Como manter uma boa qualidade de vida na terceira idade
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Quinta-Feira26 de Dezembro de 2024

Corpo e mente

Como manter uma boa qualidade de vida na terceira idade

Prática de atividades intelectuais e físicas, além do desenvolvimento da espiritualidade, estão entre as orientações

Por

Como manter uma boa qualidade de vida na terceira idade
Práticas como alongamentos, pilates e musculação são essenciais. (Foto: Jô Folha)

Atualmente, as pessoas idosas são cerca de 15,8% da população do Brasil e já superam o número de adolescentes e jovens adultos de 15 a 24 anos, aponta o último dado divulgado pelo IBGE. Em 2046, pessoas acima dos 60 anos vão ser a maior fatia populacional do país, chegando a 28%.

Envelhecer sem planejamento e sem acesso a políticas públicas eficientes pode acabar se tornando um desafio. No âmbito individual, alguns cuidados tornam-se essenciais para chegar aos 60 anos – idade em que a pessoa passa a ser considerada idosa pelo Estatuto da Pessoa Idosa – com saúde e disposição.

Conforme a professora da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), especialista em Saúde Pública, Fisioterapia Pélvica e Gerontologia e coordenadora do Programa de Extensão do Centro de Extensão em Atenção à Terceira Idade (Cetres/UCPel), Estefânia de Moraes, não existe um período específico para começar a se preocupar com a maturidade. “Sempre oriento que quem ainda não chegou aos 60 anos inicie mudanças no estilo de vida desde já, de modo a se preparar para um envelhecimento que proporcione qualidade de vida através de uma boa saúde física e mental”, diz.

Outro ponto fundamental para vivenciar um processo de envelhecimento saudável, explica o psicólogo e especialista em Saúde do Idoso, Hartur Torres da Silva, também coordenador do Cetres/UCPel, é a pessoa se manter aberta e permitir-se seguir no processo de aprendizado de forma permanente.

“As interações sociais são outro pilar para manter-se ativo e saudável. A participação em grupos, o engajamento em atividades comunitárias, o próprio voluntariado, são fatores de proteção para a saúde mental, para a memória, para preservar a cognição das pessoas”, avalia o psicólogo.

Mudanças no corpo

É após os 60 anos que o processo de envelhecimento no organismo passa a se tornar mais evidente. De acordo com Estefânia, no âmbito do aspecto físico, começa a ocorrer o declínio da força muscular e da mobilidade, pois há uma diminuição na massa muscular, chamada de sarcopenia, e também da força. “Isso pode começar a afetar a capacidade de realizar atividades do dia a dia”, explica.

As pessoas idosas também têm a tendência a apresentar rigidez articular, o que reduz a mobilidade. Entre outras perdas, está a diminuição da densidade óssea (osteoporose), que deixa os ossos mais porosos e/ou frágeis levando ao risco de fraturas.

Mudanças cognitivas

Já em relação às perdas intelectuais, há um declínio na memória, diminuição na velocidade de processamento (da capacidade de captar novas informações ou de tomadas de decisões, que podem se tornar mais lentas). Existe também um risco aumentado de doenças neurodegenerativas como demências senil ou Alzheimer e diminuição da atenção por longos períodos.

Formas de prevenção

O envelhecimento e o passar do tempo são inevitáveis. É a partir dos 40 anos que a pele começa a se modificar devido ao declínio hormonal e diminuição do colágeno. “O processo de envelhecimento não se refere apenas à idade. Também é preciso considerar fatores físicos, psicológicos, hereditariedade e hábitos de vida”, complementa Estefânia.

Ter uma alimentação balanceada e praticar atividades físicas regulares (musculação é a modalidade mais indicada para manter massa muscular fortalecida) ajudarão a prevenir o risco de quedas. Além da musculação, também é indicada a realização de atividades como caminhadas, alongamentos, hidroginástica, ioga e pilates, por exemplo.

Ainda, ter uma boa qualidade de sono, cuidados com a pele (uso de proteção solar diariamente para evitar danos causados pela radiação UV que aceleram o envelhecimento cutâneo), participar de atividades em grupo, praticar meditação, socializar e manter relacionamentos saudáveis também são consideradas práticas importantes.

Desenvolver a espiritualidade

Desenvolver a espiritualidade, independentemente de ela estar ligada a uma religião, é de grande relevância à saúde mental, comenta Silva. “Ela é muito associada à resiliência, a lidar com questões de grande dificuldade que são inerentes à vida, inerentes ao próprio envelhecimento”, avalia.

A espiritualidade costuma ser responsável por proporcionar conforto, apoio emocional e sentido de propósito para muitas pessoas. “Quanto mais a espiritualidade é desenvolvida, mais recursos a pessoa tem para lidar com questões da vida, do luto, de situações complicadas, pois ela passa a ter melhor compreensão sobre acontecimentos maiores”, diz Silva.

Manter-se ativo

À medida que envelhecemos, manter uma vida social ativa torna-se cada vez mais importante para a saúde e o bem-estar geral. Com a transição para aposentadoria e a mudança nos círculos sociais e familiares, a tendência é que as pessoas idosas tenham um maior risco de isolamento, que é extremamente prejudicial para a saúde.

A professora Estefânia reforça que o engajamento social promove inúmeros benefícios, como fortalecimento de conexões, melhora da autoestima e maior sensação de pertencimento. “Estar socialmente ativo irá reduzir o risco de depressão, ansiedade e contribuir positivamente para a manutenção de habilidades cognitivas saudáveis”, diz.

Rede de apoio

Silva destaca que a manutenção de vínculos para a promoção do envelhecimento saudável é fundamental para a qualidade de vida e sensação de bem-estar. De acordo com o psicólogo, é comum chegarem ao Cetres pessoas sem uma rede de apoio, ou com pouquíssimos vínculos, com um isolamento acentuado. “Ao chegar aqui, elas começam a participar de um grupo, ter convívio regular, estabelecem novos vínculos, se sentem acolhidas e há de fato uma transformação”, comenta. A participação em grupos, por exemplo, contribui para o estímulo cognitivo, impactando também a saúde física de seus integrantes.

Espaços voltado à pessoa idosa

Conforme o assistente social do Cetres/UCPel, Diego Gonçalves, tanto o Brasil quanto a América Latina estão com sua população envelhecendo. “Isso não se torna um problema desde que exista a possibilidade de um envelhecimento ativo e saudável”, avalia.

Ter espaços como o Cetres, que disponibilizam atenção especial a esse público, é uma das formas de garantir autonomia e qualidade de vida. Conforme relembra Diego, após a aposentadoria laboral, o caminho tradicional para homens é de se tornarem pessoas do bairro, com muitos ligados ao alcoolismo. Já as mulheres acabam por se isolarem em casa com afazeres domésticos, aumentando a inatividade social.

“O Cetres ajuda a combater isso. O idoso que tem a ginástica terça e quinta, ele modifica toda a sua semana em função desses dias e isso cria todo um outro sistema. Os 230 idosos que atendemos estão relacionados com a sociedade e rompem o paradigma da inatividade pós aposentadoria”, comenta.

Além do Cetres, a UCPel possui projetos como a Universidade Aberta da Maturidade (Uami), e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a Universidade Aberta Para Idosos (Unapi). Algumas Unidades Básicas de Saúde (UBS) também possuem ações específicas para grupos de pessoas idosas, a Associação Beneficente dos Aposentados e Pensionistas de Pelotas disponibiliza atividades culturais. A prefeitura de Pelotas adota iniciativas da Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa (Ebapi) e da Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa (Renadi).

Apoio de grupos

Helinez Tams, 73 anos, começou a frequentar a Uami e, posteriormente, o Cetres. Como sempre gostou de se movimentar, no Centro encontrou uma alternativa de acesso a oficinas de forma gratuita. Mãe de cinco filhos, Helinez mora sozinha e tem na prática de atividades físicas a principal fonte de prazer.

“Vejo meus filhos com frequência e quando eu quero mais conforto vou para a casa deles. Dou sempre atenção à prática de atividades físicas para tentar evitar o desenvolvimento de doenças como diabetes e hipertensão”, diz.

Para Helinez, uma das principais formas de manutenção da saúde é se manter em movimento. “Sempre andei muito de bicicleta, fiz caminhada, faço todas as compras da minha casa e sempre contei com acompanhamento médico para manter a saúde”.

Acompanhe
nossas
redes sociais