Violência sexual contra vulneráveis em Pelotas cresce 30% em 2023
Edição 19 de julho de 2024 Edição impressa

Sexta-Feira22 de Novembro de 2024

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Violência sexual contra vulneráveis em Pelotas cresce 30% em 2023

Dados são do Boletim Técnico do Gitep que apontam ainda que a maioria dos casos ocorrem dentro de casa e com maior incidência na região central

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Violência sexual contra vulneráveis em Pelotas cresce 30% em 2023
Maioria dos casos acontece em ambiente doméstico, segundo estudo. (Foto: Agência Brasil)

Pelotas registrou aumento de 30% nos casos de violência sexual contra vulneráveis. Os dados são do último Boletim Técnico do Grupo Interdisciplinar de Trabalho e Estudos Criminais-Penitenciários (Gitep) da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). A base são as ocorrências entre 2022 e 2023 na Polícia Civil – portanto oficializadas – e serve de evidência para um cenário de alerta. Para o grupo, o resultado ultrapassa os limites do aceitável em termos de segurança pública e justiça social. Os registros até outubro deste ano podem amenizar a situação por corresponder a 64% do total do ano passado, restando dois meses para o final do ano.

Das ocorrências registradas na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) e que vão para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) são investigados casos de menores de 18 anos, segundo adiantou a delegada substituta Walquira Meder.  O professor da UCPel e orientador Aknaton Toczek Souza lembra, entretanto, que o estupro de vulnerável não se refere apenas a menores, embora sejam as principais vítimas pelos dados registrados.

Na defesa desses menores, o Conselho Tutelar atua junto à Rede de Proteção, desde atendimento individual com as famílias de vítimas de violência até a articulação das políticas públicas. “Como forma de prevenção, fazemos muita roda de conversa e palestra nas escolas. Essa ação é parte do treinamento para que tanto os professores quanto os próprios adolescentes e crianças possam saber identificar situações de violência sexual. Consigo e com outros”, relata o conselheiro Ronaldo Quadrado. O Conselho ainda faz requisição de serviços da rede para atendimento de vítimas.

Diagnóstico

O boletim apontou que dos 147 casos registrados no ano passado, somados aos 94 entre janeiro e outubro, as áreas centrais da cidade concentram mais ocorrências, com 19% (veja quadro). O lar representa 57,67% no recorte de local mais violento para as vítimas. Já os crimes têm maior frequência à tarde, seguido pela manhã (período em que o principal responsável está fora de casa).

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 revela que violência sexual ainda é responsável por metade das agressões contra meninas de dez a 14 anos. No mesmo período comparativo em Pelotas (2023 e 2024), 24% das vítimas têm entre 12 e 14 anos. Os agressores, na maioria dos casos, são homens próximos à vítima, como avôs, padrastos, tios e outros familiares. “Esse cenário denuncia um ciclo de violência intrafamiliar, frequentemente invisível tanto para a sociedade quanto para as autoridades”, aponta o documento.

Invisibilidade e subnotificação

A preocupação do Gitep em relação aos crimes sexuais, especialmente contra crianças e adolescentes, é porque eles seguem sendo uma das formas de violência mais subnotificadas, executadas dentro de casa e por pessoas que, em tese, deveriam proteger. “Apesar do aumento no número de denúncias nos últimos anos, uma quantidade significativa de abusos continua invisível às autoridades, evidenciando a necessidade urgente de estratégias mais efetivas e abrangentes de enfrentamento”, expõe o documento.

O juiz da 4ª Vara Criminal, especializada em crimes sexuais contra criança e adolescente, Ricardo Arteche Hamilton, diz que há dois pontos que são notados no tema, mas que não foram abordados no relatório. “A vulnerabilidade das vítimas, esta, embora lançada pelo legislador, é verificada pelo agressor em várias outras circunstâncias, as quais devem ser consideradas por quem tem a responsabilidade de proteção”, observa. Para o magistrado, crianças sem pouca atenção, por várias razões, são o alvo específico dos predadores sexuais, pois estes se dão conta dessa vulnerabilidade que, em tese, não vem prevista em lei.

Outro ponto observado é a necessidade de o Poder Público instruir os responsáveis pelo cuidado em detectar eventuais abusadores, através do comportamento. “Não como pessoas violentas, ou agressivas, mas ao contrário. Esses predadores passam segurança, confiança e proximidade com os responsáveis pelas crianças, assim, tem a aprovação”, exemplifica. Para o magistrado, esse cenário exclui qualquer forma de defesa da criança que fica temerosa em denunciar o fato sobre pessoa da qual recebe total confiança de seu responsável.

Como prevenir 

Os responsáveis pelo levantamento foram Felipe Schmals Silveira, Laura Alves Menon e Samira Ribes Kohn com a supervisão de Souza. Para eles, quando se trata de violência sexual, especialmente o estupro de vulneráveis, fala-se de um crime grave, uma vez que crianças e adolescentes, muitas vezes, não compreendem plenamente o ato violento a que são submetidos. “Essa vulnerabilidade cria barreiras tanto para a proteção das vítimas quanto para a responsabilização dos agressores, que se aproveitam do silêncio ou da falta de entendimento das crianças para permanecer impunes. A conscientização sobre esse tema deve ir além dos casos já ocorridos, integrando-se ao cotidiano da sociedade, das escolas e lares”, consideram, em nota.

A violência em números

Casos de estupros de vulneráveis por ano

2022 – 113

2023 – 147

2024 (até outubro) – 94

 

Frequência por bairro (2023 e 2024)

Centro – 46

Fragata – 29

Vila Princesa – 25

Areal – 23

Três Vendas – 14

 

Locais

Residência – 139

Outros – 78

Escolas – 12

Via pública – 4

Hospitais/clínicas – 2

Estabelecimentos comerciais – 2

Rodoviária – 1

 

Idade das vítimas

0 a 2 – 12

3 a 5 – 42

6 a 8 – 30

9 a 11 – 41

12 a 14 – 58

15 a 17 – 16

18 a 20 – 3

21 a 30 – 9

31 a 40 – 5

41 a 50 – 3

51 a 60 – 1

 

Horário

Manhã – 79

Tarde – 99

Noite – 54

Madrugada – 9

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