O novembro marca não somente a morte do líder quilombola pernambucano Zumbi dos Palmares, no dia 20, do ano de 1695. Neste mesmo mês, uma outra tragédia também ficou assinalada na história da negritude gaúcha: o massacre dos Lanceiros Negros, soldados da Revolução Farroupilha, que lutavam pela promessa de liberdade. O episódio de 14 de novembro de 1844 ocorreu às vésperas do fim do conflito.
Até hoje envolto em suspeitas de traição, o massacre de Porongos pôs fim a um aceno de liberdade que fomentou a saga dos Lanceiros Negros, formado por homens escravizados agrupados em um batalhão liderado por David Canabarro, um dos generais dos farrapos.
Na região chamada Cerro dos Porongos, onde está o município de Pinheiro Machado, ao menos 100 Lanceiros Negros foram assassinados pelos soldados do Império. Depois de quase dez anos de lutas, desde 1835, o levante chegava ao fim com a iminente derrota dos líderes farroupilhas, que naquele período negociavam a rendição.
Tese e controvérsia
Entre os historiadores há controvérsias sobre as causas da chacina. Os dados históricos apontam para a tese de que Canabarro traiu os seus soldados negros, tramando com o Barão de Caxias, líder do exército imperial, um acordo. Porongos teria sido o local escolhido para o ato final da saga dos Lanceiros.
Avisado da estada da tropa farrapa naquela região, Caxias teria enviado uma guarnição liderada pelo militar Francisco Pedro de Abreu, o Moringue. Um dia antes, foram retiradas as armas de fogo da infantaria, restando as armas brancas, o que facilitou a derrota.
O professor e historiador Vinicius Pereira de Oliveira comenta que a polêmica surgiu alguns anos depois do fim da Guerra dos Farrapos, quando foi revelado o conteúdo de uma carta enviada pelo Barão de Caxias ao Moringue, orientando o dia e o horário, no meio da madrugada, do ataque à tropa de Canabarro, pois os soldados estariam desarmados. “Esse documento foi questionado por supostamente ser uma cópia, porque não teria sido escrito de próprio punho pelo Caxias, somente assinado, e que poderia ter sido feita uma falsificação da assinatura”, esclarece.
Segundo o professor naquela época havia um funcionário que fazia os documentos para esses grandes líderes do estado. “De fato a assinatura do Caxias confere. Então o documento é autêntico”, sustenta Oliveira.
O historiador acredita na tese da traição e diz que há vários indícios que tornam verossímil a teoria do massacre. O principal deles era a promessa de liberdade aos soldados negros. O Império não aceitava a alforria desses homens e temia que essa fosse uma centelha de revoltas ainda maiores dos escravizados.
Novamente escravizados
No dia 26 de novembro, em uma nova batalha, acontece outra chacina dos remanescentes dos Lanceiros. Este evento também vitimou o oficial revolucionário Joaquim Teixeira Nunes, o Gavião.
Os soldados negros sobreviventes dos dois combates foram aprisionados. Entregues ao Império, novamente na condição de escravizados, rumaram para o Rio de Janeiro.
Sobre a origem desses soldados negros, o professor conta que não se tem detalhes específicos, mas alguns foram tomados à força de locais como as charqueadas de Pelotas, por exemplo. Outros, talvez, foram seduzidos pela ideia de receber liberdade ao final do conflito. O historiador também lembra de um expediente dos próprios farroupilhas que enviavam os escravizados para a guerra no lugar de seus filhos.
Luta contra invisibilidade
Para o professor o momento atual é de bastante visibilidade sobre os eventos de Porongos, mas o que ser estudado ainda. “A sociedade deve se apropriar dos nomes de muitos desses lanceiros, saber das histórias deles, alçá-los ao lugar de heróis. Sabemos o nome de tantos farroupilhas, mas dificilmente alguém sabe o de algum desses Lanceiros Negros. Temos o desafio de avançar na luta contra essa invisibilidade”, comenta.
Mas Oliveira percebe que seus alunos estão mais atentos a essa história. “Esse tema tem aparecido em produções audiovisuais e nos desfiles de 20 de setembro, em grande parte pelo protagonismo do Movimento Negro, também pelo trabalho dos historiadores negros e não negros”, diz.
Fontes: Os Escravos que lutaram em troca de liberdade, de Guilherme Justino (https://www.ufrgs.br/ensinodareportagem)
Há 50 anos
Senac inaugura novas instalações na rua Dom Pedro II
O 18 de novembro de 1974 marcou a inauguração das novas instalações da rua Dom Pedro II, 901, do Senac de Pelotas. Com o prédio remodelado, o antigo Ginásio Comercial passou a atuar como Centro de Formação Profissional.
Este foi o quarto centro de formação construído pelo Senac no Estado. Na época a entidade atendia as seguintes áreas profissionais: Administração, Comunicação e Secretariado, Higiene e Beleza, Hotelaria e Turismo, Propaganda e Vendas.
Fonte: Diário Popular/Acervo Bibliotheca Pública Pelotense
Há 100 anos
Moradores pedem mais cuidados com a praça Piratinino de Almeida
Membros da comunidade pediam à intendência (prefeitura) maior cuidado com a praça Piratinino de Almeida. As reclamações eram sobre a falta de flores nos canteiros e de bancos para descanso entre as árvores.
O terreno, onde hoje está a praça, foi comprado pela Santa Casa, de acordo como registro de imóveis, em fevereiro de 1882, de Francisca Tassis de La Mazza, Evaristo Simões Lopes e sua mulher Amália Farinha de La Mazza. A descoberta do pesquisador Adão Monquelat está registrada no livro As praças de Pelotas e suas histórias – Século 19 (editora Livraria Mundial, 2015).
A publicação retificou a informação incorreta, levantada pelo escritor pelotense Alberto Coelho Cunha, de que o terreno tinha sido comprado em 1898. A suspeita de Monquelat sobre o equívoco, era originada do fato de que para ser instalada a Caixa d’Água, a Santa Casa de Misericórdia precisou autorizar a construção. “Logo a instituição tinha posse do imóvel desde, pelo menos, aquele período”, comentou Monquelat no artigo.
A Caixa d’Água foi construída em 1875 com elementos pré-fabricados de ferro. Em 1984, o depósito de água foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
A obra de Monquelat ainda relembra que a praça foi chamada inicialmente de da Caridade e depois de Silveira Martins, patrono substituído por Piratinino de Almeida.
Fonte: A Opinião Pública/Acervo Bibliotheca Pública Pelotense