Agroecologia 2024 apresenta inovações e destaca autonomia alimentar
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Quinta-Feira26 de Dezembro de 2024

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Agroecologia 2024 apresenta inovações e destaca autonomia alimentar

Mais de duas mil pessoas devem passar pela Estação Experimental da Embrapa na Cascata

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Atualizado sexta-feira,
06 de Dezembro de 2024 às 13:41

Agroecologia 2024 apresenta inovações e destaca autonomia alimentar
Devido à procura, evento ganhou três dias e quatro estações temáticas (Foto: Cíntia Piegas)

Mais de duas mil pessoas devem circular pela Embrapa Clima Temperado Estação Experimental da Cascata até esta sexta-feira (6), no Agroecologia 2024, que une, além do 19º Dia de Campo, eventos simultâneos que só ontem atraíram centenas de pessoas. A movimentação intensa para troca de experiências, de conhecimento, de aproximação e de sementes está sendo uma verdadeira vitrine de oportunidades e de reconstrução para pequenos agricultores, quilombolas e povos originários, levando práticas do campo para estudantes de todas as idades.

Fruto de parceria com a Emater/RS-Ascar, Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a Feira de Agroecologia é uma das mais movimentadas, com a exposição de vários produtos feitos nas zonas rurais de município da Zona Sul do Estado, desde molho de pimenta, variação de cebolas, argila ecológica, até produtos de beleza, artesanato indígena e muitos hortifrutigrangeiros. O público interage com muita curiosidade, buscando informações de onde e como são produzidos os produtos.

Pela procura e a variação de temas relevantes, o Agroecologia 2024 ganhou três dias e quatro estações temáticas: Serviços Ambientais, Agro Sociobiodiversidade, Sistemas de Produção Biodiversos e Bioinsumos, tendo como tema integrativo a questão das mudanças climáticas. O público, formado principalmente por agricultores e agricultoras, representantes de povos tradicionais, extensionistas, agentes de desenvolvimento, professores, pesquisadores, gestores e estudantes de diferentes níveis, entre outros, aproveitou o dia de sol e calor no espaço presenteado pela natureza.

Ciranda Agroecológica

Entre as atrações, a segunda edição da Ciranda Agroecológica ganha a simpatia de um público seleto e exigente. As crianças descobriram a importância de semear desde pequeno de forma lúdica. A Ciranda abordou temáticas como meio ambiente, produção de alimentos, terra, água, insetos e sementes, proporcionando um conhecimento interdisciplinar e prático, por meio de brincadeiras, artes e ciência.

Yasmin Helena, dez anos, mora em Cerrito Alegre, colônia de Pelotas, e descobriu que nem todos os insetos são maus. “Todos eles têm uma função na natureza e a gente tem que saber, pois dependendo do inseto temos que cuidar”, explica a estudante.

Quem também conheceu algo novo foi a pequena Laura de Souza de Andrade, oito anos. Ela estava bem atenta ao lado do pai, Gustavo Andrade, 42, que é assistente de pesquisa da Embrapa e mostrava como funciona o processo do extrato pirolenhoso, uma pesquisa feita pela empresa. “Quando eu crescer quero ser agrônoma e para isso preciso saber algumas coisas desde já”, diz convicta do seu futuro. Ela e o pai estavam na estação de insumos, setor bastante destacado pelo diretor executivo de Pesquisa e Inovação da Embrapa, Clenio Pillon.

Entre os desafios da empresa, o diretor cita, além da superação da crise climática, que a soberania alimentar é um deles. “O Brasil importa mais de 80% das matérias-primas que utilizam para a produção de alimentos, sejam insumos, sejam outros produtos químicos necessários para a produção. Nós estamos muito empenhados em trazer cada vez mais soberania sobre a nossa genética”, fala Pillon. Ele destaca os 93 projetos de melhoramento genético sobre soberania de sementes em andamento.

Integração

Com o objetivo de apontar soluções tecnológicas para a agroecologia e a produção orgânica, ao longo dos três dias estão sendo apresentadas propostas alternativas para a diversificação da matriz produtiva de base ecológica voltadas para a sustentabilidade e reprodução social. Na Estação Agro SocioBiodiversidade, por exemplo, é apresentada a diversidade das espécies vegetais e culturas da região e estudadas pela Embrapa.

“Montamos um espaço de troca com os guardiões de sementes. São anos de seleção das espécies, interagindo com o ambiente. Então, ao longo do tempo, a semente pode ser uma variedade da própria família e que é apresentada aqui”, explica o pesquisador da Embrapa, Gilberto Bevilaqua.

Quem resolveu apresentar o seu trabalho com feijões foi o agricultor familiar de Povo Novo, em Rio Grande, Alaor Silveira Matozo, 77. Ele levou a semente de feijão cavalo português. “Sou agricultor desde que nasci e planto ainda alho, tomate, cebola, abóbora, vários cultivos”, diz o trabalhador rural com toda sua timidez. Para os organizadores do evento, os agricultores familiares e os povos tradicionais representam uma salvaguarda para a agrobiodiversidade e preservação das espécies.

Experimentação

Pela primeira vez no Dia de Campo, a agricultora da Associação Quilombola Rincão da Faxina, 5º Distrito de Piratini, Nilza Cardoso Severo, 70, queria saber como acabar com uma traça verde que aparece no melão quando a fruta está desabrochando. “Eu planto feijão, milho, mandioca e mais algumas coisas. Pela minha idade, não tenho muito o que aprender, mas quero tirar algumas dúvidas”. Ela estava acompanhada da filha Ana Paula Cardoso, 40, que diferente da mãe participa todos os anos do evento. “Viemos para ver as novidades, para levar sementes. A gente aprende muito sobre agroecologia e troca de informações”, destaca.

Visibilidade

“Quando nós organizamos o evento, pensamos em virtude das recentes catástrofes climáticas com uma seca violenta e depois três enchentes sucessivas. Então, a agroecologia é, sim, a estratégia para a reconstrução”, lembra o diretor da Embrapa Pelotas, João Carlos Costa Gomes. E para esta reconstrução, a 3ª Feira da Agroecologia contou com expositores divididos por segmentos. Entre eles estavam Nilo Santos, 50, do Quilombo do Algodão, que levou para o evento tudo que é produzido na comunidade, e o indígena Rafael Oliveira, 28, da Colônia Maciel e de origem Guarany.

“Para nós é de extrema importância participar já que antes as comunidades quilombolas eram invisibilizadas. Hoje a gente consegue estar aqui expondo nossos produtos. Além disso, conseguimos comercializar nossa produção e gerar renda para a comunidade”, afirma Santos. “Nós vivemos do nosso artesanato, pois é o que garante o nosso alimento. Então é muito bom estar aqui”. As atividades se encerram nesta sexta-feira (6) com o Seminário Técnico de Agroecologia na Embrapa.

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