com o videodança Endless – ou esqueci de lembrar, realizado totalmente a distância. Essa adaptação ao formato audiovisual abriu novas possibilidades criativas, que foram exploradas em obras como Axêro – o filme. Apesar das diferenças entre o processo cênico e o audiovisual, o espírito colaborativo e coletivo permanece uma constante nas criações do grupo. A nova obra, Inservíveis, marca a entrada de novos integrantes, mantendo o caráter aberto e inclusivo do grupo.
Figura central
A coordenadora e fundadora Maria Falkembach tem sido uma figura central na trajetória do Tatá. Com uma carreira que inclui experiência como atriz e bailarina, Maria destaca a importância de uma formação artística continuada e contribui diretamente para o processo criativo e a direção das obras. Sua liderança exemplifica a filosofia do grupo: uma prática constante de aprendizado e inovação. “Este ano o grupo está se estabelecendo de modo profissional, conseguindo constituir um grupo de produção, com integrantes que não tem mais vínculo com a universidade. O grupo está ganhando autonomia e elaborando projetos, se inscrevendo em editais”, diz a coordenadora.
Chegar ao 15º ano é também perceber o amadurecimento das ideias. “A gente está conseguindo enxergar a poética do grupo – que trabalha na relação entre a dança e o teatro, mas também sempre buscando tensionar as injustiças, as violências”, comenta.
Próximo ano
O futuro do Grupo Tatá projeta-se em uma continuidade de pesquisa e criação, com a ambição de ampliar sua equipe de produção e garantir uma remuneração justa para seus integrantes. Em 2025, o plano é a circulação de Axêro por quilombos do Rio Grande do Sul, evidenciando sua missão de democratizar o acesso à arte. “Queremos muito também retomar a circulação pelas cidades da Região, que fizemos em 2012, 2013 e 2014 quando tínhamos verba do Proext. Então seguiremos escrevendo e inscrevendo em editais”,
Programação dos espetáculos
Axêro
Quinta-feira (12), às 18h30min – quadra dos Boloduchos, praça Aratiba, 321 – Barro Duro
Classificação indicativa: 12 anos
Quando você me toca
Sábado (14), às 19h e segunda-feira (16), às 16h – Sala Carmen Biasoli, rua Alberto Rosa, 117; presença de TILS
Classificação indicativa: 12 anos
Inservíveis
Terça-feira (17) às 19h – Largo do Bola, rua Alberto Rosa, 117
Endless – Ou esqueci de lembrar (videodança) e Acaso você me toque (documentário sobre o espetáculo Quando você me toca); com legendas
Sexta-feira (13) às 15h30min – Auditório 1 do Centro de Artes, rua Alberto Rosa, 62
Classificação indicativa: 14 anos