Na manhã de quinta-feira, Lívia Lacerda deu um exemplo de força e resistência que meninas de 12 anos não deveriam precisar ao ler em público uma carta relatando o que ela havia passado.
A menina, jogadora de futsal do time Princesas do Sul, foi, junto de suas colegas, alvo da vileza do machismo enquanto a equipe, única feminina do campeonato de domingo, sofria os mais absurdos xingamentos e ataques de homens adultos, que deveriam dar exemplo às crianças em quadra. Sim, as meninas foram para a final jogando contra uma equipe masculina.
“Eu queria esquecer aquele dia. Estranho, eu, uma criança, querendo esquecer um dia que seria o melhor da minha vida, mas eu nasci mulher e senti ao vivo a discriminação de ser uma mulher. Minha equipe foi agredida com palavras e atos machistas vindos da equipe adversária, jogaram água na gente, nos chamaram de lixo, disseram que era para estar em casa lavando louça, mal sabem eles que ajudo minha mãe e lavo louça. Mas eu queria estar ali, eu posso estar ali sempre que eu quiser”, disse Lívia.
É horrendo que em pleno 2024 meninas de 12 anos precisem passar por isso, sem que nenhum adulto – seja da Guarda Municipal, seja da arbitragem – interviesse para expulsar do ginásio os agressores.
Somos tentados a classificar esses agressores como monstros, mas não é isso que eles são: são homens adultos que se sentiram autorizados a agredir verbalmente crianças. São homens adultos que, torcendo por seus filhos meninos, ensinam que é aceitável menosprezar o papel de uma mulher e que o esporte é um ambiente agressivo, em que não há espaço para as meninas.
É vergonhoso, enquanto sociedade, testemunhar essas agressões. Não se pode permitir esse tipo de postura publicamente e de forma impune. Em seu discurso, Lívia mostrou sua grandeza, sua resiliência e, do alto dos seus 12 anos, pôs imaturos homens adultos em seus devidos lugares. Que ela e suas colegas sejam as últimas a precisar passar por isso.