O descobrimento de um grande campo de petróleo do outro lado do oceano Atlântico, na África, voltou os olhos do setor petroleiro para o potencial que há no litoral Sul do Brasil. Em apenas um dos poços encontrados na Bacia de Orange, na Namíbia, há uma reserva equivalente a 1,7 bilhão de barris de óleo. Diante da semelhança na formação geológica entre as duas costas, a descoberta acendeu um alerta para o potencial que há na Bacia de Pelotas.
Com aproximadamente 40,9 mil quilômetros quadrados de área, a Bacia de Pelotas abrange a costa de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e parte do Uruguai. Recentemente, em setembro, 26 blocos localizados na região Sul do Estado foram concedidos para a exploração de gás e petróleo pela Petrobrás em parceria com a Shell.
Porém, a bacia ganhou mais atenção a partir da indicação de que ela tem as mesmas características da área da Namíbia. Isso em razão da formação geológica ocorrida há mais de 250 milhões de anos ainda no grande continente Gondwana, um conglomerado com todos os continentes do hemisfério Sul. “As semelhanças geológicas entre as bacias de Pelotas e a de Lüderitz e Orange (costa Oeste da África) são grandes, possuem uma mesma história evolutiva”, diz o professor especialista em Geologia do Petróleo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Giovani Cioccari.
O potencial da semelhança
Em alusão ao comparativo que tem sido feito entre o litoral Sul brasileiro e africano, Cioccari relembra que na época da descoberta do pré-sal, quando foram encontrados mais de 15 bilhões de Barris de Óleo Equivalente (Boe), anos mais tarde descobertas semelhantes também foram feitas no lado africano. “Onde as empresas aproveitaram das semelhanças geológicas e do aprendizado brasileiro para aplicação nas suas bacias”.
Com isso, Cioccari ressalta que há o entendimento que em bacias análogas – com evolução geológica semelhante -, quando há petróleo de um lado, provavelmente também há no outro. “Contudo cabe ressaltar que a geologia necessariamente não faz com que modelos geológicos funcionem da mesma maneira, necessitando bastante estudo para conhecimento dos sistemas petrolíferos da bacia”, adverte.
Mais de uma década para a verificação
Entre as várias etapas que envolvem a exploração estão a sísmica e posteriormente a perfuração de poços em alvos exploratórios para a verificação do real potencial da Bacia de Pelotas. Processo que o professor estima que pode levar cerca de 12 anos para ser efetuado para a partir de então dar início a exploração. “O tempo para adquirir este conhecimento é grande, isto é, não basta descobrir hidrocarbonetos, deverá ter valor comercial para exploração”.
Além disso, o professor acrescenta que a Bacia de Pelotas tem uma característica geológica que até então não é observada no lado africano, que é a presença da Bacia do Paraná preservada como embasamento decorrente da evolução geológica do Atlântico Sul, resultado da ruptura supercontinente Gondwana. “Esta bacia possui algumas formações geológicas que são consideradas rochas geradoras de óleo e de gás, trazendo um grande potencial alternativo de reservas para a bacia”.