No final da tarde desta sexta-feira (22), uma cerimônia permeada por muita emoção marcou a entrega da restauração da cobertura da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Aberta ao público e sem escoras, mas com ainda muitos tapumes, a Igreja do Porto, como é conhecida, recebeu autoridades e paroquianos para o ato final da obra que começou em janeiro deste ano e pôs fim ao perigo de colapso do templo centenário tombado pelo Estado. A obra orçada em R$1,5 milhão, foi viabilizada com o apoio do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul e a partir de recursos captados via Lei Estadual de Incentivo à Cultura (LIC), através das empresas patrocinadoras Polisul Cerealista, Decorreias, Pra Casa Lorenzet e Arroz Brejeiro.
Participaram da cerimônia a prefeita, Paula Mascarenhas (PSDB), a secretária de Estado da Cultura, Bia Araujo, promotor de Justiça José Alexandre Zachia Alan, representando o Ministério Público do Estado (MPRS), o arcebispo de Pelotas Jacinto Bergmann, e o padre Hamilton Centeno, entre outros. “O Senhor fez em nós maravilhas e santo é seu nome. Hoje é um dia de gratidão porque essa igreja estave praticamente no chão”, celebra o padre Wilson Fernandes, que era o pároco quando a Igreja do Porto foi atingida por um ciclone-bomba, em 2020, que quase a derrubou.
O pároco comenta que foi feito um amplo esforço da comunidade paroquial e das autoridades para que esse dia de celebração chegasse. “Ver essa igreja sem nenhum escoramento e poder dizer está salva. Este é um legado para as gerações futuras, porque este não é só um patrimônio da Igreja, é um patrimônio artístico, cultural e religioso que estamos devolvendo à cidade de Pelotas”, diz.
Técnica construtiva refeita
Com projeto da Perene Patrimônio Cultural e execução da RCA Engenharia e Infraestrutura Ltda, foi substituída a estrutura metálica que sustentava o telhado, que agora está sedimentado em tesouras de madeira, a mesma técnica construtiva utilizada no projeto original da igreja centenária. Além das tesouras em grapia, foi feita uma cinta de amarração, em madeira, e colocada em toda a volta da igreja. O material em eucalipto saligna serve de apoio para as 15 tesouras, de tamanhos diferentes.
“Estou muito contente pelo grande desafio. Aqui não era só restaurar um telhado que estava no lugar. Era restaurar um sistema construtivo e de materiais que não estavam mais aqui. Tivemos que refazer todo esse sistema. Foi uma obra muito complexa, mas chegamos a esse resultado final e principalmente, temos a igreja estabilizada”, fala a arquiteta Simone Neutzling, responsável pelo projeto.
Além de refazer o telhado havia também a preocupação em evitar que a igreja tivesse outro problema estrutural. “Esse objetivo foi alcançado também. Então estou muito feliz”, diz a arquiteta.
Durante a cerimônia Simone se emocionou, foi às lágrimas e emocionou a todos os presentes. Também emocionada, a secretária da Cultura, Bia Araujo, que no ato representou o governador do Estado, relembrou que, quando houve o tombamento pelo Iphae, a situação do prédio era crítica. “E, um ano e pouco depois, não tem mais as escoras, conseguiram fazer o salvamento, consolidar a estrutura e já com projeto para prosseguir com a restauração. Esse é um patrimônio que mobiliza a comunidade pelotense. É o Procultura do Estado que consegue salvar um patrimônio cultural relevante do RS”, diz.
Próxima etapa
Com previsão de início em fevereiro do próximo ano, a próxima etapa vai trazer de volta o forro em madeira, também resgatando o formato, as dimensões e paginação originais, além da instalação de rede elétrica e a realização de serviços para recuperação estrutural de colunas e vigas. Com o final desta fase as missas poderão voltar ao prédio.
O projeto tem valor de R$1.377.900,00 e será financiado também pela LIC e realizado pela Perene, com coordenação de Simone Neutzling. A obra tem previsão de dez meses. “O templo é um prédio que simboliza muito para nós, não só pela fé, mas por toda a história dessa região do Porto. Estamos com uma alegre expectativa para podermos retornar no próximo ano”, diz o padre Centeno.
Educação patrimonial
Como nesta etapa, a próxima também contará com projeto de educação patrimonial. Neste último ano os paroquianos e alunos do Colégio São José participaram de diferentes ações neste sentido, o que trouxe mais envolvimento em torno deste patrimônio.
Frequentador da Igreja do Porto há 11 anos e integrado aos serviços da paróquia, o corretor de Imóveis, Claudiomar Oliveira da Rosa, 54, ainda desconhecia detalhes dos diferentes aspectos históricos e arquitetônicos da Igreja. “Essa formação foi visando a nós mesmos como comunidade, para aprendermos mais sob este enfoque do templo como patrimônio, e também para nós transmitirmos para as outras pessoas. Foi uma experiência muito gratificante ver as crianças e os adultos despertar o interesse pelo lado cultural e artístico”, fala.