O sonho de viver a bordo de um barco trouxe o casal para as águas do Arroio Pelotas. Desde abril de 2013, um casal sul-africano viaja pela costa da América do Sul com seus gatos, cachorros e mais recentemente com Petrus, seu filho de um ano. Nas paradas pelo caminho o catamarã Witblits vira barco de turismo, Peter trabalha consertando barcos e Geraldine também vende cosméticos feitos à base de produtos naturais. Hoje o Arroio Pelotas é o lugar onde eles estão fazendo morada, mas o caminho até aqui foi longo.
Shanié Geraldine Fisher e Abraham Pieter Cillié partiram de Knysna, na África do Sul. A primeira parada foi na Ilha de Santa Helena, no meio do Oceano Atlântico, depois chegaram ao Brasil pela cidade de Ilhéus, na Bahia, e de tempos em tempos foram descendo a costa até chegar no Rio de Janeiro. Depois da estadia próxima à Cidade Maravilhosa, a ideia era ir para o Caribe. Porém, era uma época do ano em que as ilhas paradisíacas estavam mais propensas a serem atingidas por furacões e ciclones. Por isso, eles decidiram conhecer o Uruguai, “mas não sabíamos que essa costa é tão brava. Muito, muito brava”, conta Geraldine.
No caminho eles passaram por Pelotas pela primeira vez, mas logo seguiram e encontraram tempestades muito fortes. Chegaram ao Uruguai pela cidade de La Paloma e tiveram diversos problemas nos motores, o que fez com que eles ficassem muito tempo no Uruguai. O Witblits foi andando, a vida acontecendo e a cidade de Paysandú foi o cenário escolhido para o casamento.
Volta ao Brasil
Na lua de mel eles foram à Argentina onde também passaram um bom tempo conhecendo o país. Por lá, o destaque foi a Patagônia e a cultura gaúcha. Porém, lá também passaram por três tempestades, sem perspectivas de melhora do clima. “Eu disse: ‘Peter, não quero ficar mais. (…) Vamos para o Brasil’”, lembra Shanié. Assim, eles chegaram à cidade de Rio Grande pela primeira vez, em 2019, e logo vieram a Pelotas. Porém, era preciso renovar o visto e por isso, voltaram a Rio Branco.
Em Rio Branco, eles ficaram por dois anos, não por vontade própria, mas a ponte ferroviária móvel do canal São Gonçalo, que levantava para que o mastro do barco pudesse passar, estragou e eles tiveram que ficar por lá até que o conserto fosse concluído. Além disso, era época de seca, o que postergou ainda mais a volta a Pelotas. Quando tudo se ajeitou, eles finalmente voltaram à cidade, na Vila Santa Isabel, onde ficaram 11 meses. “Eles cuidaram de nós, porque ficamos sem trabalho. (…) nos deram comida, roupa para inverno, tudo”, diz.
Mas eles queriam conhecer a Lagoa. Foram pelo Rio Jaguarão, chegaram a Santa Vitória do Palmar, onde passaram dois meses. Por conta das tempestades tiveram que ir para o Rio San Luis, de volta no Uruguai, onde passaram mais dois meses. Nesse período também enfrentaram um ciclone.
Filho pelotense
Com oito meses de gravidez, finalmente voltaram a Pelotas. O Witblits foi andando, a vida acontecendo e no Hospital São Francisco de Paula nasceu o Petrus, o mais novo tripulante da família.
Em maio eles passaram pela enchente dentro do barco com um bebê de seis meses, três gatos e um cachorro. Ficaram ancorados no Iate Clube Pelotas, onde Peter cuidou dos barcos enquanto os funcionários não conseguiam acessar o clube. Eles, os barcos, a estufa de lenha que instalaram na Patagônia e a chuva, por mais de seis semanas.
Agora eles estão ancorados próximo ao Recanto de Portugal, à espera do segundo filho do casal, Conning. A ideia é passar o verão aqui, entre Pelotas e São Lourenço e no inverno subir para o Rio de Janeiro, fugindo do frio e buscando oportunidades no turismo. Assim, o Witblits vai andando, a vida acontecendo e Geraldine e Peter vão encontrando novas moradas pelos portos da vida.